Capítulo CLXX - JOCA

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Sentado em uma cadeira plástica e bem desconfortável, eu via o tempo passar e nada acontecer. A Mag ainda dormia sobre o leito e, por mais que o médico insistisse que ela só acordaria quando a sedação passasse, eu não conseguia me tranquilizar. Enquanto isso não acontecia eu tentava me distrair acendendo e apagando as lâmpadas.

Estávamos em um hospital na cidade vizinha, já que o hospital da nossa cidade estava pegando fogo. O caso da Dani era bem grave e, após chegarmos ao pronto socorro, fomos transferidos imediatamente. A Malu já tinha usado sua telepatia para perguntar onde estávamos e, mesmo que eu tivesse omitido alguns detalhes sobre a seriedade da situação, ela conseguiu perceber que algo estava errado.

– Onde eu estou? – perguntou a Mag, sonolenta, apoiando as costas na cabeceira.

– No hospital. – Levantei e segui até ela, apoiando-me na lateral da cama.

– Onde está a Dani? – Ela me lançou um olhar apavorado. – Ela está bem, não está?

– Não se preocupa. Ela está bem. – Era a verdade. Eu jamais conseguiria mentir. – Ela ainda está se recuperando da cirurgia, mas...

– Cirurgia? Que cirurgia?

Suspirei antes de continuar. Ela tinha que saber a verdade e eu nunca fui muito bom em dar notícias ruins, por isso pensei muito bem em cada palavra.

– Você fez um ótimo trabalho e, graças a você, a Dani está viva, mas a perna dela não teve a mesma sorte – expliquei. – Eles tiveram que amputá-la.

Um silêncio pesado tomou conta do quarto, enquanto ela olhava para as mãos entrelaçadas sobre o seu colo. Eu sabia que era muita coisa para absorver, mas ela já estava sem falar nada há tempo demais.

– Ela não corre nenhum risco – continuei. – Ela está a salvo.

– Mas ela perdeu a perna – disse baixinho e pude notar que ela estava chorando.

– Não é nada perto do que aconteceu. Ela quase morreu, Mag. Eu sei que não é o que a gente esperava, mas vamos tentar ver as coisas pelo lado positivo. – Segurei seu rosto e a fiz olhar para mim. – Além do mais, ela vai ter o melhor enfermeiro do mundo. O Tavinho está de sentinela na porta do quarto dela. Parece até um cão de guarda.

Relaxei um pouco quando ela sorriu, mesmo que ainda parecesse estar bem triste. Sentei na beirada da cama e me aproximei dela.

– Você não vai me dar um choque, né?

– Desta vez não. Eu prometo. – Toquei levemente na sua mão, para que ela confiasse em mim, mas ela se livrou do meu toque e me envolveu em um abraço apertado. Retribuí o abraço, sentindo-me muito menos tenso.

Ela se afastou levemente e me fitou com um sorriso nos lábios. Tornei a me aproximar e a beijei com delicadeza, mas batidas na porta atrapalharam nosso momento.

– A Dani acordou – disse o Tião na porta. – Ela quer te ver.

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now