Deixe Entrar

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A claridade branca ofuscante causou certo desconforto contra as pálpebras de June, o que a fez acordar e abrir os olhos muito lentamente, para se acostumar a luz.

Assim que ficou um pouco mais alerta, June percebeu que se encontrava entre Sebastian e Magnólia, como se fosse o recheio de algo. Um dos braços de Bash estava apoiado sobre ela e alcançava o corpo da cortesã, que se aninhada contra June. Embora a curandeira soubesse que aquilo era apenas para manter o calor corporal, não pôde evitar de se sentir um pouco constrangida pela proximidade de Bash, afinal, ele era um homem. Já tinha o visto nu várias vezes para poder afirmar tal fato.

June se ergueu, sentando-se, o que acabou por acordar Bash. O familiar abriu os olhos, revelando suas íris laranjas e as pupilas finas felinas. Um sorriso preguiçoso esticou os lábios finos e pálidos de Sebastian.

– Bom dia, rabugenta.

Ela quase sorriu ao ouvir aquilo. Bash sendo irritante com June a fazia se lembrar de tempos mais simples, quando o castelo ainda existia sobre sua cabeça.

– Como estão seus ferimentos, Bash? – ela quis saber, verdadeiramente preocupada.

Bash se apoiou sobre suas pernas e se virou, erguendo a camisa que usava, mostrando parte de seu dorso, onde antes havia uma área rasgada de pele pela bala. Agora, tudo o que havia eram restos do emplasto de June, mas nada do ferimento.

– Obrigado pela gosma nojenta que você passou na minha pele – Bash fez uma careta.

June espelhou a expressão retorcida.

– Eu tentei te ajudar, seu desgraçado.

– O que está acontecendo? – Magnolia havia despertado também. O rosto ainda exibia sonolência e suas mechas escuras estavam levemente desalinhadas. Magnolia era uma mulher bonita, o tipo de mulher que tinha traços muito atraentes, como pele lisa cor de creme, lábios fartos, maçãs do rosto proeminentes e nariz sutilmente arrebitado.

– Bash está sendo um idiota, como sempre – June resmungou.

– Afinal, como conseguimos fugir dos soldados? – Bash franziu o cenho, os olhos vagando hora para June, hora para Magnolia. – A última coisa da qual me lembro é de ser perseguido por soldados e alvejado por tiros de armas de fogo.

– Magnolia se mostrou uma hábil guerreira e matou os dois soldados que perseguiam você. – June explicou, encarando fixamente a cortesã.

Magnolia se encolheu minimamente, exibindo traços de timidez. June achou extremamente espantoso. Jamais poderia pensar que uma prostituta pudesse ficar constrangida daquela maneira, considerando o que seu trabalho exigia. Mas, apesar de tudo, elas ainda eram simplesmente humanas, com sentimentos tipicamente humanos.

Bash olhou para a cortesã com certa admiração, embora não quisesse demonstrar.

– Onde está o mapa? – o familiar perguntou, olhando diretamente para June.

A menina tirou o pedaço de papel enrolado de dentro de seu casaco e o entregou a Bash, que prontamente o desenrolou, apoiando o no chão, mantendo-o aberto com as duas mãos.

– Como eu imaginava, estamos mesmo em território boêmio. – Bash emitiu um estalo com a língua – Mais ao norte de onde nossa casa costumava ficar. E então? Para onde vamos à seguir? Não podemos ir para a direção de nossa antiga casa, porque ela não existe mais.

Um silêncio denso se instalou entre Bash e June. Contemplar tudo aquilo que perderam tão bruscamente era doloroso demais. Não tinham para onde ir e isso fazia com que June se lembrasse de quando morava nas ruas, depois que perdera sua mãe e não conseguia mais enxergar perspectiva alguma em sua vida, que não fosse mendigar comida, vender chás e ervas medicinas à um preço baixo apenas para que não passasse fome.

O FeiticeiroTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang