Capítulo 39 | A Comoção do Tempo

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Assim que saiu da caverna, Chronos desceu pela encosta da montanha e seguiu pelo terreno plano, ponderando qual seria a maneira mais respeitosa de dispor os corpos de seus irmãos. No primeiro instante, ele considerou devolver cada um ao seu respectivo domínio, acreditando que, de alguma forma, isso diminuiria seu fracasso. Contudo, o Senhor do Tempo não conseguiu pensar em um modo de levar Phoebe e Helios até a lua e o sol e nem como proceder com Prometheus e Epimetheus, cujos domínios eram de essência abstrata. Portanto, ele decidiu que iria enterrá-los no mesmo local onde Gaia havia morrido. Dessa forma, os Titãs retornariam para aquela que os trouxe ao mundo.

Chegando à base da Cordilheira do Leste, depois do lago Voivis, Chronos parou. Após hesitar alguns segundos amaldiçoando a si mesmo, ele ajoelhou e colocou seus irmãos deitados no chão, um ao lado do outro, organizados por ordem de nascimento. Inconveniente, o sol da tarde brilhava com toda sua potência. O Tempo enfiou as mãos no solo e cavou uma grande cova. Na sequência, repetiu a ação, alargando o buraco. Em seguida, olhou para Tethys e, arrasado, esticou o braço para pegá-la. Porém, antes que pudesse fazê-lo, Helios abriu os olhos e respirou com dificuldade. Mais feliz do que assustado, Chronos olhou boquiaberto para o irmão. Banhado pelos raios dourados, o corpo do Senhor do Sol recuperou a cor. Mas a pele enrugada e os ferimentos causados pelo relâmpago de Urano permaneceram. Emocionado, o Tempo diminuiu sua estatura para quatro côvados e correu até o titã. Apesar da melhora, ele ainda estava muito magro, parecendo alguém desnutrido. Porém, isso não impediu Chronos de colocá-lo de pé e dar lhe um abraço longo e apertado, que só foi interrompido pela respiração profunda de Tethys. Chocado, Chronos saiu dos braços do irmão, andou até a Senhora dos Rios e a levantou. Nesse momento, outra respiração anunciou que Oceanos também estava vivo. Logo depois, o mesmo aconteceu com cada um dos Titãs. As lagrimas voltaram aos olhos do Senhor do Tempo. Mas, desta vez, livrando-o da aflição do fracasso.

— Que bom que está vivo. — Tethys falou com a voz fraca.

— Graças a vocês. — Chronos disse ajudando Oceanos a ficar de pé. — Quero agradecer a todos.

— Não precisa. — Phoebe o eximiu, amparada por Helios.

— Sabemos que você faria o mesmo por qualquer um de nós. — O Senhor do Sol acrescentou, saindo do lado da irmã e indo ajudar Prometheus.

— E Gaia? Onde ela está? — O Senhor dos Mares quis saber.

O Tempo ficou em silêncio, procurando proteger os irmãos da dor. Mas seu rosto acabou revelando o que os lábios não tiveram coragem de falar.

Devastados pelo luto, os Titãs se entregaram ao pranto.

— Por favor. — Tethys disse revoltada. — Me diga que você matou Urano.

— Eu estourei a cabeça dele bem aqui. — Chronos falou apontando para baixo. — Onde estamos. — Reforçou com satisfação.

Apesar do sofrimento e do estado debilitado em que se encontravam, os Titãs se aproximaram do irmão com os olhos implorando para ele contar tudo o que aconteceu até ali. Comovido, o Senhor do Mundo contemplou cada um deles, respirou fundo e iniciou o relato:

— Não sei o motivo. Mas, depois de derrotar vocês, Urano jogou todos nós no Tártaro.

THEOGENESIS | Livro Um | Os Deuses e o MundoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt