s e v e n t y t w o

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LARA

— Você tem certeza disso? — minha mãe perguntou, inclinando-se sobre a mesa.

Logan confirmou com a cabeça.

— Tenho. Na hora achei que fosse coisa da minha cabeça, mas... parecia bem real.

Ele olhou sério para minha mãe, e então para mim. Mas eu não conseguia dizer nada.

Estava chocada demais.

Quando meu pai morreu, sonhei com ele logo na primeira noite. Mas eu não conseguia chorar no sonho. Me sentia oca, vazia. E então meu pai apareceu. Eu falei pra ele que me sentia estranha, como se não fosse mais a mesma. Mas ele me confortou e disse que estava em um lugar melhor. E que embora naquele momento eu não conseguisse chorar, um dia conseguiria. Um dia iria libertar tudo.

Lembro-me também que no sonho ele me dizia para ser forte. Porque passamos por situações muito sombrias na vida, mas que devemos permanecer firmes sobre elas. Porque são nesses momentos sombrios que criamos as raízes que nos manterão de pé.

Mesmo agora, sempre que vejo uma flor crescer saudável, penso nas raízes dela. E me lembro das palavras do meu pai. Na época, eu não tinha entendido o que ele queria dizer com aquilo.

Mas acho que agora eu entendo perfeitamente.

Abro um sorriso conforme as lágrimas piscam nos meus olhos. Então aproveito a deixa para pegar na mão de Logan, enquanto ele e minha mãe permanecem quietos em nossa sala de jantar.

— Eu acredito nele.

Minha voz sai embargada, mas não me importo. Porque quando os dois olham para mim, uma verdade e uma paz sem explicação enchem o meu coração.

— Eu também vi o meu pai. Várias vezes. — Fungo antes de continuar, sentindo Logan apertar minha mão de um jeito puramente reconfortante. — Mas nos sonhos. Ele vivia aparecendo pra mim. E era s-sempre tão real... — Balanço a cabeça, comprimindo meus lábios para me controlar. — Agora consigo acreditar que... que era mesmo.

Respiro fundo e olho para a minha mãe.

— Ele tá.... Ele tá bem, mãe — eu digo com dificuldade, minha respiração começando a ficar descontrolada conforme noto os olhos dela enchendo-se de lágrimas também; ainda que permaneça firme feito pedra. — Tá descansando agora. E precisamos... aceitar isso.

Sinto a vontade de chorar aumentando, subindo pelo meu peito e acumulando-se em meus olhos. Talvez, entre tudo, o ponto principal que eu e minha mãe tenhamos em comum seja esse.

Não aceitar que ele se foi.

Não sei de onde ela tirou coragem para isso, mas, assim que eu desabo, minha mãe se levanta devagar e, com a classe que ela sempre teve, me puxa para um abraço.

E pela primeira vez nós choramos juntas pela morte de meu pai.

[....]

O dia está tranquilo, e um vento gostoso bate no meu rosto em meio ao silêncio pacífico.

Respiro de alívio assim que coloco a última coisa. Então me afasto para observar. Ficou lindo. E faz tanto tempo que eu não venho aqui... bom, desde que Logan fez aquela viagem surpresa, mais especificamente.

Mas tinha que ser aqui. Eu não podia fazer isso em nenhum outro lugar que não fosse aqui.

A cidade está tão silenciosa que é como se adivinhassem que algo importante estaria acontecendo agora. Ou talvez seja porque é domingo. De toda forma, tudo em que penso é em meu pai. Chega a ser inacreditável que Logan o viu. Eu queria entender como os mistérios do mundo funcionam. Quer dizer, tudo bem que eu o vejo constantemente nos em meus sonhos, mas é diferente de ver acordada. Por que será que ele nunca apareceu pra mim ou para a minha mãe?

Amor VirtualWhere stories live. Discover now