Capítulo CXII - ZECA

1.3K 221 114
                                    


Conforme o combinado, lá estávamos eu e a Malu. Já tinha anoitecido e seguimos em silêncio até a casa da Suzana. Se eu estava desconfortável com a situação, os outros estavam muito mais. O Tonho mesmo, parecia que nunca tinha estado em uma casa antes.

– Sejam bem-vindos – disse a Suzana, assim que nos viu. – A Fernanda está resolvendo alguns detalhes, mas logo estará aqui. Eu acho que o Zeca já deve ter explicado tudo a vocês, né?

Todos concordaram, enquanto sentavam-se na sala. Alguns nos sofás, outros no chão, já que éramos em onze pessoas.

– Esses são Tonho, Tião, Sara, Mag, Dani, Iolanda e Joca – disse, apontando para cada um deles. – Eles também estão interessados em ouvir sobre o plano.

– Eu pedi ao Zeca que trouxessem vocês até aqui – começou, muito séria. – Eu soube que todos os outros planos de vocês não funcionaram muito bem e eu queria poder ajudá-los, porque assim como vocês, eu também quero acabar com aquela injustiça.

– E o que você ganha com isso? – indagou o Tonho, desconfiado.

– Não ganho nada, assim como vocês – respondeu. – Esse tipo de vingança não é um troféu que eu vá me orgulhar em expor. Mas o que eles fazem é errado e eu não quero compactuar com isso.

Sem se abalar, o Tonho apenas concordou com um meneio de cabeça.

– Apesar de termos muita ajuda desse lado, ainda não temos ninguém que possa nos ajudar lá de dentro e isso é ruim – continuou ela, fazendo uma careta.

Interrompendo um coro de grunhidos e muxoxos, a Mag abriu a boca pela primeira vez naquela reunião.

– Eu acho que conheço uma pessoa lá de dentro que pode nos ajudar.

– A enfermeira! – exclamou a Dani, estarrecida. – Como eu não pensei nisso antes?

Ao notar a interrogação na cara da Suzana, ela se apressou em explicar.

– Quando estávamos no hospital, uma enfermeira nos ajudava a burlar os experimentos e testes que eles faziam. Ela nos mantinha em uma ala abandonada do hospital e levava comida para nós duas – explicou, animada. – Eu acho que consigo entrar em contato com ela.

– Faça isso, por favor.

Enquanto algumas conversas paralelas surgiram, ouvimos a porta sendo destrancada e uma Fernanda animadíssima entrando.

– Que bom que vocês vieram hoje – começou, com um sorriso. – Eu consegui mais uma pessoa para lutar do nosso lado. Acho que quanto mais pessoas, mais fácil será a batalha, né?

Ela parecia animada. Como se tivesse conseguido angariar um guerreiro importantíssimo para a nossa causa. Sem perder tempo, ela abriu passagem e deixou que uma pessoa entrasse. Uma pessoa não. Um monstro.

– Esse é o doutor... - começou a Fernanda.

– Nós sabemos muito bem quem é esse verme – grunhi, interrompendo-a.

– Isso aqui é alguma brincadeira? Porque, se for, é de muito mau gosto – disse a Malu, levantando-se.

Ela estava tensa e eu podia compreender perfeitamente o motivo de todo esse alarde.

– Eu sabia que não devia ter vindo – resmungou o Tonho, já se encaminhando para a porta.

Tomados pela indignação e pelo medo, os outros fizeram a mesma coisa, mas então a Fernanda se colocou na frente da porta, impedindo a passagem de todos.

– Vocês não podem estar falando sério! – insistiu.

– Você sabe quem é esse cara? – indaguei, revoltado. – Sabe o que ele fez para nós? Sabe tudo o que a Malu sofreu por causa desse desgraçado?

– Você quase destruiu a minha vida, sabia? – argumentou ela. – Eu estou morrendo de vontade de te mandar para o inferno, doutor, porque assim, você teria que dar um jeito de realmente ir para lá.

– Não vale a pena, Malu – disse a Helô. – Ao contrário desse cara, a gente tem consciência e você não vai querer se sentir culpada pela morte de um monte de lixo como esse.

– Sai da frente da porta, Fernanda – insistiu o Joca. – Nós não vamos ficar mais um minuto na presença desse cara.

Enquanto todos gritavam e discutiam sobre ficar ou não naquela sala, perdemos alguns minutos e então a Malu segurou o meu braço com força.

– Vamos ouvir o que esse imbecil tem a dizer – disse, quase num sussurro.

– Como é que é?

– Todo mundo tem direito a contar sua versão da história, não tem? – insistiu, parecendo não ter se convencido com o que ela própria dizia.

Boquiaberto, atendi ao pedido inusitado da Malu. Todos ficaram nos olhando, como se fôssemos aberrações. Para ser bem franco, eu mesmo estava me sentindo uma aberração por estar prestes a dar ouvidos a esse cara.

– Acho que essa vai ser uma batalha difícil. Para conseguirmos alcançar nosso objetivo, vamos ter que fazer concessões – disse a Suzana, tomando a frente novamente. – Eu sei que vocês não estão satisfeitos em estarem ao lado desse homem. Eu também não estou. Mas precisamos de toda ajuda para que isso dê certo.

Todos voltaram para os seus lugares, mesmo que a contragosto, o que eu não entendi muito bem.

– Eu acho que eu devo uma explicação – começou o doutor, pouco à vontade. – E eu darei essa explicação no momento correto. Por hora, só gostaria de deixar claro que, assim como vocês, eu também quero acabar com aquele lugar, então, no fim das contas, dessa vez estamos do mesmo lado.

– Você foi o responsável pela morte das nossas mães – acusei-o, com raiva. – Como você quer que a gente confie em você?

- Eu não tive nada a ver com aquilo. – Ao notar a expressão de incredulidade que todos lhe lançaram, ele continuou: – Eu não dou a mínima se vocês acreditam em mim ou não, mas eu não tive nada a ver com aquilo.

Ninguém se convenceu com aquele papinho do médico. Estava nítido na cara de cada um de nós.

– Acho que já tivemos emoções demais para uma noite – começou a Suzana. – Eu só peço a cada um que pense muito bem sobre isso. Vocês estão dispostos a passar por cima do próprio orgulho para fazer o bem àquelas crianças que ainda estão lá? Porque se não estiverem, é melhor desistir antes mesmo de começar.

De má vontade, todos concordamos e voltamos para casa. Dessa vez a Suzana não nos deu carona, pois não caberíamos todos no seu carro. Seguimos em silêncio até deixar todos os outros em casa. Agora que estávamos só eu e a Malu, era hora de fazer a pergunta que estava martelando na minha cabeça:

– Por que você resolveu ouvir aquele cara?

*******************

O que deu na Malu?? D:

Votem e comentem bastante <3

Beijão e até amanhã

As Últimas Cobaias - Livro 3Where stories live. Discover now