13. VELHOS DESAFETOS.

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Max sentiu que agora deveria interferir.

– Greg, vá dormir, você não dorme há horas! Deixe as chaves comigo que eu ajudo a banda, depois eu te devolvo.

Greg seguiu fitando ferozmente John por mais alguns segundos, este correspondendo seu olhar com irritação.

Então, soltou um olhar agradecido para Max e foi embora. Enquanto se afastava, pôde ouvir algumas reclamações de fãs do John ao seu respeito.

"Qual é o problema dele?"

"Que cara chato!"

Greg se dirigiu até o estacionamento do campus, sentindo o sangue quente fluir pelo seu rosto e latejar em sua cabeça. Que raiva que sentia! Era um pesadelo ter que dividir o campus com aquele garoto arrogante.

De uma briguinha boba há quatro verões atrás na Califórnia para uma rivalidade até hoje? Parecia uma grande besteira, mas não conseguia conter a raiva quando via John pessoalmente.

Ele não tinha grandes problemas com a fama recente dele. Há uns três anos atrás, quando surgiu o nome da Garlical 4 em todos os lugares, rádios, comerciais e outdoors, ele encarou tudo com indiferença.

Mas desde que seu Tio Fred o informou de que tinha recebido uma ligação de John pedindo informações sobre Vallert porque viria a estudar lá, Greg não conseguia mais nem ligar o rádio no carro.

Tentava entender o porquê. Talvez porque John o havia conhecido durante sua adolescência conturbada, durante aqueles enfadonhos anos que tanto tentava apagar.

Aquele garoto franzino de dezesseis anos chegou na cidade, vindo de Nova York para passar a alta temporada com sua bandinha medíocre. Estavam aproveitando a agitação para tocar em eventos e divulgar suas músicas.

John era o mais novo da banda, mas já dava pinta de galã, era o vocalista e fazia questão de dizer antes de cada canção que era o compositor. Agora lá estava ele sendo convidado para jantares com a reitoria e com outros "alunos selecionados".

"É o mesmo filho da puta de sempre!" pensou, enquanto apalpava os bolsos e pegava as chaves de seu carro, o melhor que pôde comprar com seu salário atual.

Greg fez questão de comprá-lo sozinho, assim como fazia com o aluguel de seu apartamento, suas contas e as despesas com a faculdade. Era algo que tinha em comum com John, mas claro que John deveria dispor de alguns milhares a mais. Ou milhões.

Greg chegou em seu prédio, na zona sul de Bewitt. Ele idealizou aquela área da cidade para que, em seu retiro, tivesse distância do agito de universitários. Era um pouco mais longe do campus, mas não mais de quinze minutos de corrida.

A garagem do prédio estava bastante cheia, confirmando a sua teoria de que deveria estar acontecendo alguma reunião em um dos apartamentos, pois já havia quatro carros estacionados pela quadra que costumava estar vazia durante esse horário.

Para a sua surpresa, havia um carro estacionado em sua vaga.

"Ah, que ótimo! Até aqui." murmurou, soturno.

Voltou e estacionou na rua, esperando que o carro que ocupava sua vaga saísse logo pela garagem. Como nada aconteceu, subiu para seu apartamento, derrotado.

Apesar de estar com muita fome, estava muito cansado para sequer montar um sanduíche. Pegou uma caixa com meia pizza de pepperoni da geladeira e levou para a cama consigo, mordiscando uma fatia gelada enquanto checava o celular.

Seu apartamento ainda estava muito bagunçado, ele havia se prometido que o limparia depois de voltar de férias da Califórnia, mas ainda não havia movido uma palha, e nem sentia disposição para pensar a respeito.

Greg sabia que estava com o humor piorado pela recaída que teve na noite de domingo. Existia uma mistura de culpa por isso, frustração por não lembrar direito da noite e raiva de John Slight embrulhando em seu estômago.

E no topo disso parecia ter o rosto daquela garota com quem fez a enfadonha entrevista.

Ele se sentia surpreso por estar tão irritado, e mais surpreso ainda por observar que sua irritação não era exatamente com ela, mas consigo mesmo, com a sensação que ela o fazia sentir.

E pior, algo o fazia ter certeza de que havia visto esse mesma espécie de irritação no rosto dela. Mas não havia nada de substancial que apontasse isso.

Ao abrir o aplicativo de mensagens no celular, havia algumas mensagens novas. Duas de Max, avisando que já estava no dormitório e o carregamento de instrumentos da banda havia sido rápido.

Respondeu o amigo com um agradecimento, o melhor que conseguiu. Max havia sido um amigo tão bom nos últimos tempos, e tão paciente com seu temperamento. Precisava descobrir uma forma de compensá-lo.

Depois viu algumas dúzias de mensagens no grupo que seu tio havia criado para a empresa. Nelas, Max e Tio Fred discutiam ideias de nomes para a loja do depósito depois que fosse aberta a sessão de conveniências. Greg se mantia fora desse assunto, achava precipitado.

Também havia uma mensagem com foto de um número não salvo, enviada há 5 minutos. A foto do contato era de uma personagem de anime, de uniforme escolar, seria a Sailor Moon? Ela lambia um sorvete enquanto piscava um olho.

Ao abrir a mensagem, viu a foto de um filhote de gato brasino dormindo aninhado no colo de alguém vestindo meias três-quartos azuis. Ele reconhecia muito bem quem era o gato, e, eventualmente, a dona do par de meias.

Junto com a foto havia uma mensagem, com um emoji ao lado piscando um olho, brincalhão:

"De qualquer forma, ele está muito bem, obrigado! Com ou sem sua preocupação."

Largou o celular sobre o peito, encarando fixamente o teto, incrédulo.

"Garotinha atrevida!" murmurou.

Depois de pensar um pouco, decidiu responder:

"E se a dona dele fosse sábia, faria o mesmo. Dormiria cedo hoje porque deve trabalhar amanhã de manhã. E eu sei que ela não gostaria nem um pouco de se atrasar de novo."

Se sentiu estúpido após enviar a mensagem. Para quê perder tempo respondendo às gracinhas daquela garota caipira metida à besta?

A mensagem foi visualizada em menos de um minuto, e ela começou a digitar. Greg sentiu-se estúpido novamente por estar impaciente e curioso para ler a resposta. Hazel apenas respondeu:

"Sim, senhor."

Ao lado da mensagem havia outro emoji, dessa vez, ele tirava um cochilo. Ela não conseguia usar um simples aplicativo sem usar aquelas malditas carinhas?

É claro que ela deveria estar sendo irônica. Era tanta ironia que até ele próprio, o maior adepto do uso de sarcasmo, se sentiu desafiado.

Com um suspiro cansado, se esticou para largar a caixa de pizza na escrivaninha ao lado da cama, virou para o lado e deitou, pensando no quanto amanhã até que seria um dia interessante.

Quando adormeceu, talvez tenha sonhado novamente com a garota mais bonita que já viu.

Além das AveleirasWhere stories live. Discover now