Solstício de Inverno

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Aquele era um dia especial, era o solstício de inverno, a noite mais escura do ano. O outono chegara ao fim, todas as folhas já haviam caído e a neve viria. Mas não apenas isso, era enfim o aniversário de dezoito anos de Eleanore.

Estava assustada, para dizer o mínimo. À noite, descobriria se era realmente um ser místico dotado de um forte poder mágico, uma Fonte. Não sabia exatamente que tipo de mudanças isso traria, nem mesmo sabia ao certo o que isso significava.

Ela abraçou o próprio corpo, para se controlar. Não podia se permitir ter medo agora, tinha que ser forte e enfrentar o que fosse. "Não pode ficar assim tão assustada, as pessoas se aproveitam do seu medo". June lhe dissera aquilo certa vez e, agora, mais do que nunca, as palavras faziam sentido. Não podia se dar ao luxo de ser vulnerável.

Segurou a medalhinha de sua mãe, o metal fino e frio contra sua palma. Fechou seus olhos com força. Ah, mamãe, se você estivesse viva para me proteger... Ou ao menos para explicar o que eu sou, o porquê do selo mágico.

Ela tinha dormido quase que todo o dia anterior, depois de passar a madrugada e parte da manhã cuidando de Vincent. Acordou quando já era noite. Foi ver Vincent, mas Minerva havia dito que ele havia saído, de novo. Ela e Bash estavam com expressões sombrias, mas nenhum deles chegou a contar o motivo daquela obscuridade toda.

Então, ela acabou indo para a biblioteca. Mas não ficou estudando feitiços e magia, ao invés disso, Eleanore pegou um livro de nomes, queria escolher o seu novo nome. Ela havia se lembrado de algo que Vince havia lhe dito, que feiticeiros mudavam seus nomes de batismo.

Mas, na verdade, havia tido a ideia depois do sonho sobre o passado de Vincent, sobre June, cujo nome verdadeiro era Katarina. Às vezes, Eleanore se sentia uma intrusa em relação a isso. Não deveria ver essas coisas, não deveria penetrar em memórias pessoais de Vincent e June, mas não podia evitar, não sabia como controlar isso. Simplesmente via.

E aquele era um dia bastante simbólico para se rebatizar. Aquele poderia ser o dia em que o selo que sua mãe lhe colocara seria rompido, o dia em que sua verdadeira natureza seria exposta. Talvez, descobrisse ser de fato uma Fonte, ou apenas uma garota com aptidão mágica normal. Embora, no conceito de Eleanore, isso já fosse algo extraordinário.

Estava apreensiva em relação aquele dia. Ansiosa e assustada.

Tinha nascido à noite, ela sabia disso. Sua tia sempre lhe dissera que tinha vindo ao mundo durante uma nevasca, quando já era muito escuro, que isso era um mal presságio. Eveline gostava de repetir que ela era uma menina amaldiçoada, algo indesejado como o inverno.

Ainda era madrugada, o sol não havia nascido, então, se o selo fosse se romper na mesma hora em que fora colocado, Eleanore ainda tinha o dia todo para esperar. Aflita.

No livro de nomes, Eleanore viu um que lhe chamou a atenção. Knox significava "montanhês". Seu antigo sobrenome, VonBerge, significava "das montanhas", o que era similar. Apesar de querer se desapegar de suas antigas lembranças, de seu pai, sua tia e sua prima, ela não queria se esquecer de sua própria história, de sua própria origem. Se não tivesse sido uma VonBerge, talvez nunca tivesse encontrado o castelo, e nem Vincent. Knox era um bom nome.

Por alguma razão, enquanto estivera na biblioteca, Dimitri, o corvo, ficou com ela. Permaneceu empoleirado no respalda de uma cadeira, observando-a enquanto ela lia. Os pequenos olhinhos negros feito ônix a fitando.

De vez enquanto, ele grasnava "vermelho", que Eleanore havia descoberto ser a forma com a qual a ave se referia à ela. Também falava "ler livros" ou "Mestre cansado".

Percebeu que gostava da companhia de Dimitri.

Quando já era de manhã, Eleanore foi até o quarto de Vincent, Dimitri estava empoleirado em seu ombro. Bateu à porta e recebeu um sonoro "entre". Lentamente, ela abriu a porta e adentrou o cômodo.

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