EXTORSIONÁRIO [L.S]

39

Denver, Colorado.
Março de 2019.

Eu não sei ao certo se o tempo se desacelera ou se tudo passa tão rápido a ponto de me tirar o fôlego. Eu não ouço nada além dos meus batimentos cardíacos: fortes e descompassados. Meu sangue parece ter subido para a minha cabeça e eu tenho a sensação de que a minha pressão sanguínea aumentou drasticamente.

Ele desvia os olhos tão rapidamente dos meus que de certa forma eu sinto um impacto, sentindo meu peito doer. Ele volta a caminhar até a mesa, sendo acompanhado do garçom e olha fixamente para os pratos, enquanto um breve e pequeno sorriso sem graça surge em seus lábios.

"Esse é o nosso chefe. Troy." O garçom diz parecendo orgulho.

Eu não desvio os olhos dele nem por um segundo que seja. Ele é idêntico a Louis. A única coisa que difere é o cabelo comprido e a barba aparada adornando o seu rosto.

Eu devo estar alucinando ou a pouca luz está me fazendo enxergar coisas, mas eu posso jurar que estou vendo Louis em carne e osso bem em minha frente.

"Troy?" Eu sopro com a voz falhada.

Não obtenho resposta. Ninguém além de mim parece compreender a gravidade das coisas. Eu pareço olhar a cena de fora, por cima ㅡ como se eu não estivesse vivendo isso, e sim observando como um mero espectador.

Minha respiração está descompassada e eu só quero tocá-lo de alguma forma para comprovar que ele é real e não apenas uma miragem que meu cérebro está projetando em alguém.

Os olhos dele não voltam aos meus e eu praticamente imploro por telepatia para que ele olhe para mim.

"A comida está deliciosa." Brian diz parecendo inerte ao meu desespero. "Gostaria de te parabenizar."

Eu mal escuto o que ele diz, estou ocupado demais analisando o rosto à minha frente. Ninguém é tão parecido assim. Ninguém pode ser tão idêntico. Não podem existir dois Louis da mesma forma, com os mesmos traços, as mesmas feições. Não é possível.

Seus cílios piscam rapidamente quando ele ergue o olhar para Brian. As mãos, ele enfia nos bolsos da frente da calça jeans quando dá um aceno de cabeça sutil.

"Eu agradeço." Ele diz e eu estremeço na cadeira.

A voz.

A voz também é idêntica à que eu me lembro em minha memória, apesar da maneira de falar ser diferente. Louis não agradeceria assim. Ele não falaria com esse tom de voz tão baixo e tão contido.

"Troy?" Repito completamente incrédulo. "O seu nome é Troy?"

Olhe para mim. ㅡ Eu imploro por pensamento. Por favor, apenas olhe para mim.

E ele olha… tirando todo o meu fôlego mais uma vez. Seus olhos azuis me queimam e eu preciso me lembrar de como respirar.

"Sim." Ele responde de forma seca e rápida.

Nego com a cabeça enquanto seu olhar ainda está preso ao meu. A euforia me inunda ao cair em mim de que Louis está bem em minha frente. Olho para os seus braços cobertos pelas mangas da camisa e volto a olhar no seu olhar.

"O seu nome não é Troy." Digo convicto.

"Perdão?" Ele me encara parecendo me desafiar, mas eu não recuo.

Eu conheço muito bem esse olhar.

Meu coração acelera e parece querer explodir no meu peito quando constato:

"O seu nome não é Troy, porque o seu nome é Louis."

Seu semblante vacila por um breve segundo enquanto ele permanece me encarando. Percebo que sua respiração se desregula, assim como seu peito que começa a subir e descer numa velocidade notável. Ele nega com a cabeça rapidamente e franze as sobrancelhas em minha direção.