A Maldição da Lua

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Dante estava a caminho da cozinha, após terminar os estudos com Eleanore, quando ouviu um soluço vindo de um dos quartos, soava como um choro.

Ele deu duas batidas fracas na porta, mas não recebeu qualquer resposta. Então, devagar, abriu a porta e, logo em seguida, teve que desviar de um livro que veio de encontro ao seu rosto desprotegido. Assim que saiu do caminho, o livro atingiu a parede e caiu inofensivamente no chão.

Novamente, Dante ergueu o olhar e encontrou aquela menina, June, sentada encolhida sobre a cama. Seus cabelos, sempre presos em uma trança, agora estavam soltos, as ondas castanhas caídas por seus ombros. Os olhos estavam vermelhos e inchados, certamente por causa do choro, mas agora seu rosto estava congelado em uma expressão furiosa e selvagem.

– A senhorita está bem? – Dante perguntou cortesmente.

– Não. Agora, me deixe em paz. – ela praticamente rosnou, aborrecida.

Dante soltou o ar e adentrou o quarto, fechando a porta atrás de si. June mirou os olhos no aprendiz, um olhar assassino que o fulminava.

– O que você pensa que está fazendo? – ela bramiu – Se chegar perto de mim, eu te mato.

Ele riu e ergueu as mãos em sinal de rendição, sem sair do lugar, permanecendo seguramente perto da porta, tanto para sua própria proteção quanto para acalma-la.

– Acalme-se, senhorita June. Eu só quero te ajudar.

June limpou o rosto de forma furiosa e virou-se, a fim de fugir do olhar de Dante.

– Nem você e nem ninguém pode me ajudar.

– Uma moça tão bonita e tão jovem não deveria estar sofrendo dessa forma. Posso perguntar o que te aflige tanto assim? – o aprendiz falou calmamente, em tom dócil e amigável, ainda mantendo-se afastado.

A menina focou sua atenção nele e estreitou seus olhos. Ela suspirou e escorregou pelo colchão, até alcançar a borda e ficar em pé. Porém, continuou perto da cama, trocando o peso de perna, parecendo desconfortável.

– Acha que sou bonita?

Dante ergueu uma das sobrancelhas e sorriu, olhando para o lado, para o espelho ovalado que tinha em um pedestal no canto. Ele apontou para o objeto com o polegar, encarando June.

– Mas é claro. Você tem um espelho no quarto, já deveria saber.

June desviou o olhar e corou levemente. Ela começou a alisar, distraidamente, uma das mechas de seu comprido cabelo castanho.

– Então, por que não tenho os sentimentos correspondidos? – ela falou tão baixo, que Dante teve certeza de que ela esperava que ele não tivesse ouvido, mas ouviu. June ergueu novamente o olhar para Dante e soltou o fôlego. – Obrigada, Dante.

– Ao seu dispor, senhorita June.

Vincent se virou, deixando uma Dahlia chorosa e muito assustada as suas costas, encarando aquela pessoa e aquele rosto que um dia lhe foram tão familiares, mas que agora só lhe causavam estranheza e mágoa. Aqueles olhos castanhos cheios de um brilho astuto e malicioso, não eram os mesmos os quais Vincent estava acostumado, estes podiam enxergar.

– Como você podia saber que eu viria? – Vincent perguntou, verdadeiramente curioso.

Mesmo o feiticeiro tinha tomado a decisão de ir para o Garten minutos atrás, seria impossível que Maximus soubesse, ou mesmo que Dahlia tivesse contado, considerando que ela soou bastante surpresa ao vê-lo destruindo seu bordel.

– Vejo que continua sendo uma pessoa explosiva, Vince – Maximus olhou ao redor, para as chamas esverdeadas que consumiam as cortinas, que destruíam o papel de parede e chegavam até as vigas de madeira do teto. Logo, não restaria mais Garten. – Você é extremamente previsível, foi assim que eu soube que você viria.

O FeiticeiroWhere stories live. Discover now