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Denver, Colorado.
Segunda-feira, 25 de outubro de 2016.

Reportagem: O advogado e empresário Harry Edward Styles foi encontrado na manhã desta segunda-feira em um posto de gasolina na rodovia 46 em Edgewater. O empresário estava desaparecido há onze dias, desde que foi levado como refém após um assalto que ocorreu em sua residência. Styles foi encaminhado para o hospital devido a um ferimento de bala no braço, mas segundo informações, ele passa bem. A polícia não divulgou mais informações sobre os suspeitos e nem sobre a libertação do advogado. As investigações permanecem em sigilo policial.

Desvio os olhos da televisão pendurada na parede e afasto a bandeja de comida, já que meu estômago parece revirar. Meu braço, agora enfaixado, ainda lateja, mas dentre todas as coisas, isso é o que menos me incomoda agora.

Ainda não consigo raciocinar direito e desde que Louis me deixou na estrada, minha mente parece um eterno borrão, onde tudo o que escuto são os disparos e os pneus do carro. Não me lembro por quanto tempo eu fiquei deitado na grama até me levantar e caminhar como ele pediu que eu fizesse; mas posso jurar que levou uma eternidade.

Eu quis perpetuar aquele momento, eu recusei dar espaço para o adeus, eu me agarrei na esperança de que ele voltasse. Mas, eventualmente tive que aceitar que dessa vez, ele não ia voltar.

Fui trazido para o hospital da cidade assim que fui achado, e sei que a qualquer momento a polícia me procurará para pegar o meu depoimento.

"O senhor precisa comer." A enfermeira que tem me dado medicação e tem me acompanhado de perto diz ao meu lado enquanto ajeita a dosagem da medicação no soro, me tirando dos meus devaneios. "O senhor passou por muita coisa e precisa se alimentar bem para se recuperar."

Se ela apenas soubesse…

"Meu estômago está embrulhado." Digo com convicção, mesmo sabendo que o real motivo pelo qual eu não quero comer é por falta de apetite.

A tristeza causa isso!

Ainda não assimilei as coisas, e ainda estou tão em choque a ponto de não entender bem os meus sentimentos. É um misto de tantas coisas que agora eu não passo de uma completa confusão.

Eu não quero experimentar outra comida que não seja a dele. Ainda quero manter essa lembrança viva dentro de mim, mesmo sabendo que irei esquecê-la com o tempo.

"Você quer um remédio para enjôo?" Ela insiste, me olhando.

"Não. Obrigado." Respondo rápido. "Mais tarde eu tento comer."

"Tudo bem." Ela concorda com a cabeça. "Se precisar de alguma coisa, é só apertar o botão."

Ela aponta para o pequeno aparelho com um botão vermelho na ponta ao lado da cama e eu concordo com a cabeça.

"Ei." A chamo antes que ela se vire. "Você tem ideia de quanto tempo eu vou ficar aqui?"

"O ferimento não é grave. Pegou de raspão. Acredito que até amanhã à noite o senhor será liberado. No mais tardar, quarta-feira." Ela diz e eu assinto rapidamente.

Ela sai do quarto instantes depois e eu fico sozinho novamente. Tento entender tudo o que aconteceu, mas não sei ao certo por onde começar. Me lembro vagamente de estar andando na estrada com o braço recolhido na barriga enquanto minhas lágrimas caiam no asfalto. Lembro de avistar o posto, dizer meu nome e tomar um copo d'água. Depois me lembro de ouvir a sirene da ambulância e chegar ao hospital.

Me atenderam tão rápido por causa de um tiro de raspão, mesmo eu sabendo que existem pessoas que ficam em filas por muito tempo com coisas muito piores que isso, e finalmente entendo o que Louis quis dizer a respeito do dinheiro.

EXTORSIONÁRIO [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora