O Início da Convergência

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Bulaklak adentrou o quarto depois de mais ou menos dezoito horas desde o ataque de Ellie. Agora, ela estava deitada na cama, totalmente encolhida, abraçando as próprias pernas. O cômodo ainda permanecia congelado, as estacas no teto e nevava levemente, tanto que a superfície de Ellie estava coberta por uma fina camada de neve acumulada.

Dimitri veio voando por perto e pousou na mesinha de cabeceira que tinha ao lado da cama, ele deu alguns pulinhos no lugar com seus olhos focados na menina.

– Vermelho! Vermelho!

O duende se aproximou, escalando a cama até sentar-se ao lado da menina. Havia uma fina camada de geada no rosto dela, onde antes haviam lágrimas. Também tinha flocos de neve minúsculos em seus cílios e presos nos cachos ruivos de seu cabelo.

– Ellie. Está tudo bem?

Os olhos dela se abriram como duas flores desabrochando, mas ela não os focou em Bulaklak.

– Não, não está, Bulaklak. Eu perdi a ligação que tinha com a pessoa que eu mais amo na vida. Eu perdi. Mas não é só isso, eu precisava dessa ligação, precisava dela para ser forte e, agora, eu não a tenho mais, ela se foi, eu posso sentir. É como se... estivesse oca por dentro.

Bulaklak esticou seu pequeno bracinho e acariciou os cabelos da menina. Ali estava muito frio e sua pele estava arrepiada, a respiração se condensava à frente de seu rosto. Ellie estava substancialmente gelada, mas não parecia estar particularmente afetada por isso.

– Quando a vi pela primeira vez naquela floresta, você possuía essa ligação?

Ellie fungou e focou sua atenção nele.

– Bem, eu já tinha feito o pacto, mas... Não. A ligação só aconteceu quando Minerva fez um ritual para revelar minha verdadeira essência. Foi a partir dai que... Minha alma e a de Vincent se tornaram conectadas. Mas o que isso importa?

– Importa porque, a garota que eu conheci aquele dia, que gerou um incêndio na floresta e que me prometeu que o apagaria, era extremamente forte. Não são todas as pessoas que podem sobreviver naquela floresta sozinhas e, eu sei, naquela época você não tinha acesso aos seus poderes como Fonte. Você é uma mulher corajosa, Ellie, eu sei. E é uma pessoa inteira. Eu sei que o ama, mas não precisa de Vincent de verdade.

Ela se sentou e um pequeno sorriso se formou em seu rosto. Seus olhos estavam marejados novamente, mas ela não derramou lágrimas dessa vez.

– Obrigada, Bulaklak. Isso foi muito lindo.

Dimitri voou para a coxa de Ellie e bateu suas asas negras.

– Vermelho! Vermelho!

Ellie acariciou as penas do pescoço do corvo e a ave pareceu satisfeita.

– Eu não sei o que teria acontecido comigo se não fosse por vocês dois – Ela sorriu e puxou Bulaklak para abraça-lo e afagou o corpinho frágil de Dimitri com cuidado.

Niara se lembrava, como se fosse ontem, de seu menino sentado em frente a lareira com um passarinho ferido em suas mãos. Ele balbuciou um feitiço, sussurrou e, delicadamente, passou um dedo pela asa quebrada do pássaro. Um momento depois, a ave se ergueu sobre a mão de Maximus e saiu voando pela sala, saindo pela janela.

Maximus sorriu. Sempre foi especialmente dedicado a magia, principalmente aquela relacionada a cura. Era um menino tão doce, tão tímido, tão amigável. Em que momento ele se tornara um adulto tão frio, tão egoísta e ambicioso?

Ela se lembrava de ver outros olhos no rosto dele, mais castanhos, diferentes, olhos que focavam nela, olhos que enxergavam de verdade e que não eram cegos.

O FeiticeiroWhere stories live. Discover now