s e v e n t y

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LARA

Quando eu era pequena, sempre via os personagens tomarem atitudes no último segundo. O momento em que eles acordavam e percebiam que tinham feito uma grande besteira, então corriam atrás do que queriam antes que fosse tarde demais.

Vi muitos filmes sobre isso. Sobre pessoas se arriscando nos últimos quinze minutos de trama. Eu sempre os admirei, e, quanto mais eu crescia, mais via o quanto é preciso ter coragem para isso. Coragem para ir ao aeroporto e impedir que seu amor parta para sempre; coragem para subir no palco do colégio no meio do baile e explicar para todos sua versão da história; coragem para pegar um táxi ainda de pijama e ir atrás do seu emprego dos sonhos. Em um determinado momento, comecei a perceber que era por isso que coisas assim, como nos filmes, não acontecem na vida real. Porque, diferente dos personagens, nós não somos tão corajosos. Preferimos ficar onde estamos, acomodados, do que nos arriscar a um destino tão incerto. Não saímos do lugar a não ser que alguém nos dê um grande empurrão e nos jogue ladeira abaixo.

De uma certa forma, acho que a Dra. Ross está sendo o meu empurrão agora.

Minhas mãos tremem quando apoio-as sobre meus joelhos, observando a estrada à minha frente. Ao meu lado, minha mãe está dirigindo.

Ela está me levando até a casa de Logan.

Eu estou louca? Sim, com certeza. Estou cometendo um erro? Não há dúvidas disso. Vai dar errado? Com noventa e nove porcento de chance. Mas, ainda assim, eu estou indo. Porque eu preciso, pela primeira vez na vida, fazer alguma grande loucura. Me arriscar. Botar a cara no sol e ir no medo mesmo.

Preciso concertar a besteira que eu fiz.

Não mandei nenhuma mensagem ao Logan, porque quero chegar de surpresa. Sim, sei que é totalmente absurdo e que as chances de eu quebrar a cara são quase que certeiras, mas acho que a minha versão teatral resolveu dar as caras agora. Então eu quero correr esse risco.

Preciso mostrar pra mim mesma que eu sou capaz.

— Tem certeza que é aqui? — pergunta minha mãe tediosamente, entrando na rua de Logan e olhando ao redor enquanto dirige, o carro praticamente parado de tão devagar.

Olho para ela, sentindo-me feliz. Tê-la perto de mim é bom. Quase como se meu pai ainda estivesse vivo. Talvez, quem sabe, as coisas dêem certo agora. Na minha última consulta, a Dra. Ross me disse para trazer minha mãe na próxima semana. Que utilizando o argumento do luto, talvez ela topasse fazer terapia. E eu acho que, se falar direitinho, talvez eu realmente consiga convencê-la a ir. E assim minha mãe pode, como eu, aprender a se tornar a melhor versão de si mesma.

E nós podemos aprender juntas a nos aproximar.

Não vou colocar muitas expectativas nisso, porque sei que as coisas não são fáceis. Mas, quem sabe. A chance está aí. Temos que aproveitar pra tentar.

Meu coração começa a acelerar quando avisto a fachada familiar da casa de Logan. De repente, uma sensação desconfortável se apossa na boca do meu estômago. Estou tão nervosa que poderia vomitar. Céus. Não vou suportar isso. É demais pra mim.

Devo ter feito a careta mais terrível do mundo conforme minha mãe segue com o carro, pois, poucos segundos depois, ela me encara, me vendo apoiada no braço da porta quase como se quisesse me camuflar aqui.

— É essa? — Sua voz soa impaciente, ansiosa. — É essa a casa dele?

Como eu não respondo, minha mãe olha para a casa de novo, e bem neste instante vemos uma figura alta sair de lá. Meu coração volta a bater acelerado, mas dessa vez por outro motivo. De saudade. Logan mantém a cabeça baixa ao seguir até a lixeira, as costas arqueadas de um jeito meio desanimado quando joga um saco de lixo fora e retorna para dentro; sumindo dentro de casa.

Amor VirtualWhere stories live. Discover now