14. TÃO QUERIDO QUANTO INCONVENIENTE...

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Fred Mitchell era um senhor notável. Aparentava beirar os seus sessenta anos, tinha o porte consideravelmente baixo, parrudo, uma careca brilhante em meia lua e costeletas extravagantes para a época. Solteirão, adorava participar de eventos, principalmente aqueles que envolviam comida boa, dança e longas conversas.

Fred estava de volta de viagem naquela manhã de quarta-feira, recém chegado da Califórnia por ter esticado mais um pouco o tempo de férias de verão. Não permaneceria por muito tempo, Fred já viveu pelo menos metade do tempo de sua vida em quartos de hotéis em cidades e países distintos. Costumava se auto declarar "nômade" e rir mais do que o necessário ao contar sobre suas aventuras quando participava de jantares com os figurões de Vallert.

Já havia quase 3 semanas que seu sobrinho e o amigo voltaram da Califórnia sem ele para o campus. Então, quando Tio Fred os viu juntos no balcão do depósito, etiquetando pacotes, os cumprimentou calorosamente.

– Meus queridos sobrinhos! – exclamou Tio Fred.

Max sorriu com bom humor, saudoso de seu "tio postiço".

– Tio Fred! Por que não avisou que chegava hoje? – disse Max, surpreso em vê-lo.

Greg arqueou as sobrancelhas e fitou o tio.

– Já estava na hora, não é? Quase três semanas de atraso – repreendeu-lhe o sobrinho.

Tio Fred revirou os olhos.

– Sempre o mesmo cabecinha dura. Você me lembra um pouco o seu pai quando jovem – retrucou o tio. Depois de acender um cigarro, continuou: – E eu achei que você estava se virando bem sem mim.

Greg se aproximou do tio e lhe arrancou a bituca de cigarro de seus lábios com um movimento rápido e sutil.

– Tio, você está cansado de saber que não deve fumar aqui dentro. Aliás, nem aqui dentro, nem em lugar algum. O senhor por acaso sente saudades daquele quarto de hospital de que tanto reclamava por ter cheiro de álcool iodado?

Tio Fred fez uma careta.

– Greg, deixa de ser neurótico. Estamos nas primeiras semanas, relaxe um pouco! Olhe só como você anda, todo tenso e rígido, e... – Tio Fred gesticulava apontando para o sobrinho, que agora apagava o cigarro na borda da lixeira embaixo do balcão – Você deveria fazer yoga! Eu fiz yoga por quase dez anos, se não fosse a minha artrite eu ainda estaria fazendo – concluiu.

Greg o encarou apático, e Max riu.

– É bom ter você de volta, Tio Fred. Se eu tivesse que trabalhar mais tempo aqui sozinho com esse zumbi acabaria me suicidando – ironizou Max, cotovelando Greg.

Então lembrou-se das garotas e apressou-se de contar ao Tio Fred sobre elas.

– Será ótimo ter duas mocinhas conosco agora! Mulheres sabem lidar bem com o público e são ótima companhia para dois garotos como vocês, sempre reclusos e sozinhos – respondeu Tio Fred no seu tom de sempre, fazendo as observações antiquadas de sempre.

Greg deu de ombros.

– Foi Max quem as indicou, ele que tem algum apreço por elas.

– Na verdade – Max lembrou –, Greg encontrou em uma das garotas uma companhia que vai lhe fazer muito bem. Ela sabe exatamente como lidar diante de alguém com o temperamento dele. Vai ser um tratamento de choque! – concluiu, debochado.

Tio Fred se empertigou.

– Como é a garota? – perguntou para Max.

– Atrevida – respondeu Greg, olhando por cima de uma prancheta em que agora fazia anotações atrás do balcão, antes que o amigo respondesse.

Além das AveleirasWhere stories live. Discover now