Capítulo XXX - MAG

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Joca foi atrás dos pais, mas Mag não quis deixar ele ir sozinho


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- Que tédio! - exclamei, irritada.

- Você veio porque quis, então pare de reclamar – tornou o Joca, igualmente sem paciência.

Quando eu o vi saindo de manhã cedo, resolvi segui-lo e ele, bom observador que é, me pegou com a boca na botija dois quarteirões a frente.

- Por que você acha que eles vão voltar aqui? - perguntei.

- Eu não acho nada. É só um palpite.

O silêncio reinou, vez ou outra interrompido por meus muxoxos ou bufadas. Sempre que eu fazia isso o Joca me encarava com desdém. Foi um dia bem longo.

Quando já estava anoitecendo – e eu, quase cochilando – o Joca se levantou com urgência e saiu correndo. No impulso, corri atrás dele e me assustei de verdade quando o vi segurando um homem pelo camisa e gritando:

- Seu desgraçado! - Ao notar que a mulher se afastara um pouco, ele tornou: – Você também.

Os dois o encaravam com a mais pura incredulidade. Eles não pareciam tê-lo reconhecido, o que eu até compreendo, já que não o viam há muitos anos.

Até que a mulher se aproximou receosa, expressando em seu olhar uma certa surpresa.

- João Carlos? - arriscou a mulher. - É você, meu filho?

Aqueles dois eram a mais pura imagem da decadência. Até mais do que nós mesmos.

- Não me chame de filho! - tornou o Joca, com os dentes cerrados, ainda sem soltar a camisa do homem. - Vocês destruíram a minha vida!

Aproximei-me lentamente dele e toquei-lhe o ombro com o máximo de delicadeza possível. Mesmo sabendo qual seria sua reação ao encontrá-los, eu estava com medo.

- Vamos embora, Joca.

- Eu não vou embora antes de entender por que eles fizeram isso – esbravejou.

Afastei-me assustada e fiquei apenas assistindo àquela cena deplorável.

- Anda! Fala de uma vez! - insistiu aos gritos.

- Eu não sei – respondeu o homem, abrindo a boca pela primeira vez. - Não foi uma opção nossa. Eles simplesmente tiraram vocês dois da nossa vida.

- Porque vocês não estavam nem aí para nós dois!

- Dois? - perguntei, não controlando a curiosidade. - Eu não sabia que você tinha um irmão.

- Ele era a pessoa mais importante da minha vida, mas até isso esses canalhas conseguiram tirar de mim! - tornou, com a voz embargada.

Reparei que minhas mãos tremiam, enquanto eu presenciava aquela cena. O homem ainda apresentava a mesma expressão de medo, enquanto a mulher só parecia envergonhada mesmo. Ninguém dizia nada e isso estava deixando a situação pior a cada instante.

- Vamos embora, Joca – insisti.

- Eu já disse que só vou embora depois de saber por que esses dois desgraçados destruíram a minha vida.

- Você acha que foi uma opção? - tornou a mulher, aproximando-se dele novamente. - Caso você não tenha notado, nós dois estamos no fundo do poço. Nós somos viciados, João Carlos.

- Deviam ter pensado nisso antes de ter filhos! - esbravejou, empurrando o homem para longe dele.

O homem cambaleou, mas não caiu. Aquela mulher tinha razão em dizer que estavam no fundo do poço, isso era totalmente visível.

- Vamos embora, Joca! - repeti pela terceira vez, mas desta vez um pouco mais autoritária.

Finalmente ele me encarou e pude perceber que grossas lágrimas desciam pelo seu rosto. Aproveitei o momento de distração e o puxei pelo braço. Ele não ofereceu resistência nenhuma e dali fomos embora no silêncio mais sepulcral que poderia existir.

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Chama a Cristina Rocha pra resolver esse caso de família, meu povo!!

Capítulo comemorativo de 100k. Espero que tenham gostado.

Beijão e até amanhã

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now