🎩 Capítulo 26 🎩

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Muitos podem achar egoísta de minha parte fazer o que fiz. O que continuo fazendo. Entretanto, será que já pararam para pensar em como é fácil julgar quando não se passou pelo mesmo? Será que essa sociedade um dia compreenderá o real sentido da palavra empatia e findaria o processo de se preocupar com a vida alheia para começar a escrever sua própria história à sua maneira?

Eu não forcei ninguém a nada. Não forcei que Maurício me pedissem em casamento (aliás, fomos coagidos acerca dessa cerimônia), não forcei que me ajudassem nisso, contudo sou muitíssimo grata por o terem feito. Eles foram tão essenciais, tão importantes que sinto estar em uma dívida eterna para com esses seres tão especiais. Daria a vida por qualquer um dos dois e sem nenhum arrependimento, sem pensar duas vezes.

Naquela cabana, iluminada com uma única vela, o cacique encarava Luan e eu, que estávamos calados.

- Não pense que não sei quem você é, meu jovem.- ele semicerrou os olhos, não me encarava de nenhum modo. Era como se eu nem estivesse ali.

- O senhor já disse isso.

- E vou repetir quantas vezes for necessário. Sabe que o que está fazendo é arriscado e provocará a ira de algumas pessoas, correndo risco até de guerra.

- E o senhor sabe que tenho que fazer isso. É inevitável. É como tentar parar a água com as mãos.

- No entanto, as rochas fazem um ótimo trabalho quando estão ali, como uma barreira.

- Mas a água sempre arranja uma maneira de escorrer ou arrebentar a barreira natural.

- A barreira segura por um tempo considerável o estrago que possa vir a acontecer.

- O estrago sempre vem e digamos que a água já encontrou a sua abertura de escape e já começou a escorrer. Está só esperando o momento certo para derrubar as rochas.

O clima era estranho e toda essa metáfora de água e rochas demonstrava um estranhamento, eles escondiam algo e isso era claro. Se conheciam, de algum modo. Eles continuavam a se encarar e me ignoravam. Resolvi limpar a garganta sutilmente. Nada. Por isso que nada sutil funciona. Pigarreei bem alto. AHEM. Funcionou (mas também se não funcionasse, eu teria que fazer o que? Dar cambalhotas e quebrar o pescoço?).

- Desculpe, Tara.- fala Luan, seu olhar quando me olha muda completamente, nem parece que até uns dois minutos atrás estava com um brilho incendiário nos olhos e com a voz surpreendentemente calma e sarcástica.- Acho que nos empolgamos com a natureza aqui.

- Sim, a natureza sempre torna os ânimos à flor da pele.- completa o cacique.

- Vocês acham que eu nasci quando? Ontem? Natureza é o cace...- respiro fundo.- Quer dizer...- eles me olham assustados.- Alguém pode, por favor, parar de pensar que sou incapaz intelectualmente só porque sou uma garota e começar a falar como se eu estivesse aqui? Porque eu realmente estou. Parem de falar por códigos como se eu não soubesse que na metáfora, o Luan é a água. Eu só quero saber quem representa essa barreira de rochas e que ira irá provocar caso ela seja "derrubada".- eles estão boquiabertos. Literalmente.- E eu fecharia a boca se fosse vocês, sabem o que dizem "boca fechada não entra mosquito", acho que não seria agradável engolir um bicho sem querer.

- Normalmente, você fala o que pensa?- me questiona o cacique, ainda embasbacado.

- Me repreendiam por isso, mas andei pensando...por que não? Não preciso ser uma idiota e falar coisas que magoariam os outros sem necessidade, isso não seria sinceridade, seria babaquice, mas falar o que penso? Por que não? O que ganhei tentando me adequar a uma sociedade a qual nem ao menos convivera direito? Mentiras? Imposições desnecessárias? Olhares de reprovação? É... a sociedade e meus pais sabem ser hipócritas. Agora, vamos ao que interessa: tudo o que souberem sobre mim e minha família e se tem alguém ou algo que pertence a ela aqui.

- Está um pouco tarde agora e preciso falar a sós com Luan, mas prometo que falarei com você sobre isso amanhã bem cedo.- cruzo meus braços e começo uma resposta, mas quando abro a boca para falar algo, ele me interrompe com uma mão levantada, um pedido para que eu nem prossiga.- Prometo. Está tarde, estou cansado e preciso falar com o rapaz.- me rendo.

- Está bem, mas logo cedo, estarei aqui. E ou vocês me contam o que está acontecendo ou acreditem, irei encontrar, nem que precise mover montanhas para isso, o que escondem.

- Isso é uma ameaça?- quem pergunta é Luan, desta vez. Não consigo, decifrar sua expressão.

- Considere o que quiser.- e saio. Eu planejava escutar escondida a conversa deles, mas meu plano vai por água abaixo já que, assim que saio da cabana, sou interceptada por uma garota de cabelo de fios longos, pretos, lisos e com franja.- Caramba, você me assustou.- digo, levando a mão ao coração que bate acelerado.

- Desculpe não queria assustar.- quando olho mais atentamente, percebo que ela está praticamente sem vestes. Apenas uma pequena saia, do mesmo material que a do cacique, cobre-lhe. Seus seios só não estão cem por cento à mostra por causa do cabelo e ela está com uma (não sei o que é, mas parece uma pulseira de planta) no tornozelo e dois traços de uma pintura vermelha em ambas bochechas da face.- O que houve?- ela percebe que estou a encarando de cima a baixo.

- Nada, é que...

- Ah, já sei! Como sou esquecida...- ela coloca a mão em uma das bochechas.- Esqueci de lavar meu rosto. Irei agora mesmo. Se não estiver muito cansada, pode vir comigo.- Ela sorri docemente. Até dá pena de dizer não, mas...

- Obrigada pelo convite, mas já está bem tarde e estou exausta.- a expressão dela cai um pouco e gosto imediatamente dela pela sinceridade de que ela esperava que eu fosse aceitar.

- Mas quem sabe amanhã, não é mesmo?- ela abre um sorriso. Uau, ela é muito bonita! Até no escuro, ela consegue chamar atenção, imagina essa garota com o raiar do sol.

- É claro. E amanhã posso te emprestar as vestes da tribo, assim não precisará ficar com as desconfortáveis que está usando.- O QUE?

- Bem, não preci...- mas ela não escutou e já está mais distante.

- Tchau! Até mais tarde.- despede-se ela rumo a floresta, creio eu, para lavar o rosto em algum rio.

☀️

- Você não vai acreditar no que aconteceu, Tara!- diz uma alarmada Clara, com a mala aberta em sua frente. Ela está visivelmente preocupada.

- E nem você...- começo.- Mas no meio de todo esse caos, conheci uma nova amiga. E ela até ofereceu roupas da tribo para nós e...

- Então teremos que aceitá-las de bom grado.

- O que? Por que?- ela levanta uma das roupas da mala. Encharcada.

- E estão todas assim. Pelo menos, as nossas.- a expressão dela não é nada animadora e acredito que a minha esteja bem parecida.

- Oh céus.

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Olá leitores! ❤️

Esse foi o capítulo de hoje, estou tentando escrever os capítulos para publicar nos dias certos, mas, mesmo nesse afastamento social, estou lotada de coisas para fazer com urgência, entretanto, não se preocupem com a continuação do livro... Estou inclusive preparando uns projetos futuros no wattpad, incluindo o livro 3. (o personagem principal do TRONNOS 3 será anunciado ao final deste)

Lavem as mãos e, se puder, fique em casa.

XoXo! 💋

Amando o Visconde             (TRONNOS-2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora