1. DESCULPE POR CHOVER NA SUA PARADA.

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Não é assustador pensar o quanto uma pequena escolha, aparentemente tão trivial, pode transformar completamente o nosso destino?

Se Hazel decidisse por ficar em casa e dormir cedo, naquela véspera do seu primeiro dia de aula na faculdade, talvez tivesse sua experiência universitária completamente alterada. As pessoas que conheceu naquela noite – e as situações em que se meteu – ligavam-se por uma linha fina e invisível que muitos apenas chamam de destino.

E foi assim que aquela noite bizarra começou:

Quando Hazel passou pela porta de madeira pintada de azul desbotado do seu novo apartamento, naquele fim de tarde, sabia que aquele seria o marco inicial da sua vida de jovem adulta. Um rito de passagem.

Ela espremeu a bicicleta e uma caixa de papelão que carregava contra o quadril pelo arco da porta, largou a caixa no aparador e pendurou a bicicleta no gancho atrás da porta. Então girou nos calcanhares para encarar seu novo lar.

Não era exatamente o que imaginara aos doze ou treze anos quando criava a sua imagem de "adulta morando sozinha" na cabeça. Imaginava um apartamento com vista para uma grande cidade à noite, luzes de arranha céus e um grande aquário exótico iluminando um ambiente adulto e descolado.

Mas era perfeitamente adequado para seus dezenove anos e sua atual situação financeira.

Um pequeno espaço térreo, com uma salinha estreita na entrada, uma pequena cozinha à esquerda e um quarto com banheiro nos fundos. Tinha papéis de parede com pequenos padrões muito gastos, a umidade havia deixado o acabamento no forro e na soleira bem descascado e o ambiente ainda cheirava como se estivesse inabitado há algum tempo, mas agora estava cheio de caixas de sapato e de eletrodomésticos empilhadas no chão e nas mesas.

Ela sabia que o mais sábio a fazer agora era terminar de desencaixotar e ajeitar seus pertences. Ao invés disso, preferiu fazer uma caminhada pela vizinhança. Procrastinação sempre foi, afinal, a sua maior culpa.

Conhecer Bewitt parecia mais empolgante. Ela já estava antecipando a sua chegada na cidade há vários meses desde que a mudança foi acertada e precisava ver sua imaginação tomando forma física.

Hazel cresceu na mesma casa por toda a vida e não a havia deixado com completo agrado. Ela sabia que sentiria falta da fazenda. O calor humano, a família grande, o pomar, o cheiro da grama fresca, sua mãe amorosa e responsável, seus irmãos brincalhões e barulhentos... Bewitt não oferecia nada disso.

Ela não tinha uma grande vida social fora de sua família, alguns amigos de infância e uns poucos amigos mais próximos do colegial. Deixava-a muito apreensiva pensar em como se sairia socialmente agora, procurando um emprego e estudando em uma universidade em uma cidade diferente, mesmo que há trinta minutos de sua cidade natal.

Ao sair do prédio novamente, sentiu o ar fresco preencher seus pulmões. O céu estava ameaçando despencar em grandes volumes de chuva e o anoitecer se aproximava. Mas seria só uma breve caminhada.

Bem, foi o que ela pensou.

Bewitt era uma cidade universitária que, mesmo tão próxima de casa, ela pouco havia visitado. Não era nenhuma grande metrópole, mas era certamente maior que sua pequena cidadezinha natal. Seu apartamento ficava em uma área residencial próxima à maior unidade do campus. Era uma cidade consideravelmente plana, de construções baixas, simples e rústicas.

O seu novo apartamento foi encontrado pelo irmão mais velho, Matt, sob seu pedido. Ela pediu algo simples, próximo ao campus e que tivesse um aluguel dentro de seu orçamento. Tinha uma quantia da poupança guardada para isso e lhe manteria por seis meses se precisasse, mas desejava que logo conseguisse um emprego.

Além das AveleirasWhere stories live. Discover now