Um Strong Owl reconhece que a dor física nunca poderá superar a psicológica.

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— Pétalas. — Ele comentou incisivamente, como se nunca as tivessem visto. Colocou as mãos por entre minhas omoplatas e tentei me esquivar, utilizar a energia que mal tinha para escapar e fugir, resgatar tudo e todos, retornar do inicio e desta vez vencer. Mas é claro que John Crowler estaria tão convicto quanto, hiper-rigoroso e com vigor esvaindo de seus poros. — Sempre gostei de orquídeas Cattleya Lueddemanniana.

Pressionando um pouco mais, as puxou rigorosamente. Não tinha ideia de como ele era forte — o que outrora era apenas uma hipótese — até que senti as asas desgrudarem em alguns puxões. Apenas podia gritar e vociferar cada vez mais alto, sentindo meu corpo saindo do chão enquanto ele as arrancava de mim.

É óbvio que choraria e me espernearia feito uma criança mimada. Havia demorado em conquista-las e ele as tira de mim?

Minhas costas ardiam e a dor angustiante pulsava. Ouvi sons de algo rasgando e perdi o folego. Foi quando tive certeza de que minhas enormes pétalas eram posse dele, agora.

— Mais um item para a minha coleção. — Sorriu diabolicamente, manejando-as e se afastando, deixando-me sozinho ao me chutar fortemente e me lançar contra a parede que cada vez mais queimava. Ele deveria ter apertado o botão diversas vezes, porque a quantidade de calor intensificou. A sala fora projetada especificamente para isso.

Rosnava, vozeirava, clamava com toda a minha fúria e indolência que havia resguardado por tanto tempo em minha alma. Ainda não podia sentir as cores de meus olhos, porque Jungkook também havia arrancado isso de mim. Tinha levado meu coração, minha alma e minha essência com ele seja lá onde está nesse exato momento. Muito longe, presumo.

Porém, em uma dedução e me conhecendo perfeitamente, minhas íris reverberavam verde-escuro em tonalidades pretas. A amargura e descontentamento me possuíam, domando meu corpo inteiramente. Certo de que berrar faria John Crowler se saciar ainda mais, só que não dava para conter. Ardia, chamejava em todo meu corpo, em uma angustia que eu não poderia me acostumar nunca.

Soquei o chão, sentindo meus ossos trincarem. Por que Jungkook tinha que me iludir e me abandonar depois? Por que se mostrou como todos os outros, mesmo conhecendo a minha reputação em relacionamentos ruins? Por que ao invés de simplesmente me deixar e não utilizar a tática do romance, ele deu duro para me conquistar, transou comigo, me embalou em seus braços e disse as maiores mentiras que por burrice acreditei? Ele me usou o tempo inteiro, sempre, horrivelmente planejado.

Agora estou aqui, sendo torturado, sentindo a pior dor que poderia haver: a mental. A de ser abandonado, de reconhecer que não tem absolutamente ninguém. Estou brigado com Taehyung, Julian me odeia, James está chateado e Jeon nunca nem mesmo se importou. Tem morte pior do que a da alma, do que padecer por dentro e somente existir?

Senti meus olhos incharem constantemente. Minha visão está péssima, ridiculamente embaçada, desprovida de qualquer aspecto e interpretação.

Jimin. — Um dos ralés imergiram da escuridão e, na ocasião, podia somente ouvi-lo. — Aceite as poções.

— Prefiro morrer. — Murmurei, incrédulo e pasmo com a voz terrível que invadia minha mente. — Não quero nada que venha de Jeon Jungkook.

Pensando bem, garoto — Comentou outra voz idêntica, mas suponho que não seja o mesmo demônio inferior. — James que as deu. Você precisa ficar vivo.

— Pra que? — Mal conseguia mover-me devido o impacto de ser jogado, novamente, na parede. Fora com tanta brutalidade que cheguei a pensar que fosse quebrar e cair sobre mim. — Ficar vivo por mais tempo só vai aumentar o que os dois querem.

Minha voz era exausta e extremamente desgasta. Sentia minha língua secar e o pronunciar me vinha com mais dificuldade. Toda minha garganta igualava-se ao deserto.

Porque tem uma missão. — Sussurrou e ouvi o barulho de vidro rolando para minha barriga. Suponho que tenha sido o mesmo anterior, apesar de que houvesse três deles. Não importava. Não tinha como confiar neles, porque Jeon não é confiável. Não mais. Sei lá, sentir dores exteriores era bem melhor do que senti-las interiormente.

Em um vento turbulento, John Crowler retornara cantarolando e apertei a poção o mais forte que podia. Foda-se, se isso me ajudar a morrer, melhor para mim.

Tirei a rolha do pequeno buraco no vidro e os bebi rapidamente, uma vez que estou de costas para Crowler. Era uma sensação estranha de formigamento que revirava meu estômago e me fazia ter vontade de vomitar. O gosto era amargo, em sutis toques de algo doce, mas bem pouco.

— Olha o que eu trouxe. — Trazia duas barras. Uma de ferro e outro objeto pontudo de prata. Estou lutando contra minha mente para me esforçar o suficiente e, de alguma maneira, o fazê-lo pagar. — Soube que gosta de jogos. Que tal esse? — Retornou a aproximar-se.

Como se eu fosse algo nojento e repulsivo o suficiente, John me virou de barriga para cima com a ponta do pé direito e sem cerimonia alguma enfiou a barra de prata pontuda por meu abdômen lesionado, desenhando como faria um ser qualquer com lápis e uma folha de papel. Mas, no caso, tão profundamente a ponto de rasgar-me inteiramente, em linhas precisamente fortes e grossas.

Fechei o punho, contudo notei que nem força para isso eu tinha. Berrar pela dor era minha única opção e sentir toda a tortura também seria. Talvez eu seja o culpado de ter confiado facilmente e ter medo. Medo de enfrentar Crowler e por todos esses anos mentir para mim mesmo e para todos, dizendo que estava me preparando. Por ter um lado sentimental e profundo demais e jamais saber como utilizar os meus demônios a meu favor. Para todas as hipóteses eu sou o que todos sempre disseram: O fada ingênuo, sentimentalista e fraco.

Principalmente fraco.

Strong of Character - Quente como o infernoWhere stories live. Discover now