🎩 Capítulo 37 🎩

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— Sr. Pari. — falo, ao mesmo tempo que confiro, com o olhar, o local onde o pajé e o cacique se encontram, os vejo em locais distintos, esse parece estar em uma conversa séria com um moço, aquele está com um estampado sorriso na face enquanto conversa com uma mulher e uma criança. Eu deveria falar com os dois, mas tenho que escolher a prioridade para iniciar o plano.

— O que houve, Clara? — ele olha para mim e seus olhos incitam que cometi um erro. Ah, sim, o nome. Contudo, não me corrijo e continuo.

— Com licença, preciso falar com o cacique. — E já estou saindo, mas ele me segue. Não, por favor, não. Mil vezes não.

— Você... você precisa...— Ele parece confuso. — Para que?

— Tão presunçoso. — Não aguento e abro um sorriso sorrateiro.

— Presunçoso? Eu? 

— Isso. Como pode achar que te contarei meus motivos e assuntos para uma conversa com o cacique?

— Bem, a não ser que seja um segredo ou que vá confessar seus pecados mais tenebrosos. — Ele tem suas mãos para trás e uma expressão zombeteira. Reviro os olhos.

— A senhorita revirou os olhos? — ele tem um sorriso e o meu aumenta. — Que mocinha petulante.

— Não tanto quanto sua condescendência. — Empino o nariz e sigo meu rumo, chegando ao meu destino.

— Perdoem-me a intromissão, — falo para o cacique e para o homem que conversava com ele. Ambos param e olham para mim, atentos. — Seu cacique, — escuto uma risada atrás de mim e tenho que conter com todas as minhas forças a vontade de virar a cabeça e fazer cara feia para Luan.— Creio que a senhorita Fernandes não tenha se sentido muito bem, pois a vi sair com os companheiros, ela parecia deveras mal. Ela havia me pedido para que, caso precisasse se ausentar, eu viesse explicar o motivo para que ninguém se preocupasse. — Ele mantém o rosto neutro. Um bom sinal. Espero. — Eu deveria verificar se ela está bem, mas fui praticamente ordenada a me divertir, o que é um tanto excêntrico como tarefa. — Tá bom, Clara, não exagera, ele vai acabar desconfiando dessa sua conversa fiada.

— Bom, sendo assim, tudo que temos que fazer é torcer para que ela melhore o mais breve possível. E quanto a sua missão de divertir-se, não se preocupe, enviarei alguém para olhar a senhorita Fernandes e trazer-lhe notícias. Ah, Caio, por favor vá conferir como está a visita.

— Irei junto, senhor. — fala, de repente, Luan. 

Ah, não. Não posso deixar isso acontecer. O plano não pode decair agora. Tenho que esperar o Sr. Moraes voltar como um sinal e ele não voltou. Terei que fazer algo que estava torcendo não precisar: improvisar. 

Eles começam a andar em direção à terra firme e meu cérebro começa a pedir para usar minha voz, para agir.

— Não! — É o que sai. Eles param e olham para mim sem entender. 

— Não? "Não" o quê? — questiona Luan com a sobrancelha encrespada. 

— Os senhores... hã... os senhores não podem...hã... me deixarem a sós. Não conheço ninguém aqui e...

— E o pajé? Creio que ele não se oporá em conversar com a senhorita. — droga! O cacique tem razão. Tenho que juntar os quatro (sim, estou contando com esse Caio) e fazer com que ninguém vá a aldeia. É impossível! A não ser que...

— Decerto. O senhor tem toda... AAAAAHHHHH! — dou um pulo para trás com a melhor expressão de espanto e horror e começo a tremer. Luan vem em minha direção imediatamente e sequer tem o pudor ao passar o braço em meus ombros nus e com a mão livre -e forte- segurar firme meu ombro mais próximo de seu corpo.

— O que houve? — seu semblante demostra preocupação e ele parece vasculhar meu corpo à procura de qualquer sinal de ferimento.

— A...Acho que V...Vi uma co...cobra. — continuo tremendo com um afinco digno de um prêmio. 

— Ah, minha jovem, — começa, com um ar jovial, o cacique. — Achei que algo a tivesse machucado.

— Uma cobra? Tem certeza? — questiona Luan, ignorando o bom humor do chefe da tribo.

— Eu não sei, talvez tenha me picado... Não sei. — Eu definitivamente pareço alarmada. Até eu me convenceria. 

— Vamos sair da água e olhar então. — quando estamos saindo, dou-me conta que todos estavam olhando e alguns até acompanhavam para olhar também.

Ótimo, consegui prender a atenção, mas... por quanto tempo a terei comigo? Preciso inventar algo logo, já que todos verão que não fui picada por nada. Luan faz com que eu me apoie nele para sairmos do rio. 

Há uma pedra média que sobressai da água naquela parte vazia do rio e uma ideia me ocorre. Tara é bom você encontrar mesmo a tal profecia porque estou prestes a cometer uma loucura e é bom que ela não seja em vão.

Parecerei uma maluca agora. O que não faço por uma amizade? 

— Meu bom Deus! O que é aquilo vindo ali atrás? — digo bem alto. Várias pessoas olham na mesma direção que eu miro o nada. 

— O que? — Luan.

— Não vejo nada. — O tal Caio.

— Tem algo vindo em nossa direção. — Tento me desvencilhar de Luan e corro loucamente como se realmente algo estivesse me perseguindo e vou em direção a pedra para chutá-la e, com sorte, causar alguma vermelhidão.

Em alguns poucos instantes, no entanto, percebo que já não estou correndo e, sim, nadando. Chego perto da pedra e escuto alguém gritar meu nome. Chuto com a máxima força que consigo e posso jurar que vi estrelinhas com a dor que senti. Mais uma vez escuto meu nome sendo chamado e me viro para olhar. É Luan. Uau! Nem percebi o quão distante estava até agora. Meu pé lateja e tento colocar no chão para voltar porque não sou uma exímia nadadora (pelo contrário! Sou péssima) e não irei arriscar movê-lo contra a água. Entretanto, ao buscar apoio, não encontro, está fundo demais. Sinto que estou sendo puxada contra a correnteza e quando tento nadar, meu pé queima. Sou sugada para debaixo d'água. Uma. Volto e respiro. Duas. Respiro novamente, mas um pouco desesperada. Três. Vejo meio borrado e escuto ao longe alguma coisa, mas estou ocupada para decifrar. Quatro. Nada de respirar. Sinto-me ser levada, meus olhos estão abertos e tudo que vejo é o líquido sob uma camada fina de iluminação, alguns peixinhos e aquelas bolinhas que tem dentro da água, não sei o que são. Sujeira, talvez? Sou arrastada para trás de forma rápida e não sinto o ar entrar em meus pulmões há um tempo considerável, só consigo ver as coisas pelas quais já passei (água, pedras, alguns peixes e mais água) e não pelas que estão por vir, por isso, não sei o que esperar até que sinto uma pancada forte na parte de trás da cabeça e meus olhos, de repente, parecem pesados demais, minha boca abre, o ar preso em minhas narinas é solto e água entra. Espero que a Tara tenha conseguido porque estou me sentindo cansada e preciso dormir agora. Espero que a Tara tenha conseguido.
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Parafraseando a Clara da novela: Vocês não sabem o prazer que é estar de volta!
Pois é, eu voltei e agora é para ficar!
O que acharam deste capítulo na véspera de natal? Espero que tenham gostado e ainda estejam com suas apostas na ponta do lápis... Quero ver quem descobre, hein?
Bom, eh isso!
Estou feliz por ter postado hoje para vocês (e muito!)
Até amanhã, meus queridos -e amados- leitores!
Feliz véspera de natal!
XoXo 💋

Amando o Visconde             (TRONNOS-2)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang