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LARA

Olho confusa para a tela do celular.

Quase quero rir, ou talvez temer ser um pedófilo, mas algo dentro de mim ficou feliz pelo rápido bate-papo.

Não lembro da última vez que conversei com alguém; ainda que seja por mensagem.

— Lara?

Olho para trás, ainda sentada no sofá, e avisto minha mãe chegando do trabalho.

Ela está sempre deslumbrante, ainda que eu não goste de admitir. Hoje, seus cabelos escuros formam ondas ao redor dos ombros, um efeito existente graças ao Babyliss. Ela usa um terninho e carrega a bolsa no ombro direito.

Seu batom está borrado. Do jeito que fica quando você beija alguém.

— Você demorou — eu falo, esperando que ela se justifique.

Mas minha mãe apenas dá de ombros, o olhar fixo no celular.

— Tinha muito trabalho hoje — diz ela simplesmente, porém sei que é mentira.

Fico quieta, esperando que ela diga mais alguma coisa, mas minha mãe fica um tempo digitando no celular e depois corre em direção ao quarto.

Solto um suspiro pesado, virando-me para frente novamente. Já estou cansada de ver televisão, e gostaria de ter amigos para ir a algum lugar neste sábado à noite.

Mas tudo que possuo é a minha própria companhia.

Meu celular vibra em meu colo, e o desbloqueio rápido pensando ser aquele garoto novamente.

Mas tudo que vejo é uma mensagem de minha operadora.

Bufando, jogo o celular para longe e pego o controle da televisão.

Não tem nada, absolutamente nada interessante passando. Começo a surfar pelos canais, entediada, até que desisto e decido dar um passeio pela rua de casa.

Está anoitecendo, então um clima gelado paira pelo ar. Meu bairro é vazio e silencioso, o que sempre é bom nesses momentos.

Porém, enquanto caminho, meus pensamentos acabam voando até meu pai.

Como sinto a falta dele.

"Eu te amo, minha Lara..." dissera ele, a voz embargada, em seus últimos momentos de vida.

Eu chorava tanto na hora que nem fui capaz de responder.

Respiro fundo, afastando a memória, e desvio de uma árvore que encontra-se no caminho. Um canto de passarinho soa ao longe, e os coqueiros balançam fraco com o vento.

Gosto da paz daqui. Mas às vezes a mente vazia acaba não sendo tão saudável.

Meu celular vibra em meu bolso, e diminuo o passo enquanto o pego nas mãos.

É uma mensagem de minha mãe.

Como diz o ditado

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Como diz o ditado... decepcionada porém não surpresa.

Duvido que ela realmente tenha uma reunião de trabalho, e mesmo se tiver, garanto que seus ficantes nojentos estarão presentes.

Guardo o celular novamente após enviá-la um pequeno "ok". O que mais eu poderia responder, afinal? Tá bom, mãe, vou adorar passar o sábado à noite sozinha em casa vendo um filme triste. Obrigada pela atenção.

Além do mais, o fato dela ser uma péssima mãe não é motivo pela minha falta de vida social.

Continuo caminhando por mais uns trinta minutos, desejando ter trazido meu fone de ouvido. Quando o centro da cidade finalmente começa a aparecer — o lugar onde o povo descolado do meu colégio costuma ir, e por isso eu fico longe —, dou meia-volta e retorno pelo mesmo caminho.

Agora parece demorar menos, e logo já avisto a fachada de casa. A noite praticamente chegou e o carro da minha mãe já sumiu da garagem.

Ainda que não goste dela nem metade do quanto eu costumava gostar de meu pai, fico triste por isso.

Logo que entro já resolvo pedir uma pizza. Ligo o notebook na cama e coloco um filme, pretendendo ter a melhor maratona do mundo — e a mais longa, também. E como amanhã é domingo e nem tem aula, sequer me preocupo com o fato de eu precisar acordar cedo.

Estou devorando um pedaço enorme de pizza e assistindo uma cena de ação quando lembro de Logan.

O garoto das mensagens.

Foi uma experiência legal, tenho que admitir. E confiando no fato dele não ter mentido, pude ter a oportunidade de realmente conversar com um desses garotos populares e bonitões, de alguma escola em algum lugar.

Porém, ainda que tenha sido gentil comigo, tenho certeza que o interesse dele acabou. É praticamente impossível que resolva me chamar de novo, ainda mais tendo — provavelmente —, um monte de outros contatos à sua disposição.

O melhor é eu esquecer e não criar expectativas.

Pelo menos assim não ficarei decepcionada amanhã... ao acordar e perceber que tudo está igual.

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