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Dever, Colorado.
Quinta-feira, 21 de outubro de 2016.

A paixão é mesmo um mistério. 

Alguns acreditam que ela seja uma doença que te arranca os sentidos e te deixa inerte a qualquer perigo. Outros, no entanto, dizem que ela é o sopro de vastidão em uma vida vazia. 

Eu prefiro acreditar que ela seja a inconsciência, o perigo, a aventura. O frio na barriga que não passa, a sensação de impotência diante dos próprios sentimentos, a pitada de utopia em meio à realidade. 

Inconsequente.
É isso que eu estou sendo ao me deixar levar por um sentimento que sei que é imprudente e absurdo, e que nem ao menos sei se é correspondido.

Seis dias.
Seis dias foi tudo o que levou para eu me deixar ser guiado pelas minhas emoções menos irracionais. Seis dias que tudo o que me rodeia é Louis. Seis dias que eu não me reconheço mais.

Perambulo entre a racionalidade e o ilógico e estou ciente o suficiente para saber que não estou ciente de nada.

Quando voltamos para a cabana, não me contive em pensar sobre tudo o que tem acontecido. Em como eu estou me jogando na jaula dos leões sem ter nenhuma arma para me defender.

E mesmo se eu tivesse, não é uma briga justa. Eu perco de qualquer forma.

Um lampejo de luz é o necessário para encantar aquele que está na escuridão. E Louis é o meu lampejo de luz, por mais breve que seja.

Saio do banho e me visto com uma roupa dele ㅡ até disso ele se apossou. Eu não tenho mais roupas, não tenho sapatos, não tenho casa. Ele me tirou tudo, e o pior disso tudo, é que eu permitiria que ele me tirasse pelo resto da vida se o pagamento fossem seus beijos, a sua voz e o seu toque.

A verdade é que: o pouco dele, me parece muito. Afinal, pouco é muito para quem nunca teve nada.

Sei que nossa história tem uma data para terminar, e mesmo assim, gostaria de prolongá-la o máximo que eu puder.

Quando volto para sala, vejo Zayn fumando distraído no colchão escorado na parede enquanto joga uma espécie de jogo num celular cuja tecnologia é duvidosa. Me sento no sofá de frente a ele e noto Louis sentado mais distante na cadeira em frente ao computador. Seu semblante está fechado e sei que ele possivelmente está pensando em algo ou tendo alguma crise de bipolaridade. Seja o que for, eu não ouso interromper.

"Você deveria tomar um chá quente." Zayn diz distraidamente sem me olhar. "Se não quiser adoecer."

"Tem chá aqui?"

"No armário." Ele diz e ergue o olhar. "Chá você sabe fazer, não sabe?"

"Sei." Solto uma risada baixa. "Não sou tão imprestável assim."

Me levanto e vou até a cozinha para esquentar água em um bule velho e enferrujado que provavelmente me causará tétano. Seria cômico se não fosse trágico morrer justamente de tétano quando tive tantas outras formas mais fáceis e rápidas de morrer nos últimos dias. Busco o chá no armário e coloco o sachê em um dos copos, mas quando estou virando a água fervente, ouço a voz de Louis distante no celular.

"Olá, Hilton. Como estão as coisas?" Ele diz e eu não me viro, mas fico de ouvidos atentos.

Ouço os seus passos pela sala até ouvir a porta da cabana batendo. Me viro e vejo que Louis foi falar ao telefone do lado de fora. Olho pela pequena janela de vidro em cima da pia e observo seu corpo se afastando enquanto ele caminha entre as árvores falando ao telefone. Aproveito a oportunidade e volto para a sala com o copo de chá na mão.

EXTORSIONÁRIO [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora