Memórias Trocadas

1.1K 128 22
                                    

Sebastian percebeu que havia algo de errado quando o rosto de Eleanore se contorceu, o cenho dela se franziu e a boca torceu para o lado, as sardas de seu rosto pareceram se agitar em sua pele. Ele pôde notar uma profunda agonia assolar a menina, seus olhos se arregalaram em completo horror.

Então, ela gritou, os vidros das janelas explodiram, assim como o dos frascos pousados sobre as prateleiras. Vincent ergueu os braços e aparou os cacos facilmente, deixando que eles caíssem no chão com um tilintar inofensivo.

Em seguida, as chamas lilases das velas aumentaram de uma forma preocupante, começaram a girar formando um sinistro tornado de chamas, que se elevou até o teto alto do castelo. O calor que invadiu o recinto chegou a pinicar a pele, causando um certo incomodo e fazendo brotar suor dos poros.

Minerva e Vincent tentavam conter aquele fogo enlouquecido, ambos entoavam feitiços diferentes, mas os dois estavam falhando miseravelmente em seu objetivo.

June desceu as escadas naquele segundo, perguntando o que diabos estava acontecendo, os olhos verdes refletindo o brilho lilás do pilar de chamas no meio da sala.

Naquele exato instante, as chamas explodiram. Segundos antes, Vincent havia caído no chão, como se alguém tivesse desligado suas forças e ele fosse incapaz de manter a consciência. O fogo avançou em todas as direções, as labaredas se esticando feito garras de uma besta infernal.

Não houve muito tempo para reagir. June, que estava a metros do fogo, bem na linha de frente da explosão, apenas arregalou os olhos em choque, mas Dante se colocou velozmente entre ela e as chamas, conjurando uma barreira de proteção que desviou o fogo mortal.

O familiar só teve tempo para proteger a si mesmo, formando rapidamente uma proteção mágica à sua frente barrando o fogo. Seus olhos estavam pousados em Vincent que, desacordado como estava, tornou-se completamente indefeso. Felizmente, as chamas passaram inofensivamente sobre o feiticeiro, apenas chamuscando suas roupas.

Minerva não teve tanta sorte. Ela estava muito próxima, só conseguiu ergueu os braços à frente do rosto, antes de o fogo a atingir em cheio. A feiticeira foi arremessada para o outro lado da sala, suas pernas bateram contra o sofá e ela se espatifou sobre uma mesinha de centro. As chamas começaram a consumir suas pernas que, Bash sabia, eram próteses feitas de madeira.

– Minerva! – Dante correu direto para sua mestra.

Sebastian foi até Vincent que permanecia desacordado no chão. O familiar bateu contra as roupas do feiticeiros, que estavam chamuscadas, ameaçando pegar fogo. Ele virou Vincent de barriga para cima e tocou sua artéria carótida, havia pulso e a pele dele estava quente. Mas havia algo de errado e Bash conseguia sentir, era como se houvesse um fluxo contínuo de energia mágica passando de Eleanore para Vincent, e vice versa.

Ele ergueu a cabeça e olhou para a ruiva. A cadeira permanecia na mesma posição, mas a menina estava caída de lado, sem consciência, os cabelos flamejantes espalhados ao seu redor feito uma capa.

Quando se voltou para Minerva, ela estava em pé e parecia bem, sua pele estava levemente queimada, mas nada grave. Suas calças haviam sido parcialmente consumidas pelas chamas, suas pernas, antes feitas com madeira branca com entalhes florais, agora estavam enegrecidas e estalavam alto enquanto ela andava.

– Minerva – Bash franziu o cenho, atormentado – O que houve?

Ela suspirou, olhando para seu irmão caído no chão.

– É difícil de explicar.

Inicialmente, Vincent percebeu que estava preso em um corpo de uma criança, uma criança que não era ele. Tinha uma pele rosada e braços sardentos, duas tranças ruivas caindo-lhe pelo ombro. Depois, percebeu que não estava sozinho, havia uma mulher magra de feições pontudas e olhos severos com ele, que Vincent reconheceu como sendo a tia de Eleanore que ele transformara em galinha.

O FeiticeiroWhere stories live. Discover now