Strong Owls têm sentimentos, mesmo que não desejem tê-los.

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— Eu sei. — Ele disse sutilmente.

— Então para!

— Não consigo. — Ele deu de ombros, aproximando-se novamente de mim.

— Viu? Está fazendo de novo.

— Fazendo o quê? — Ele riu, levantando as palmas das mãos para cima como se não compreendesse.

— Fingindo que se importa e que gosta de mim. — Dei um passo para trás tentando não me manter perto dele. — Sexo casual é uma coisa, você fingir que temos algo é totalmente diferente.

Sentei-me à beira da cama, por fim. A camisa que Jeon me emprestara cobria a metade de minha coxa. Minhas omoplatas pinicavam, faziam cocegas e incomodavam.

— E não temos?

Assim que questionou, olhei para ele abruptamente. Só podia estar brincando comigo, não é possível. Desfranzi a testa lentamente quando Jeon parou diante de mim.

— Você que devia parar de fingir que não se importa. Fizemos sexo louco e selvagem, mas também fizemos amor. Estive dentro de você. Consegui alcançar o escudo anti-jeon-jungkook que usava pra se proteger. — A voz era grave e em tonalidades de fúria, mas claramente ele não deixaria transparecer. — E, tanto faz. Eu era um medíocre, otário e imbecil, mas você sabe que consegui atingir algo além do que você consegue entender, porque nem mesmo se entende. Se soubesse antes teria desviado o olhar diversas vezes, mas não o fez. — Ele se ajoelhou, ficando quase da mesma altura que eu. — Antes conhecia seus passos, movimentos, costumes e hábitos. Coisas exteriores. Sabe mais do que eu que tivemos uma conexão que odeio admitir e que agora te conheço internamente. — Ele sorriu um pouco malicioso, mas ainda sim sincero. Até porque, é claro, havia duplo sentido na frase e ele teve a chance de me conhecer de ambas as maneiras.

Ele está certo sobre tudo, mas não quero demonstrar a ele que concordo com isso.

Um demônio dizendo coisas fofas parece clichê, mas só se estiver mesmo sendo honesto. É difícil acreditar nele e é algo em mim que não dá para desvanecer. Podia me manipular, persuadir da forma que queria. Jungkook sabe que me tem na palma de suas mãos. Só que ele seria mesmo capaz de apelar para o lado sentimental, ainda mais quando se refere às próprias emoções?

Seria.

Querendo ou não ele é um demônio e é assim que ele age.

— Só diz isso porque quer meu corpinho nu. — Falei comicamente, passando as mãos pelo corpo e ele retribuiu com o típico sorriso lascivo, o que eu tanto gosto.

Minhas omoplatas começaram a doer e alguma coisa perfurou a camisa. Droga.

— Também. — Ele mordeu os lábios e retirei minha camisa pela cabeça. Por um instante ele suspirou, excitante, mas descobriu logo em seguida a razão para eu fazê-lo. — Pétalas? — Os olhos dilataram e minhas asas enormes ergueram-se como se tivessem vida própria.

Pelo visto essa é a única coisa que Jeon não sabia sobre mim.

Assenti, tocando desesperadamente nelas para que se resguardassem. A última pessoa que desejava que as vissem é Jeon. Tarde demais. As pontas de Jungkook dedilhavam carinhosamente por todas elas, tornando o local o qual passara as mãos quente e ardente.

Jeon encontrava-se surpreso porque todas as asas — exceto as de fadas — são reconstituídas por penas macias e altamente potentes. Encontrar pétalas no lugar delas fora chocante até mesmo para mim — quando havia descoberto que poderia ter asas e as ganhei. Soube no mesmo dia que meu sangue não é como a maioria dos humanos e alguns sobrenaturais. Ele é um liquido pegajoso e grudento, incolor e inodoro. Transparente.

— São lindas. — Elogiou, observando as pétalas brancas de pontas roxas azuladas aninharem-se uma na outra ordenadamente. — Suas asas são pétalas de Orquídea Cattleya Lueddemanniana. — Ele sorriu como se fosse o dia mais feliz da vida dele, se levantando e afastando para apreciar com o olhar vasto e amplo. Jeon passou a sorrir satisfeito quando vislumbrara a marca roxa em meu pescoço.

Automaticamente passei os dedos pelo lugar e os olhos dele se intensificaram.

— Não tem controle sobre elas ainda?

— Tenho. Mas dessa vez elas só... apareceram.

Normalmente ficavam invisíveis quando não eram necessárias. Na maioria das vezes sumiam, porém sempre retornavam quando o dono as desejava.

— É mais um argumento. — Ele riu nasal, alegre.

Alegre?

— Você gosta de mim.

— Ou você que é muito convencido?

— Os dois. Me convenci de que essa é a verdade. — Babaca. De qualquer jeito ele me faria rir. — Te ajudo a esconder elas, mas não deveria. — Recitou em tons apaixonados.

Dentro da grande mochila havia retirado um enorme lenço branco e dirigido-se perante mim. Jeon ajudara a fechá-las e deixa-las propensas à minha cintura. Incomodava e suava pelo fato de que não estavam livres ao frescor do entardecer, só que precisaria cobri-las, já que torna-las invisíveis não seria possível. Não quando são elas que decidem aparecer aleatoriamente.

Enlaçando e prendendo o lenço gigante e fino por minha cintura, Jeon me ajudou a vestir a camiseta — por mais que relutantemente.

— Perfeito. Espero que as armas não te incomodem.

— Precisamos mesmo de todas elas?

— Sim. — Levantou a respectiva camisa até o centro da barriga e em seu quadril pendia a cinta criada que guardavam poções. Mas não consegui dar atenção às armas e todas elas por conta do abdômen dele, que pareceu ter notado por sorrir indescritivelmente. Meus hormônios agiam sempre em horas restritas e erradas, mas pelo que aparenta temos uma hora e meia, ainda.

Não.

Totalmente não, Jimin. Cogitei comigo mesmo, forçando-me a focar em outra coisa a não ser a delicia que podia ser Jungkook.

— James me disse que são boas caso você se machuque com ferro. — Ajustou cada uma das poções guardadas no vidro, tilintando e brilhando magicamente. — Ou prata. — Continuou.

— Então não deveria estar comigo?

— Você não é nada racional quando tem algo ardendo em você, Jimin. — Ruborizei e ele riu. Para todos os significados que a frase poderia conter: é a verdade.

Sorrindo de canto, jogou a mochila — que agora possuía roupas sujas — por baixo da mesinha. Ah, a mesa onde tudo havia se iniciado, onde senti a onda de calor dominar meu corpo e a indecisão ficar para trás.

— Sei que fadas tem mania estranha de contar grãos, um por um, independente do que estejam fazendo. Espero que algumas delas façam efeito. — Deu dois toques com a unha do dedo indicador no vidro que possuía o liquido cintilante verde.

— E creme nos deixa louco, tipo assim, bêbados pra caralho.

— Bom saber. — Ele riu conforme abria a porta. — Está pronto? Precisamos ir e esperar escurecer pra invadirmos a casa dele.

— Sim. — Afirmei, sentindo o estomago embrulhar. Sempre quis dar a John Crowler o que ele me causou durante todo o tempo que completavam os anos sem minha família. Portanto, quero que ele sofra tão intensamente capaz de implorar.

E ele vai, eu garanto. 

Strong of Character - Quente como o infernoWhere stories live. Discover now