O Preço da Magia

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Naquela dia, Eleanore sonhou novamente com aquela garota agachada na beira de um lago escuro, cantando uma canção com sua bela voz, como o canto de um anjo saído do céu.

A menina se levantou, virando-se na direção dela. Seus cabelos castanhos brilhosos caiam por suas costas feito uma capa. Ela usava uma longa saia vermelha, uma blusa branca, corpete preto e por cima um casaco azul escuro; preso à sua cintura estava um cinto dourado repleto de medalhinhas, além de brincos igualmente dourados.

Ela tinha olhos castanhos penetrantes, hipnóticos de uma forma que era impossível de desviar o olhar, profundos como o oceano. Sua pele tinha um tom oliva, que realçava suas características castanhas e escuras. Ela era linda, tinha um tipo de beleza natural que atraia pela simplicidade e autenticidade de seus traços.

Aquela menina não parecia feliz em vê-la, sua expressão obscureceu e ela cessou a linda canção, privando-a de sua voz. Ela recuou, afundando as pernas nas águas no lago, deixando-as na altura de seu calcanhar, não ligando se sua saia se molhava no processo. Em um movimento rápido e brusco, ela tirou uma faca de dentro de seu casaco puído e a apontou para Eleanore de forma ameaçadora.

– Não chegue perto, ou irei lhe machucar – a menina assegurou seriamente.

Eleanore ergueu as mãos em rendição.

– Não vou fazer mal a você, não há necessidade de apontar essa faca para mim. – Eleanore sentia sua boca articular, mas a voz que saiu de sua garganta era a de Vincent.

– Outros homens já me disseram o mesmo, mas eles só sabem machucar, os desconhecidos que sabem o que sou e que me odeiam por isso. A maioria acabou sangrando, quer se juntar à eles? – A menina segurou a faca com mais força, os dedos ficando brancos.

– Entendo como é ser odiado por ser quem é.

Os olhos castanhos vivazes dela miraram Eleanore – ou Vincent –, olharam para ela como se a percebessem pela primeira vez.

– Por que você é tão... branco? Foi abençoado por um deus do inverno ou da neve?

A risada de Vincent escapou da boca de Eleanore.

– Não chamaria de benção.

O sonho mudou, tremeluzindo como se tudo não passasse de uma miragem, a imagem do lago, dos pinheiros e da menina sumiram. A cena que surgiu foi a de Maximus sentado em uma poltrona em frente à uma lareira, em uma sala luxuosa, cujos detalhes eram dourados, a decoração era em cores creme e vermelha, os móveis de madeira eram lustrosos e tudo estava impecavelmente limpo, quase brilhando.

Maximus sentava-se de forma altiva, como se aquilo fosse um trono e não uma poltrona, segurava em uma de suas mãos uma taça de vinho, e com a outra fazia carinho nas penas de uma coruja marrom rajada com vividos olhos amarelos. Parados em pé ao lado dele estavam um homem e uma mulher uniformizados, provavelmente empregados.

Na escuridão, onde a luz da lareira não chegava, haviam dois pares de olhos laranjas como chamas ardentes, mas não era possível identificar suas formas.

– Vocês sabem o que fazer – Maximus disse sem olhar para ninguém especificamente, seus olhos castanhos carregavam o brilho dourado da lareira.

As sombras dos olhos brilhantes se moveram na escuridão. "Como quiser, Mestre, faremos como o senhor ordena". A voz daquela criatura soava na mente dela, tinha um tom grave, como uma espécie de rosnado articulado e maligno. "Derramaremos sangue e mandaremos a sua mensagem. Não falharemos".

– É bom que não. – Maximus falou com gravidade – Quando Vincent ler a mensagem, ele fará alguma coisa. O maior defeito do meu irmãozinho é seu patético coração mole.

O FeiticeiroWhere stories live. Discover now