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Denver, Colorado.
Sexta-feira, 08 de dezembro de 2016.

Batuco os dedos apreensivos sobre a coxha enquanto ele me analisa esperando minha resposta. O silêncio preenche a sala e eu mordo o lábio inferior de forma nervosa.

"Você acha que está com síndrome de estocolmo, Harry?" O Dr. Alessandro repete a pergunta que me fez há segundos atrás e eu solto um suspiro longo.

No último mês, eu passei por cinco psicólogos. Fiz uma consulta experimental para tentar encontrar alguém que de fato pudesse me ajudar.

Cassie, a primeira, que foi indicação de Carmen, começou me perguntando sobre a minha empresa. O que eu achei totalmente desnecessário, sendo que a minha vida profissional não está em questão no momento.

Natan, o segundo, parecia um maníaco que ficou me olhando por um tempo exagerado, e ficamos em silêncio por um cinco minutos até ele se manifestar com: pode começar a falar.
A primeira e única coisa que eu disse foi: preciso ir embora.

Com Vera, estava indo tudo bem até ela me julgar completamente por ter me envolvido com Louis, e eu não pago por uma consulta caríssima para ser julgado.

Leonel parecia mais interessado no caso do que em tentar me ajudar, e eu nunca mais voltei.

Até encontrar o Dr. Alessandro, um senhor mais velho, grisalho e gordinho, com quem eu tive uma conexão mais genuína. Ele não me força a falar, ele deixa que eu me expresse, ele permite que eu seja sincero sem julgamentos, e além disso, ele me transmite uma paz que eu estava precisando em meio ao caos que tem sido a minha vida.

"Sim." Admito. "Acho que uma parte pode ser sim síndrome de Estocolmo."

"Que bom que você consegue admitir isso em voz alta, Harry, já que nós dois sabemos que isso é um fato. Você está com síndrome de Estocolmo." Ele diz com a voz calma e baixa enquanto me olha. "Percebo que você ainda não consegue enxergar com clareza o perigo que você enfrentou e nem as coisas que Louis fez. Você ainda tem uma relutância em aceitar que ele te roubou e te aprisionou… e precisamos trabalhar nisso para entender o que há a mais por trás desse envolvimento. Precisamos separar e compreender o que é a síndrome, o que é dependência emocional, e o que é paixão, se é que existe de fato. E pra isso, nós precisamos fragmentar tudo para entender o que aconteceu, e o que acontece dentro de você."

Concordo com a cabeça de imediato porque sei que passei muito tempo confuso entre o limbo do consciente e do inconsciente e preciso disso para tentar entender as minhas emoções.

"Você entende que ele é ladrão? Que ele te roubou 300 mil dólares?" Ele pergunta com uma certa cautela.

"Entendo." Concordo com a cabeça. "E também sei que ele teve motivos."

"Harry, os motivos não importam. Não tente justificar." Ele pontua com a voz mais firme. "Você precisa entender com clareza que ele te roubou e ponto. O que levou ele a fazer isso já é outra história. Eu quero que você me responda se você entende que ele te roubou."

"Sim." Engulo em seco.

"E entende que ele te chantageou, ameaçando a sua privacidade?"

"Sim." Respondo mais baixo.

"Você entende que você poderia ter tido a sua intimidade exposta para qualquer pessoa?"

"Sim."

"E que ele te levou como refém para benefício próprio?"

"Sim."

"Você entende também que ele usou você para finalidades que só privilegiam a ele?"

"Sim."

EXTORSIONÁRIO [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora