Capítulo LXXIX - TIÃO

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Era o grande dia da minha audiência e eu estava quase tendo um treco de tanta ansiedade. Essa história de borboletas no estômago não era bem verdade. Pareciam mais marimbondos, isso sim. Por mais que a Sara já tivesse me dito um milhão de vezes para me acalmar, eu simplesmente não conseguia.

Ela já tinha me ajudado a tomar um banho em uma casa qualquer e eu estava pronto, com documentos em mão e formulando um milhão de hipóteses sobre como eu impressionaria os jurados.

Cheguei ao local bem cedo. Acho que fui um dos primeiros e comecei a olhar os instrumentos. Não tinha nenhum violão lá, o que me deixou um pouco assustado. Só haviam violinos, violoncelos, um piano e alguns instrumentos de sopro que eu não fazia a mínima ideia de como tocar.

Aos poucos vi os outros candidatos chegando e minha tensão só aumentava. Todos estavam muito arrumados e chiques, com exceção de uma garota. Ela tinha o cabelo preso num coque esfarrapado e usava uma saia estampada que ia até o pé. Achei engraçado quando a vi se aproximando de mim.

– Você também vai fazer o teste? – indagou.

– Acho que sim – respondi, temeroso.

– Valentina, mas todos me chamam de Tina – tornou, dando a mão para que eu apertasse.

– Tião. – Apertei sua mão.

– Vamos mostrar pra esses mauricinhos quem é que manda nessa joça – sorriu e voltou para o lugar onde estava.

Tentei sorrir, mas eu estava nervoso demais para isso.

*

Finalmente chamaram o meu nome. Segui até a porta e a abri. A sala era ampla e iluminada. Três pessoas – um homem e duas mulheres – estavam sentados em cadeiras almofadadas com uma prancheta na mão. Eram os jurados. No centro da sala havia uma única cadeira e um piano logo ao lado. Nos fundos, alguns instrumentos distribuídos.

– Bom dia... Sebastião – disse uma das mulheres, de forma automática. – Escolha seu instrumento e fique à vontade.

Tentei parecer o mais firme possível, mas acho que não me saí muito bem. Minhas mãos tremiam e eu sabia que isso ia acabar atrapalhando minha performance – que eu não tinha ideia de como ia ser.

Caminhei apressado até onde os instrumentos estavam dispostos peguei o violoncelo. Não sei porquê, mas acho que foi o que mais me chamou a atenção. Sei lá.

Sentei-me na cadeira e posicionei o violoncelo no meio das minhas pernas, o lugar onde eu achava que deveria ser. Segurei o arco – que eu só soube seu nome porque ouvi alguns dos candidatos conversando sobre isso – e friccionei ele sobre as cordas. Um som esquisito soou e senti minhas bochechas queimarem. Tentei novamente e mais uma vez, não obtive êxito.

Neste instante, minhas mãos tremiam tanto que nem se eu soubesse fazer alguma coisa, conseguiria. Ouvi suspiros impacientes e não tive coragem de olhar para os jurados.

– Está tudo bem, Sebastião? – indagou uma das mulheres.

– Está – respondi, tentando me acalmar.

Após um instante de silêncio, respirei fundo e tentei novamente, mas pelos sons, parecia mais que eu estava dando uma surra no instrumento ao invés de tentar tocá-lo.

Minha vontade era largar aquele arco no chão e correr para o mais longe dali, mas eu estava petrificado de tanta vergonha. Sem conseguir tirar os olhos do chão, ouvi uma das mulheres se aproximando de mim – soube pelo som do salto alto batendo no piso. Ela se agachou ao meu lado e perguntou, quase num sussurro:

– Você nunca tocou um violoncelo, né?

Sem conseguir encará-la, neguei com um movimento de cabeça.

– Deu pra perceber – riu, mas sem o menor tom de deboche em sua voz. – Você toca algum instrumento, Sebastião?

– Violão – respondi.

– E há quanto tempo você toca violão?

– Vários anos – disse, sem saber precisar.

– Aprendeu com quem?

– Sozinho.

– Nós vamos te dispensar, porque você não passou no teste, mas me espere na saída que eu quero conversar com você.

Ela levantou-se e voltou para a sua cadeira. Após alguns instantes de cochichos o homem me dispensou e eu saí daquela sala tão rápido quanto um raio.

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Tadinho do Tião. O que será que a mulher quer conversar com ele?

Não esqueçam do voto e do comentário.

Beijo e até amanhã.

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now