A Condenação

953 110 21
                                    

 – Eleanore? Ellie!

Eleanore soergueu as pálpebras, inicialmente sem ver nada. Sentiu um frio no braço e seus olhos se abriram. O que viu primeiro foi o rosto de um garoto jovem pairando sobre ela, parecia preocupado e ele era familiar. Era Sam, tocando sutilmente em seu braço.

– Sam? – Eleanore balbuciou ao se sentar, esfregando a mão em sua testa, como se isso pudesse clarear seus pensamentos. – O que houve?

– Você gritou e eu vim ver o que estava acontecendo. Encontrei você caída no chão e o Vincent... na banheira, desacordado. Eu que te pergunto, o que houve? – Sam estava agachado ao lado dela, parecia mais humano do que nunca, o corpo nenhum pouco translucido.

– Como você está acordado? Vincent lançou um feitiço do sono – ela questionou, estranhamente curiosa quanto a esse fato.

Sam soltou uma risada seca.

– Sou um fantasma, Ellie, eu não durmo.

– Não ouviu o estrondo das portas se abrindo? – ela insistiu, pois foi exatamente esse barulho que a fizera correr até Vincent.

– Não. Às vezes, eu fico muito imerso no plano espiritual, que acabo me desligando desse plano de existência. É confuso, fluído e difícil de explicar, é coisa de fantasma. A única coisa que ouvi foi você gritando.

Ela assentiu, sem ter realmente entendido.

Eleanore olhou instintivamente para Vincent, mas ele permanecia inconsciente, o corpo afundado na banheira e a cabeça tombada para o lado. Seu peito subia e descia lentamente enquanto ele respirava. Soava sereno agora, nada da agitação de antes.

– Eu encontrei ele na sala, estava sujo e coberto de sangue. Eu trouxe ele pra cá e quando toquei no rosto dele, ficou tudo muito confuso e acho que desmaiei. – ela explicou.

Ellie se aproximou da banheira e tocou novamente no rosto de Vincent, mas dessa vez não teve a mesma sensação de antes, embora tivesse sentido certo formigamento em seus dedos. A pele dele estava substancialmente mais quente agora, o que era bom.

– Sabe o que pode ter acontecido, Sam? – ela quis saber.

– Sinceramente, não. Vincent sabe ser uma pessoa bem reservada, quando quer.

Eleanore olhou atentamente para o rosto adormecido do feiticeiro. Não parava de pensar na visão que havia acabado de ter, novamente com aquela fera. Ela não era burra, sabia que seus sonhos vívidos eram sempre relacionados à uma memória de Vincent, de alguma forma, ele estava ligado aquela besta, ou pior, ele era aquela besta.

Esperaria que ele acordasse para que pudesse obter algumas respostas. Não queria discutir suas teorias com Sam, imaginava que Vincent não iria gostar, já que teve tanto trabalho para esconder.

– Sam, você precisar terminar de limpar Vincent e depois secá-lo. – Ellie pediu.

– Não acho que consigo, Eleanore. Eu as vezes consigo tocar nas coisas, até move-las com minha força espiritual, mas não sei se consigo lava-lo e seca-lo.

O rubor subiu pelo pescoço de Eleanore, esquentando suas faces. Ela podia fazer isso, sabia que podia. Faria com a frieza com a qual um médico e as enfermeiras faziam.

Pegou novamente a toalhinha umedecida e iniciou o trabalho.

Quando Vincent finalmente estava livre da sujeira e do sangue seco, os cabelos limpos, Eleanore fez com que a magia da casa o colocasse na cama e, então, ela o cobriu com um edredom de lã. Mesmo com toda aquela manipulação, Vincent não acordou.

O FeiticeiroWhere stories live. Discover now