Capítulo XLIX - TONHO

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Sara anda tão distante, que até o Tonho já notou isso.

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Algumas coisas são imperceptíveis a nossa visão. Já outras são tão gritantes que chega a ser uma ofensa fingir não enxerga-las. Outras, no entanto, começam pequenas e vão ganhando proporção com tempo. E o sumiço da Sara se encaixava nesse terceiro quesito.

Ela nunca fez o tipo esquiva e muito me admirou quando eu finalmente entendi que ela realmente estava me evitando a todo custo, mesmo que não tenha havido nenhum conflito entre nós. Fiquei em dúvida sobre procura-la ou não, já que eu sabia como ela se sentia quando sua coragem era colocada a prova, mas a situação chegou a tal ponto que não vi outra solução cabível.

Como eu já vinha reparando nas suas atitudes esquisitas, notei que ela esperava todos irem para a cama para depois subir sem ser questionada. E foi nesse momento que a peguei no pulo.

– A gente pode conversar? – perguntei, quando a encontrei escondida na cozinha.

Sem saber o que fazer – já que eu a pegara desprevenida – ela concordou e me seguiu de cabeça baixa até a calçada. Sentamo-nos lado a lado e eu finalmente fiz a pergunta que martelava a minha cabeça há dias:

– Você está me evitando?

Ela respirou fundo e soltou, de olhos fechados:

– Estou. Desculpa. – Então abriu um dos olhos. – Deu pra perceber, né?

– Não precisa ter super visão para perceber isso. – Sorri, tentando dissipar o clima estranho que tentava se formar.

Ela sorriu sem graça em resposta.

– Foi alguma coisa que eu fiz? – insisti.

– Não! – respondeu, enfática até demais. – De jeito nenhum, Tonho. Você não fez nada de errado.

– Então...

– Eu não estou sabendo lidar com essa situação. As coisas sempre foram estranhas entre nós dois e, de repente, fomos ficando cada vez mais próximos até chegar numa situação que... – suspirou. – Eu nem sei descrever a situação.

– Você preferia as coisas como eram antes?

– Não. Mas antes eu saberia como agir. Eu te xingaria ou te constrangeria e tudo voltaria ao normal – disse, encarando o chão. – Mas agora eu...

Sua voz morreu aos poucos até sobrar só o silêncio constrangedor que insistia em se fazer presente.

Eu entendia perfeitamente o que ela queria dizer, porque eu também me sentia assim. Eu só não conseguia ser tão transparente quando a Sara.

– Eu vou ser franca como eu acho que nunca fui – começou. O constrangimento presente em sua voz. – Eu gosto de você, Tonho. Gosto de verdade e é por isso que essa confusão está acontecendo. Eu tento me convencer que não tem nada a ver, mas meu coração insiste em disparar quando você chega perto.

Não pude evitar um sorriso, mesmo sabendo que talvez ela fosse se ofender. Antes que ela tivesse oportunidade de recuar, peguei sua mão – e vi a surpresa em seus olhos – e coloquei sobre o meu peito. Meu coração também estava disparado e as minhas mãos suavam. Isso já vinha acontecendo há algum tempo e, assim como ela, eu estava tentando ignorar.

Ao notar que eu me encontrava na mesma situação, ela sorriu sem graça.

– Eu não entendo – insistiu, confusa. – Você é tão bonitão. Podia escolher qualquer garota.

Ri com a sua sinceridade. Depois de tanto tempo convivendo com ela, eu ainda me surpreendia com a maneira como dizia o que viesse a sua cabeça.

– Você é linda, Sara. Eu que sou um idiota por ter demorado tanto para perceber isso.

Ainda mais envergonhada, ela voltou a encarar o chão, mas desta vez segurei seu rosto. Aproximamo-nos aos poucos um do outro até que nossos lábios se tocaram num beijo leve e esquisito. Mesmo contrário a tudo o que eu acreditava, nada naquele momento me parecia mais certo. Quando finalmente nos afastamos ela riu.

- Isso é bem esquisito.

- E você vem dizer isso pra mim? – zombei.

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E eu posso com tanta fofura?? <3 <3 <3

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Beijão e até amanhã


As Últimas Cobaias - Livro 3Onde as histórias ganham vida. Descobre agora