15. QUÍMICA

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Hazel se despediu educadamente de Tio Fred, então virou-se para Greg.

– Bem, por onde começo? – disse, com fingido entusiasmo.

Greg semicerrou os olhos, encarando-a com ceticismo.

– Você não começa nada hoje, só escuta. Se tivesse chegado mais cedo teria ficado com Max, a santa paciência em pessoa, mas já que esse foi o seu caso...

– Mas eu cheguei cedo! – ela o interrompeu.

O garoto abriu um sorriso de desdém.

– Você não chegou cedo, você chegou exatamente no horário! Adiantamento e pontualidade são termos muito diferentes, você deve ter algum dicionário nessa mochila já que vai se especializar em literatura – disse, sarcástico.

Hazel franziu o cenho.

– Quem te contou? – perguntou, curiosa.

Greg riu brevemente. Foi a primeira vez que ela o viu rir. Depois ele levou uma mão ao queixo, fingindo estar se concentrando para pensar.

– Deixe-me ver... Você? Você diz que tem um "forte senso de moralidade", usa de sarcasmo e bom humor excessivo para lidar com as adversidades e fica excepcionalmente ofendida quando alguém faz uma referência a Carroll sem ter lido nada dele – zombou.

Agora ela deixou escapar em sua expressão um beicinho de ressentimento. Ele era a terceira pessoa que tinha adivinhado sua escolha, e a que melhor esclareceu o porquê de ser ela tão clara aos demais. Seria ela tão estereotipada assim?

– Você também não passa muito longe de estereótipos – respondeu. – Você é um típico chefe carrancudo – concluiu, sorrindo.

Ela se sentia mais à vontade para provocações agora que tinha conhecido seu primeiro superior e ele a havia adorado.

Tio Fred estava acima de Greg, Hazel sabia disso. E Greg começou a notar que ela sabia, o que o deixava extremamente irritado.

Seguiu sorrindo, presunçosa, enquanto ele a ignorava, girava nos calcanhares e seguia em direção aos fundos.

– Me siga – disse, seco.

Hazel se apressou em acompanhá-lo, até entrar naquela mesma sala em que houve a infame entrevista. Greg abriu a porta e um dos armários e retirou um avental preto, igual ao que Lily usava, com um cinto com vários compartimentos e bolsinhos, fora um grande bolso canguru no centro. Ele entregou um em suas mãos e vestiu outro igual.

Depois que a novata vestiu o seu, Greg pegou alguns objetos e preencheu os bolsos de seu avental, inclinando-se em sua direção e tomando cuidado para não tocá-la inapropriadamente. Ainda assim, estavam muito próximos, o que denotava sua diferença de altura.

Ela lembrou de como seu semblante era o total oposto do atual na última vez em que estiveram com os rostos tão próximos, por aquele breve segundo sentados ao bar naquela noite. A lembrança lhe fez corar, mas Greg parecia um pouco corado também.

Alguns rolos de fita crepe, fitas adesivas de dois tamanhos, grampeadores industriais, uma pistola de cola quente, tubos de cola, um pano de algodão... Ele explicava brevemente como e para quê ela precisaria dos materiais e que quando precisasse de mais, deveria pedir para ele. A aprendiz se esforçava em permanecer séria e focada, assentindo quando necessário.

Depois Greg lhe mostrou a dependência em que ficavam os armários em que ela poderia deixar suas coisas e seu avental após o serviço, também a sua mochila ou seu lanche antes do serviço.

– Os banheiros ficam bem ali – disse ele, apontando para o corredor à esquerda –, só que o chuveiro do banheiro feminino não tem água quente por enquanto. Mas acho que você não precisará usá-lo já que não pratica nenhum esporte antes do serviço.

Além das AveleirasWhere stories live. Discover now