Capítulo 63 | Limites

43 6 12
                                    

— Eu não poderia ter dito melhor. — O Senhor do Tempo parabenizou a Senhora dos Rios.

Perplexos e com medo, Tethys, Oceanos, Phoebe, Epimetheus e Helios cerraram as mãos, armando suas rajadas mais poderosas. Contudo, no momento exato em que os golpes iam ser disparados, Chronos paralisou o tempo, interrompendo o ataque.

— Eu me pergunto. — Ele disse melancólico. — Porque Helios disparou contra mim? — E se dirigiu tranquilamente até o Senhor do Sol, passando próximo ao seu punho carregado de energia. — Será que, no último segundo, ele concordou com Tethys? — Questionou parando perto do rosto do irmão. — Será que ele me atacou no impulso de querer proteger nossa família? — Refletiu analisando a expressão ambígua do Senhor do Sol. — Ou será que ele tem sentimentos por Phoebe? — Suspeitou intrigado. — O que você acha Prometheus?

— Não sei dizer. — Ele respondeu cauteloso.

— Apesar de ser o Senhor do Pensamento, você não é capaz de saber o que os outros pensam, não é?

— Não. Embora, assim como o tempo, meu domínio também seja de essência abstrata, ele age de forma indireta e fragmentada. Ou seja, eu sou apenas parte da construção do pensamento, por isso não tenho controle sobre ele.

— O mesmo acontece com o domínio de Epimetheus, certo?

— Certo.

— Melhor assim. — Sorriu irônico. — Mas isso não te impede de querer saber de tudo.

— Não mesmo. — Disse confiante.

— Cuidado. — Advertiu em tom de ameaça. — É perigoso querer saber de mais.

— Nem sempre. — Retrucou. — Agora, por exemplo. Eu não te ataquei porque quero saber o que está acontecendo com você. Se não fosse por isso, eu estaria paralisado junto com nossos irmãos.

Chronos deu um sorriso apático e disse:

— Existe uma limitação no meu poder que você vai gostar de saber. Na verdade, eu não sou capaz de paralisar o tempo. Pelo menos não totalmente. O que consigo fazer é deixar a passagem do meu domínio tão lenta que, para nós dois, que não estamos sob o efeito desse poder, o tempo parece parado. Mas, isso não é o mais interessante. O mais interessante é que, por causa dessa barreira, nossos irmãos não percebem a lentidão do tempo. Para eles, meu domínio continua fluindo normalmente e nós estamos nos movendo muito rápido.

— Isso quer dizer que, toda vez que você muda a velocidade temporal, uma nova referência de passagem do tempo é criada?

— Exatamente.

— Então, nesse momento, nossos irmãos estão no passado em relação a nós que estamos no presente?!

— Quase isso. Eu diria que eles estão vivendo em um presente expandido. Pois, apesar de parecerem atrasadas para nós, as ações deles permanecem em progresso. Não foram concluídas.

— Entendi. — Afirmou sério e pensativo. — Depois de toda essa explicação, posso deduzir que, assim como você não pode paralisar o tempo, você também não pode voltar ao passado e modificá-lo. Caso contrário, você já teria impedido o ataque de Urano e tudo o que estamos vivendo agora seria completamente diferente, estou certo?

— Está. — Disse frustrado.

— E o futuro? — Perguntou apreensivo. — Você consegue acelerar o tempo somente para si mesmo?

Incomodado, Chronos saiu de perto de Helios, foi até Prometheus, do outro lado do círculo, e falou:

— Eu consigo me mover para o futuro. Mas o custo de energia é alto demais, tornando essa habilidade muito difícil de ser usada.

O Senhor do Pensamento olhou bem para o irmão e disse:

— Limite. Esse é o problema, não é? É isso o que está acontecendo com você.

Enigmático, Chronos voltou a andar, deixando os Titãs para trás.

Prometheus o seguiu e perguntou:

— Mas quem, ou o quê, teria poder para impor limites ao Senhor do Tempo?

— Quem teria poder para impor limites a todos nós. — Chronos respondeu sombrio. — Essa é a pergunta que você deveria fazer. — Instigou. — Mas, como Tethys disse, será que isso realmente importa? Será que importa quem, ou o que, quando não há nada que se possa fazer para quebrar esse limite?

Então, uma lágrima escorreu pela face abatida de Chronos. O Senhor do Tempo fechou os olhos, baixou a cabeça e cruzou as mãos atrás das costas, libertando os Titãs da lentidão de seu domínio. As poderosas rajadas foram disparadas e se encontraram no centro do círculo. Uma bolha de energia se formou no ponto de convergência, emitido um poderoso som de impacto. Apavorado, Prometheus olhou para trás. Em um segundo, a erupção energética inflou, envolvendo seus irmãos, e, no instante seguinte, explodiu, subindo ao céu como uma coluna incandescente e deixando os Titãs feridos no chão.

THEOGENESIS | Livro Um | Os Deuses e o MundoWhere stories live. Discover now