🎩 Capítulo 06 🎩

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- Eu falei que não tinha! Não saio há muitos anos. Não sei sobre os gostos sociais, nem sobre cavalheiros e, por mais vergonhoso e ridículo que possa parecer, não escolho nem minhas vestes, nem tão pouco as visto e nem sei se isso que acabei de falar é permitido! Sou uma completa ignorante quando o assunto são as normas do convívio no ambiente comum às pessoas.

- Por que ficar encarcerada quando se tem o mundo lá fora para aproveitar?

- Nem eu mesma sei.- digo indignada e escuto um farfalhar em algum lugar.

- Melhor irmos embora, as estradas tem muito assalto e...- ele baixa os olhos para mim e eu sigo seu olhar e vejo que ainda estou bem exposta.- bem, digamos que os assaltantes não irão querer discutir se suas vestes estão apropriadas ou não.

- Não sei se entendi bem, mas não parece ser uma boa coisa.- começo a abotoar-me novamente.

- Você está melhor?- ele diz com uma expressão preocupada.

- Um pouco melhor.- ele parece me estudar para vê se falo a verdade, mas parece se convencer, já que assente e me ajuda até chegarmos a carruagem. O cocheiro olha e Maurício faz um meneio com a cabeça como que para confirmar que já podemos ir.
Assim que o veículo dá o primeiro solavanco, pego o laço que está no banco, ao meu lado, mas assim que começo a passar pelo mesmo lugar que antes estava, Maurício fala:
- Se quiser, não precisa, não irei falar nada, nem
fazer nada contra a senhorita.- Ah, então já voltamos para o "senhorita"?

- Está bem.- me sinto melhor assim, já que aqui tem que se passar muito tempo trancada e acho que os laços me aprisionavam mais.- Obrigada.- digo com sinceridade.

- Não há o que agradecer.- Mas há. Poucos teriam a gentileza e bondade de fazer esse gesto.
O resto da viagem acaba sendo de um silêncio agoniante e quando a paisagem bucólica dá lugar aos ares asfixiantes da cidade, decido pegar novamente o laço e começar a fazê-lo.

🔆

- Então, senhorita? Gostou de algum em especial?- pergunta a estilista, referindo-se aos modelos mais bem vistos e comprados para casamentos. Eu, que estava dispersa olhando o movimento da rua através da vitrine, respondi um pouco envergonhada.

- E-eu... não sei.

- Não sabe?- a expressão dela ganhou um ar de dúvida.

- Infelizmente, não. Quero deixar nas mãos da senhorita. Mas meu único pedido é que seja algo inusitado.- ajeitei minha tiara na cabeça para ficar melhor o penteado e, se foi impressão minha, ela olhou para o gesto e seus olhos pareceram ganhar vida, como se ela tivesse tido uma excelente ideia.

- Está ótimo, meu bem. Mas tenho um único pedido: retire o belo acessório que utiliza na cabeça, na sua noite de núpcias.- Corei fortemente com aquele pedido estranho e apenas assenti.

- Volte semana que vem para buscar tudo.- quando eu estava pagando o ateliê, a chuva lá fora começou a cair fortemente, parecia que o céu ia desabar de tanta água e, logo que fui em direção à porta, a mesma se abriu antes que eu a tocasse. Um arrepio percorreu a pele do meu braço e atingiu pontos extremos do meu corpo. Era Maurício. Cabelo molhado, o que desfez suas poucas ondulações e enegreceu mais seus olhos... A imagem de anjo caído.
Fiquei sem reação nenhuma, não conseguia desviar o olhar daquela miragem.

- Está um dilúvio. Não podemos viajar agora nessas condições. Teremos que ficar em alguma estalagem.

- Ahaamm... - esse transe acaba?- espera! O que?- acabou subitamente.- Ficar? Aqui na cidade?- pergunto, finalmente em plena-ou quase-consciência dos meus atos

- É, creio que a viagem dure umas duas horas ou três de carruagem, não posso arriscar voltar tarde com essa chuva intensa. Conheço um lugar aqui perto que será de grande serventia, já que é respeitada pelas damas e cavalheiros da sociedade, então você não será mal falada se ficar apenas uma noite lá. Providenciarei quartos distintos, é claro, e contratarei uma camareira pessoal.

- Está certo.- é a única frase que tenho para declarar.- mas mamãe ficará preocupada.- penso em voz alta.

- Farei algo para avisa-la, mas creio não ser possível, já que com essa chuva poucos irão se aventurar para mandar o recado, mas escreverei uma carta avisando e encontrarei algum mensageiro, pagarei o dobro.

- Agradeço.- digo sincera.
Ele assente e pergunta se já terminei de comprar tudo que eu precisava, apenas sinalizo positivamente e vamos, em meio ao temporal absurdo, até a carruagem, que o cocheiro parou em frente ao ateliê.
Assim que entramos meio molhados, o veículo avança e digo, de ímpeto e sem querer:
- Me perdoe.- e começo a chorar copiosamente e compulsivamente.

- O que houve?- segura em minhas mãos e me vasculha, procurando machucados, um preocupado Maurício.- Pare! Por favor, pare de chorar!

- Me de-desculpe.- digo tentando engolir o choro e parar de passar essa imagem tão estúpida e esse vexame ridículo que estou fazendo, mas é incontrolável porque de repente tenho um choque de realidade, percebendo que destruí a vida de duas pessoas, a minha e a dele. As lágrimas voltam com mais força e tento dizer: - Me per-perdoe. Por tudo. Por incomoda-lo com a-as lá-lágrimas, por destruir sua vi-vida. Por tudo.- É tudo que consigo dizer, já que minhas lágrimas me derrubam mais uma vez.

- Não estou incomodado por você estar chorando...- diz ele, agora do meu lado-e eu nem tinha percebido como chegara-, abraçando meus ombros e me fazendo, como consequência, pender a cabeça em seu braço, que noto agora ter seus músculos tonificados, e meu coração acelera com aquela aproximação e ao mesmo tempo parece relaxado porque, pela primeira vez, parece estar em casa.- Quer dizer, eu estou incomodado, porque te ver tão triste me enlouquece, Tara!- de repente meu choro cessa, de uma maneira tão rápida quanto começou, levanto a cabeça, para minha surpresa consigo me afastar dele, olho em seus olhos que agora estão fixos nos meus. De repente, caio em um abismo profundo e não consigo-mais uma vez, que surpresa!-controlar minhas ações.

- Adoro quando você me chama assim.- digo em um sussurro bastante audível.- seus olhos baixam agora na direção da minha boca e os meus fazem o mesmo caminho no rosto do visconde.
Estamos tão perto que posso sentir o hálito quente em meus lábios, já posso sentir o gosto da felicidade.

- Tara.- ele repete.

- Oh, meu Deus.- eu clamo.
Uma conversa baseada em sussurros e desejo.
Até que um solavanco na carruagem nos desperta do transe e nos deixa atordoados.
Maurício estava com uma mão envolta em minha cintura, a outra em meu pescoço. Eu segurava seus ombros fortemente. Nos desfizemos e, com vergonha, nos separamos de súbito, ambos olhando para o lado oposto, onde nas janelas embaçadas via-se apenas o dilúvio e a noite anuviando a paisagem externa.
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Oie! O capítulo saiu um pouquinho tarde hoje, mas chegou! Espero que estejam gostando desses dois. ❣️Até quinta! XoXo!💋

Amando o Visconde             (TRONNOS-2)Where stories live. Discover now