19. HÁ HIPSTERS PARA TODOS OS GOSTOS.

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– Ele colocou você na limpeza de novo? – indagou Lily, num sussurro.

A amiga encontrou Hazel passando um rodo com desinfetante no corredor onde ficavam os armários dos funcionários do depósito. Pulou o piso molhado e foi colocar sua mochila no armário, então girou nos calcanhares para encarar a amiga que colocava o rodo de volta no balde e limpava o suor da testa com as mãos.

– Sim, Lily. Eu estou começando a achar que ele está tentando me evitar – respondeu, com um suspiro.

Agora Hazel se sentia um pouco sobrecarregada pelo trabalho de ontem, na mesma função de limpeza, que lhe tinha sido atribuído por seu novo chefe.

Seu chefe de fato era Tio Fred, mas na quinta-feira ele apenas apareceu por duas horinhas, subiu para sua sala no segundo andar e logo sumiu sem explicações. Seu chefe de fato acabava por ser o gerente, Greg. Era ele quem lhe atribuiria funções, pelo visto.

Ontem a deixou com a limpeza, o que ela acreditou ser alguma espécie de punição por ser tão atrevida. Entretanto, toda vez que a limpeza chegava no ambiente em que ele estivesse trabalhando, o rapaz coincidentemente precisava verificar algo em outro lugar.

No fim, por mais paranoica que pudesse soar, ela acreditava que Greg a odiava a ponto de querer evitá-la, e não de puni-la. Desprezo era a palavra certa.

Algo nessa sensação a deixava inquieta.

Quando Lily colocou seu avental e rumou para o balcão, onde o chefe a havia atribuído a função de organizar os registros, a amiga a acompanhou, com o balde de limpeza em mãos, para limpar o centro do depósito.

Greg estava mexendo no interior da caixa registradora no balcão. Quando a viu chegar com Lily, pareceu inquieto também, como ela suspeitava. Mas dessa vez apenas abaixou a cabeça, concentrando-se no que fazia.

"Pelo menos ele não fugiu dessa vez", pensou.

Hazel também tentou concentrar-se no seu serviço, respirando fundo e sentindo o cheiro floral do desinfetante que esfregava no chão. Enquanto desenhava círculos pelo piso, sua cabeça acabou viajando para onde menos esperava: John.

Os dois tiveram um encontro um tanto inusitado na quarta-feira, e no final pareceu muito evidente um interesse além de "amistoso" vindo de seu novo amigo. Por um segundo ela acreditou que ele de fato a beijaria.

Mas o que sentia sobre isso? Ela não sabia explicar. Apenas era fácil, leve e divertido passar tempo com John. Isso precisava significar alguma coisa?

Ela pensou muito se compraria ingressos para o show da Garlical 4 que aconteceria amanhã, mas ainda não havia decidido. Nem sequer havia trocado telefones com John, como ela o avisaria se fosse?

Enquanto divagava sobre isso, Hazel sentiu uma pontada de dor nas costas pela posição curvada como manejava o rodo e levou uma mão à lombar, como sua avó costumava fazer.

No mesmo instante, ouviu a voz de Greg.

– Hazel, venha aqui – chamou.

Ela virou-se para encará-lo e ele ainda estava sério, mas aparentava uma pontada de... Tristeza?

Largou o rodo no balde e caminhou até ele, enquanto se aproximava, sentia que ele sustentava seu olhar com alguma dificuldade, como se estivesse protegendo os olhos de algo muito luminoso.

– Você fica atendendo o balcão hoje. Eu... me confundi. Achei que tivesse atribuído a limpeza à Lily ontem, mas foi a você – soltou ele, desviando de seu olhar e pigarreando.

"Não sei se acredito nisso", pensou.

Afinal ele havia evitado ela em todas as etapas da limpeza, parecia estar consciente da presença dela todo tempo.

Além das AveleirasWhere stories live. Discover now