O Mais Poderoso Ser Mágico

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 Trinta dias haviam se passado. Agora, era difícil ver algum lugar sem neve cobrindo o chão, o telhado das casas, árvores despidas de suas folhas e a brancura cobrindo as agulhas dos pinheiros. O frio era penetrante, mesmo sob casacos grossos.

Mas mesmo o auge do inverno não era capaz de afastar o verde contido na cabana, com seu telhado forrado de grama e flores coloridas. As margaridas continuavam vivas, rodeando o caminho de pedras que levava até a porta da frente. Uma fumaça arroxeada saia da chaminé e tinha um cheiro doce, de ervas.

Um vento gélido agitou sutilmente o pesado casaco de Vincent e fez sua trança estremecer as suas costas. Ele encolheu os ombros, mas não exatamente pelo frio.

Vincent percorreu o caminho de pedra muito calmamente, exibindo uma calma que não sentia em seu interior. Suas pisadas ressoavam com um som úmido da neve. Ele alcançou a porta da frente depois de alguns segundos, ergueu sua mão enluvada, mas, antes que pudesse bater, a porta se abriu.

Ouviu, antes de ver, um bater de asas frenético e, logo em seguida, um borrão preto entrou em seu campo de visão. O corvo rodeou sua cabeça algumas vezes, deixando-o tonto, gritando "mestre, mestre, mestre!" sem parar. Até que pousou na mão que Vincent ofereceu e começou a dar bicadas afetuosas em sua bochecha e nariz.

– É bom saber que você está vivo, Dimitri. Eu fico feliz – Vincent sorriu.

– Pai! Pai! Pai! – ele grasnou, batendo as asas, exibindo toda sua felicidade.

Atrás dele estava Niara, com sua pele negra, os cabelos brancos em uma trança – fora ela quem ensinara Vincent a fazer uma. Fazia tempo que ele não a via, anos, mas ela não havia mudado nada, ainda tinha a mesma quantidade de rugas em seu rosto, que se evidenciaram quando ela sorriu para ele.

– Vincent! – Niara se aproximou e o abraçou, forte e apertado, exatamente como as mães faziam. Ele inalou seu aroma de ervas e terra e não pôde evitar de sorrir, o cheiro era tão familiar, lhe trazia tanta paz e sossego, sensações as quais queria desesperadamente se agarrar. – É tão bom vê-lo! Eu fiquei tão preocupada.

– Estou bem, mãe – ele lhe disse após solta-la – Onde ela está? Onde está Ellie?

Ellie estava próxima à um pequeno riacho que havia alguns metros nos fundos da cabana, apenas há alguns minutos de caminhada pelo bosque de árvores fechadas. Bulaklak estava ali com ela, sentado sobre uma raiz de árvore.

A ruiva estava treinando suas habilidades mágicas. Ela puxava a água para si com um movimento de mãos, dessa vez, um volume maior, capaz de preencher uma banheira inteira, então, ela o movia pelo ar, controlando sua direção. Abriu os braços, esticou os dedos e a água se transformou em várias estacas de gelo, que caíram novamente no riacho.

Tinha feito um enorme progresso com a água, mas nem tanto com o vento ou o fogo, estes ainda se mostravam bastante dificultosos para ela.

Como já estava há bastante tempo guiando a água, Ellie se ajoelhou no solo e passou sua mão sobre ele, fazendo com que a neve ao redor derretesse, abrindo um espaço de terra aparente que a circulava. Ela enfiou os dedos na terra gelada e se concentrou, alcançou todas as propriedades que estavam presentes naquele solo e as incentivou. Cresçam, ganhem vida, cresçam como estou pedindo.

E, literalmente em um passe de mágica, brotos começaram a emergir da terra, os caules verdes se desenrolando até se transformarem em pequenas mudinhas.

– Você está ficando realmente boa nisso, Ellie – Bulaklak elogiou.

Ellie suspirou.

– Mas não rápido o suficiente. Não poderosa o suficiente.

O FeiticeiroWhere stories live. Discover now