s i x t y

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LARA

É engraçado como as coisas podem, ao mesmo tempo, estar tão iguais e tão diferentes.

Eu vejo isso, tanto na minha vida quanto no ambiente ao redor. Em casa.

Com minha mãe.

Uma vez eu ouvi dizer que, muitas vezes, quando temos uma grande necessidade dentro de nós de presenciar uma mudança acontecendo, tudo o que precisamos é que nosso interior mude. Porque assim, automaticamente, veremos a vida ao nosso redor mudar também. Mesmo ela continuando igual, vamos sentir que está diferente. Vamos sentir que conseguimos aquela felicidade e mudança que tanto desejamos um dia. Porque nós mudamos. Nós éramos a mudança que tanto desejávamos; mesmo sem nos dar conta daquilo.

Hoje, eu sinto um pouco disso. É claro que precisei de uma mudança exterior para que a interior viesse também, mas, penso que minha mudança teria de vir de qualquer jeito em algum momento; com ou sem Logan.

Ninguém pode ficar para sempre parado no mesmo lugar.

Porém, ainda assim, não deixo de pensar em como tudo isso está sendo para a minha mãe. Será que ela enxerga o mundo hoje da mesma forma que enxergava quando meu pai se foi? Sentindo a mesma falta de alegria, a mesma ausência, a mesma indiferença sobre estar vivo ou morto?

Bom, eu me sentia assim. Porque, de certa forma, uma parte de mim também morreu com o meu pai. Aquela parte dependente, que nunca saía na rua sem sua companhia e que precisava dele até para ir na padaria. Aquela parte que tinha medo de ligar para a pizzaria e fazer um pedido, que jamais comprava algo sozinha ou que tinha vergonha de atender a porta. Com a minha mãe obviamente não foi assim, mas, não deixo de pensar em qual parte dela morreu com a morte de papai.

E não deixo de pensar no motivo por ela continuar estagnada. Fechada. Agindo como se eu e ela não precisássemos mais nos comunicar normalmente; mesmo que o luto já dure tanto tempo.

Eu deveria ajudá-la?

Pois não faço a menor ideia de como poderia o fazer.

Jogo minha bolsinha no chão, me preparando para fechar a porta, quando me viro para a rua uma última vez, sorrindo ao ver Logan se preparar para ir embora. Enxergo-o com as mãos no volante pela janela, me observando divertidamente com as sobrancelhas erguidas. Sinto um frio imediato na barriga... vendo o modo como ele parece querer ter certeza de que cheguei bem antes de ir mesmo embora.

Fica de olho no celular, hein? — disse ele um pouco mais cedo, quando eu me preparava para descer do carro e entrar em casa. — Vou te mandar mensagem de cinco em cinco minutos pra ter certeza de que tá tudo bem.

É esse tipo de coisa que não sai dos meus pensamentos; o tipo de coisa que eu posso ficar relembrando antes de dormir com um sorriso no rosto. Uma frase simples, mas que consegue mostrar a importância que ele tem por mim. Que mostra que, o tempo todo através de um chat de mensagens, eu tenho ele comigo. Ao meu lado.

É consolador... mesmo que alguns pensamentos intrusos e terríveis insistam em me perturbar dizendo que esse tipo de coisa não dura.

Minha barriga ainda parece cheia de borboletas quando fecho a porta, o frio de casa me invadindo junto do silêncio. Tudo está no lugar, do jeito que estava quando eu saí. Mas um cheiro, leve e suavemente incômodo, revela que minha mãe está em casa.

E que não está bem.

Ela nunca teve o costume de fumar, as bebidas e os remédios sempre foram um suporte mais duradouro. Porém, quando minha mãe pega num cigarro, é porque as coisas realmente estão ruins. A última vez que ela fez isso foi quando estava preocupada que fosse demitida, numa época em que nem possuía uma posição tão alta como hoje.

Amor VirtualWhere stories live. Discover now