5. FRACA PARA BEBER OU UM FRACO POR OLHOS INDISCRETOS?

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Quando Hazel olhou para o lado, um rapaz segurava seu copo. Certamente haviam sido trocados. Ela alcançou a mão livre para pegá-lo, enquanto devolvia o whisky com a outra.

– Ah, obrigada – respondeu, sorrindo cordialmente. Quando seu olhar se encontrou com o do garoto, ele pareceu analisá-la por um breve segundo. Imediatamente, seu sorriso de resposta foi mais caloroso do que Hazel esperava. Era um sorriso quase presunçoso, sugestivo.

Ele realmente era bonito. Parecia alguns anos mais velho que ela, talvez. Usava uma camisa preta muito bem ajustada ao seu corpo esguio e elegante, contrastando com sua pele pálida. Seus olhos eram intensos e muito escuros, assim como seus cabelos, cortados curtos, com pontas rebeldes se espalhando para todos os lados.

Além disso, ela também não esperava – ou não havia percebido até então – que os bancos do bar fossem tão próximos uns dos outros, e o quão próximo do seu rosto estava o do rapaz.

Corando bastante sob a luz rosa do bar e sentindo um calor subir em suas bochechas, ela percebeu que talvez o estivesse encarando e agarrou seu copo rapidamente, rumando apressada para a pista de dança, sem olhar para trás.

Ah! O que foi aquilo? Tocou em suas bochechas, que estavam mais quentes que nunca.

"Talvez seja a bebida, talvez eu seja mais fraca do que imaginei" pensou.

Procurou Max e Lily na pista, mas não os encontrou. Talvez estivessem no jardim. Será que ela deveria procurá-los? Se bem que... Eles talvez tivessem coisas para conversar já que Lily disse que eles não mantinham muito contato fazia um tempo, e Hazel não queria ficar sobrando ou demandando atenção. 

Poderia se virar sozinha. Era uma festa, ela só tinha que... Relaxar...

Avistou na parede da sala de estar, bem ao lado da televisão, um aparador com alguns copos sobre ele e apenas duas garotas encostadas em uma ponta conversando. Estava bem livre para que ela pudesse se encostar ali um pouco também e olhar o movimento.

Apontava diretamente para o longo sofá, que estava meio cheio, e a pista logo atrás. Então poderia ver quando Max e Lily aparecessem de volta.

Ao encostar-se ali, bebericou mais gin em seu copo. Aquele seria o último da noite. Olhou pelo vidro da janela ao seu lado e viu a piscina iluminada no jardim. Até que aquela festa parecia agradável.

Olhando para a frente, seus olhos pousaram imediatamente sobre aquele mesmo garoto do bar, que estava sentado no sofá alinhado à sua frente.

Ele estava no canto esquerdo, tomando um gole de seu whisky, há uns cinco metros de distância dela. Parecia isolado do resto dos convidados que sentavam ao seu lado, conversando entre si. Quando pousou o copo sobre o braço do sofá, seu olhar passeou aleatoriamente pelo recinto por um segundo, pouco tempo para que Hazel desviasse de seus olhos quando ele encontrou os dela.

Sua expressão mudou da mesma forma que antes quando a viu. Os cantos de sua boca subiram um pouco e seus olhos estreitaram. Ela olhou para baixo e mordeu o lábio inferior, constrangida. Quando voltou os olhos para checá-lo, ele ainda a encarava, parecendo cada vez mais compenetrado e também mais confiante.

Era quase indecente como ele a olhava, pensou.

Não que ele percorresse seu corpo todo com os olhos, como Lance fez mais cedo. Ele apenas a olhava nos olhos. Nem era como se ele não estivesse piscando ou parecendo algum maluco. Ele desviava os olhos para seu copo ou para o chão de vez em quando. Mas quando olhava para a frente, era sempre de volta para Hazel.

O que parecia indecente para ela era o quão descarado ele parecia por sua expressão confiante e tranquila, e sua insistência em olhá-la.

Hazel, por outro lado, encarava o chão, a janela, o bar, mas sempre consciente de que ele a olhava. Quando olhava para ele de volta, ele parecia sorrir, era difícil distinguir a expressão dele. Mas o calor de suas bochechas voltou, e ela podia senti-lo agora também em seu peito, seu coração estava batendo forte. O que estava acontecendo com ela?

Já fazia alguns minutos que ela se encontrava presa nessa situação que já estava considerando ridícula, então resolveu encará-lo de volta, determinada, como se o desafiasse. Ele sustentou seu olhar com a mesma confiança de sempre, mas agora parecia ainda mais interessado. Seu sorriso alargou-se e se fez evidente, partindo os lábios e mostrando um vislumbre de seus dentes. Era quase... Sugestivo.

Hazel quase irritou-se, mas então percebeu que não estava irritada com ele. Estava irritada consigo mesma, com as sensações que ele estava lhe causando. E, principalmente, ela percebeu que não o encarava com irritação. Até parecia receptiva, lisonjeada.

Tentou pensar um uma solução rápida para justificar uma encarada de tantos segundos, estava ficando constrangedor. Então ela lhe lançou um sorriso torto e ergueu um pouco seu copo, como se sugerisse um brinde.

"Ugh... Que ideia estúpida."

Mas agora o rapaz abriu o sorriso mais encantador que ela já viu na vida e estendeu o braço na sua direção, erguendo seu copo também e correspondendo ao brinde.

"Acho que... Eu devo ser realmente fraca para álcool", pensou, porque já havia sorrido de volta para ele, e algo dentro dela queria muito que ele levantasse e fosse até ela. Ou... Ela poderia ir até ele?

Não teve muito tempo para pensar, porque o rapaz prontamente já havia levantado e agora se aproximava dela.

– Hazel! – A voz de Lily a sobressaltou de repente, vindo da direção da pista de dança. O olhar de Hazel finalmente voltou-se para ela, que chegava em sua direção, quase correndo. Parecia animada.

– Você está aí! Eu tenho novidades ótimas... Vem, vamos ali na rua – disse, pegando sua mão e puxando-a consigo.

Antes ela voltou os olhos para o rapaz novamente, enquanto era arrastada pela amiga. Ele ainda a acompanhava com os olhos, parecendo surpreso também. Mas ele teve tempo de lhe lançar um sorriso brincalhão e acenar um "tchau" antes que ela sumisse na porta da varanda.

Logo Lily juntou-se a Max, que estava sentado em um degrau na escada da varanda para o jardim, e contou para Hazel a tal novidade.

Era sobre o emprego que ele havia oferecido a Lily, e o fato de que havia duas vagas. Lembrou que Hazel comentou estar procurando um emprego e queria que as duas fizessem o teste juntas. Assim poderiam trabalhar juntas e ela também poderia compensá-la melhor por salvar seu aniversário.

Hazel insistiu que ela não lhe devia nada, mas Max também parecia receptivo à ideia. Só conseguia pensar o quão sortuda se sentia por ter encontrado, em seu primeiro dia, duas pessoas como Lily e Max.

Os três relaxaram um pouco no jardim e Lily até os convenceu a tirar algumas selfies com ela.

Já estava se aproximando das duas da manhã e a primeira aula começaria em seis horas. O movimento na festa estava começando a dispersar.

– Eu acho que já vou, e aconselho vocês a irem também – disse Max, por fim. – Eu ainda preciso achar Greg e chamar um táxi. Provavelmente ele não vai poder ir à aula amanhã, pelo que conheço dele.

Hazel pegou o celular para consultar o Uber mas, como imaginou mais cedo, já estava morto. Lily,por sorte, ainda tinha bateria e chamou um carro para as duas. Uma parada no apartamento de Hazel, outra nos dormitórios do campus.

Quando os três se dirigiram de volta para a sala, Max avistou seu amigo Greg. Ele estava apagado no sofá.

– Ah, pronto! Eu disse que ele apagaria. Greg? – Max balançou o garoto.

As garotas observavam a cena de longe, já se apressavam para a porta de saída porque o Uber havia chegado.

 Não antes de Max erguer a cabeça do amigo apagado e seu rosto ser iluminado pela luz da sala de estar. Mas é claro, não poderia ser diferente. Nada poderia ser mais perfeito para fechar aquele dia bizarro: era o seu lindo paquerador.

Além das AveleirasWhere stories live. Discover now