Além das Aveleiras

36. ROMÂNTICOS E CÉTICOS SÃO TODOS TOLOS.

Lily finalmente convenceu Matt a levá-la para visitar apartamentos alugáveis. Ele a procurou na noite de sábado mesmo, por mensagens, dizendo que conseguiu horários bons na segunda pela manhã. Então ela prontamente usou sua folga que tinha livre no mês para isso, ao invés de usar para algum estudo atrasado ou uma emergência.

"Eu não acho que vou me arrepender disso", pensou consigo mesma, otimista. 

Mas seu otimismo não durou muito.

Ao se aproximar do carro em que Matt havia vindo buscá-la, constatou que ele não estava sozinho: havia uma mulher no banco do passageiro.

Ela parecia mais velha que Lily, talvez até que Matt. Tinha cabelos pretos e ondulados, cortados em um long bob elegante e vestia uma camisa social muito bonita, assim como ela.

– Bom dia, Lily! Essa é María, corretora de imóveis e minha amiga. Ela foi quem me ajudou a encontrar o apartamento de Hazel e agora encontrou dois ótimos endereços para olharmos para você – Matt às apresentou quando ela foi obrigada a embarcar no carro pelo banco traseiro.

"Ok, tudo bem. Não ficaremos sozinhos dessa vez... Mas pelo menos passaremos algum tempo juntos. E não vão faltar oportunidades de ficar sozinha com ele na fazenda no próximo fim de semana", pensou, tentando manter as esperanças.

Tio Fred planejou uma visita à fazenda da família de Hazel com os funcionários do depósito para aquele próximo final de semana, e a amiga a informou de que o irmão também compareceria à reunião.

Mas aquele não era mesmo o dia de Lily.

Matt e María conversavam bastante durante toda a corrida até o primeiro apartamento. Falavam sobre os bairros e vizinhanças de Bewitt. Eles pareciam bastante próximos, embora tentassem incluí-la nos assuntos. Ainda assim era bem visível que a conexão entre eles a deixava um pouco alheia por ali e a fazia sentir-se sobrando.

Logo no primeiro apartamento que visitaram já veio a grande decepção, uma com a qual nenhum otimismo no mundo a ajudaria a lidar.

Aconteceu quando María já havia terminado toda a sua apresentação e deixou Lily analisando o quarto, que tinha uma vista bem bonita da janela, para o maior parque da cidade.

O celular da corretora tocou e ela foi até a sala atender, deixando-a sozinha. Matt provavelmente estava em outro cômodo da casa, averiguando as instalações. Lily se perdeu um pouco naquela vista bonita e quase esqueceu o quão decepcionante estava sendo o seu "encontro", mas então lembrou-se dos companheiros e foi procurá-los.

Eles não estavam na sala, nem no banheiro. Quando entrou na cozinha, deparou-se com uma cena nada escandalosa, mas certamente reveladora: Matt e María estavam perto do balcão da pia, a moça de costas para a porta de onde Lily os via. Conversavam, muito próximos, e ele estava sorrindo. Era bem mais alto que ela, e a olhava de cima. Sua mão estava pousada na cintura dela, um gesto um pouco íntimo demais para alguém que ele apresentou como amiga.

Quando seus olhos encontraram os de Lily, provavelmente seu semblante denunciou que a cena a surpreendeu, pois Matt fez uma careta. María virou-se para olhá-la também. Então Matt segurou a mão de María.

– Hã... Lily, desculpe a indiscrição. Eu e María... estamos juntos – explicou ele. – Na verdade, estamos noivos, mas eu estava mantendo as coisas em segredo por enquanto. Pretendo apresentá-la para a família como surpresa, no próximo fim de semana, já que Hazel também estará lá com vocês.

Lily piscou, depois tentou disfarçar no seu rosto o fato de que acabara de ser atropelada pelo caminhão da desilusão. María lhe deu um sorriso torto.