Capítulo 44 | Reencontro

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O dia havia nascido há algumas horas. Mesmo assim, a lua continuava brilhando forte ao lado do sol.

Na praia dourada, onde o rio Pineios encontra o mar Egeu, o Senhor do Tempo olhou esperançoso para os Senhores das Águas logo a sua frente.

Bem como os irmãos perfilados atrás de Chronos, Tethys e Oceanos tinham recuperado a tonicidade de seus corpos. Contudo, os ferimentos causados pelo ataque de Urano ainda precisavam de mais energia para cicatrizar.

Emocionado, o Senhor do Tempo encaminhou-se para a Senhora dos Rios e ambos se deram um abraço rápido, porém forte. Em seguida, Chronos e Oceanos apertaram o antebraço um do outro e bateram seus ombros.

Depois da despedida, os Senhores das Águas se dirigiram para seus respectivos domínios. Sorrindo, Tethys entrou no rio Pineios e continuou andando até desaparecer, encoberta pela correnteza. Oceanos fez o mesmo no mar Egeu, sendo acolhido por suas águas assim que passou a arrebentação das ondas.

Com o tempo ao seu dispor, Chronos e os outros Titãs seguiram felizes para o norte, caminhando na faixa de areia entre a costa do Golfo Termaico e a Cordilheira do Leste, até chegar à base do Monte Olimpo, o ponto mais alto da Tessália, cujo pico esbranquiçado se erguia além das nuvens.

Acompanhado pelos irmãos, Chronos começou a subir a montanha, andando sobre o veio menos íngreme. Após alguns instantes, a temperatura caiu de repente e Prometheus, o último da fila, observou Phoebe, atrás de Chronos, se deliciar com o ar frio, inspirando-o de maneira profunda. Em seguida, ele reparou em Epimetheus esfregando os próprios braços e reclamando do vento cortante. Depois, olhou para Helios, e percebeu o solo gelado derreter e soltar uma fumaça, que se dissipava no ar, a cada passo do irmão. Curioso, Prometheus apanhou um pouco da neve macia e a espremeu com as pontas dos dedos. Então é assim que a água circula entre o céu e a terra, ele pensou surpreso enquanto atravessava as nuvens.

Chegando ao topo do monte, todos ficaram maravilhados diante da beleza e vastidão do mundo visto de cima. Especialmente o Senhor do Tempo, cujo senso de responsabilidade se encheu de orgulho.

— Aqui é o lugar mais próximo de seus domínios. — Chronos falou para Helios e Phoebe. — Recuperem-se logo. — Desejou comovido.

Contente, a Senhora da Lua se aninhou no peito do irmão e recebeu um afago em seus cabelos prateados. Depois, Chronos segurou os ombros de Helios com firmeza. Agradecido, o Senhor do Sol o abraçou.

Descendo a encosta da montanha pelo lado oposto de onde vieram, o Senhor do Tempo e os Senhores do Pensamento foram embora do Monte Olimpo. Quando eles sumiram entre as nuvens, Phoebe sentiu o olhar de Helios querendo conversar. Ainda ressentida com a morte de Éolos, ela virou as costas e se distanciou alguns passos, sendo iluminada pela luz prateada de seu domínio. Cabisbaixo, Helios se colocou sob o sol e foi banhado por sua luz dourada.

Já na planície, Chronos havia desacelerado o tempo do mundo de tal forma que ele e os Senhores do Pensamento atravessaram o rio Pineios com apenas um passo. Mas, logo depois disso, Chronos iniciou a redução do deslocamento temporal de modo gradativo.

— O que é aquilo ali na frente? — Epimetheus disse de uma hora para a outra.

Prometheus apertou os olhos, procurando enxergar melhor o que poderia ser aquele buraco enorme no chão, e, abismado, proferiu:

— É a cratera aberta pelo raio de Urano.

— Exatamente. — Chronos confirmou pesaroso conforme terminava de devolver o mundo ao fluxo normal do tempo.

Os Senhores do Pensamento pararam diante da cratera e, com pavor e espanto, olharam um para o outro.

— Me desculpem por trazer vocês aqui desse jeito. — O Senhor do Tempo disse soando arrependido. — Mas essa foi a única maneira que eu encontrei de acelerar a recuperação de vocês.

Um silêncio longo e incômodo se instaurou naquela hora. Os Senhores do Pensamento relembraram a dor de serem devastados pelo relâmpago do Senhor do Céu e Chronos se culpou ao ver os irmãos sofrerem por sua causa mais uma vez.

— Chronos. — Prometheus disse sério. — Se quiser continuar o seu caminho, pode ir.

— Por quê? — Questionou temendo descobrir que eles estavam com raiva.

— Quero repassar cada etapa de nossa luta contra Urano. — Esclareceu com uma animação genuína. — Medindo o alcance de seus golpes, podemos saber quanta energia ele era capaz de manipular.

— Eu também quero ficar para ajudar. — Epimetheus anunciou efusivo.

Aliviado por saber que a tentativa de aproximar os irmãos de seus domínios abstratos havia funcionado, Chronos segurou o pescoço de ambos, puxou as cabeças deles de encontro a sua própria testa e, após alguns segundos, os afastou dizendo:

— Vou deixar vocês sozinhos agora. — E seguiu para o sul, avançando dezenas de estádios através do tempo.

Sem demora, Prometheus, seguido pelo irmão, correu para o centro da cratera. Olhando absorto para os escombros que fechavam o túnel, por onde os Titãs foram jogados no Tártaro, o Senhor do Pensamento Antes da Ação falou baixo:

— Erebos.

— O que disse? — Epimetheus perguntou.

— Preciso que você me faça um favor. — Prometheus respondeu.

THEOGENESIS | Livro Um | Os Deuses e o MundoWhere stories live. Discover now