🎩 Capítulo 17 🎩

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- Feche a porta, Tara.- meu pai fala e senta na cadeira, minha mãe preferiu ficar em pé ao lado. Fecho a porta do escritório atrás de mim.-

- Vocês não tinham viajado?- perguntei, suspeita. Ele dá uma leve tossida e diz.

- E tínhamos! Mas lembramos de algo que deixamos e também que iríamos conversar com você hoje, não estávamos longe, de qualquer modo. Mas ainda hoje, partiremos, para a viagem marcada anteriormente e voltaremos na semana de seu casamento, como já dito. Prometemos falar sobre nossas famílias para você.- fico em silêncio.- E é o que iremos, de fato, fazer.- ele olha para minha mãe, como se estivesse com o olhar, mostrando que nada o impediria de fazer o que pretendia, nem mesmo ela.- sente-se, querida.- me sento na cadeira em frente a ele, apenas a mesa de madeira nos separa.

Ele começa.

- Sobre minha família, as vezes, muito raramente, como bem sabe, algumas de suas tias vem nos visitar, mas o resto não vem por outros motivos, pelos quais prefiro não tocar agora, mas quem sabe algum dia. Eu sou brasileiro, meus pais também eram, mas meu avô era italiano e minha mãe portuguesa. Não há muito o que falar da minha parte familiar, meus pais faleceram e meus avós também. Tenho cinco irmãs e duas você conhece.

- Sim, tia Ana e tia Bel. Entretanto, já tem mais de anos que não as vejo.

- 5 anos.- ele fala subitamente.- 5 longos anos...- diz com uma tristeza na voz, seus olhos baixam um pouco e ele vaga não mais aqui e, sim, em outro lugar, em outro tempo. De repente, ele desperta e, como se nada tivesse acontecido, retoma na maior calma.- Bem, sua mãe pode contar um pouco sobre a família dela.- eles se olham e ela parece ficar um pouco atordoada, uma visita desatenta não perceberia, mas eu sou a filha. Ela limpa a garganta antes de começar.

- Bem... Como sabe, sou metade indígena e metade inglesa. Meu pai era cacique da tribo Zoewas e minha mãe uma garota comum que queria debutar.
De todo modo, casaram, foram felizes e me tiveram, anos depois, faleceram, primeiro ela e, pouco tempo depois, ele. Não tenho irmãos e assim que nasci, mamãe e papai perceberam que eu deveria seguir ambos os costumes, tanto o indígena quanto frequentar os bailes e eventos da sociedade. Isto é tudo que precisa saber.- ela finaliza meio inquieta e seus olhos vagam o quarto.

Ela esconde algo. Tem algo oculto e provavelmente terrível nessa história, por isso ela não fala. Eu irei descobrir o que é, nem que para isso eu tenha que me arriscar, o que não posso é conviver sem saber a verdade, sem descobrir o meu passado, sem desvendar a causa do meu cárcere.
Por que eles viajam tanto? Por que não frequentávamos os eventos sociais? Por que não pude fazer meu début em Londres? Por que deixar que todos pensem que estamos falidos?
São inúmeras perguntas e todas elas sem reposta alguma.

- Está bem.- me levanto, a sala estava em silêncio desde que mamãe terminara.- Muito obrigada pela atenção e explicação acerca de minha origem. Agora, se me derem licença, preciso me retirar. Darei um passeio pelo jardim, já que o dia está muito quente.

- Tudo bem, querida.- Papai fala. Vou até a porta e quando toco a maçaneta, uma voz chega aos meus ouvidos.

- Que Deus te proteja.- Foi a última vez que ouvi mamãe falar naquele dia.

☀️

Depois que passei praticamente a metade do dia, ou mais, no jardim, resolvi jantar cedo e me recolher no quarto.
Mas mal pude fechar os olhos para um cochilo quando uma batida à porta foi ouvida.

- Quem é?- meu pulso está em minha testa, cobrindo meus olhos que estão fechados.

- Sou eu.- murmura a voz de Clara.

Amando o Visconde             (TRONNOS-2)Where stories live. Discover now