Capítulo 20 | O Suplício da Terra

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No norte da planície, alarmada pelo estrondo que atingiu seus ouvidos, Tethys perguntou:

— Que barulho foi esse?

— Não sei. Mas acho que veio de onde nossos pais estão. — Prometheus respondeu, preocupado.

No oeste da Tessália, Gaia gritou, misturando desespero com lamento:

— Não! — E disparou uma rajada curta em Urano, obrigando-o a dobrar-se sobre um joelho.

Naquela ocasião, se estivesse enfrentando um inimigo qualquer, a Terra teria atirado sua poderosa rajada dupla e continuado lutando até o Céu estar totalmente derrotado. Porém, o sentimento por seu escolhido, oriundo de tudo o que eles haviam feito um pelo o outro, mais uma forte piedade involuntária, que surgiu de maneira inesperada, restringiu o ímpeto de ataque de Gaia.

— Se Chronos ainda estiver vivo, e você desistir de matá-lo, eu deixo você viver. — Ela disse apontando o punho carregado para a cabeça do Céu.

— Eu pedi. — Ele falou sentindo dor. — Para você ficar onde estava.

— Urano, eu sei que você está com medo. Mas não adianta...

— Você não sabe de nada. — Ele a interrompeu com a voz serena.

Logo depois, movendo-se rápido como um raio, o Céu agarrou o pulso da Terra e, voltando a ficar de pé, o empurrou para cima, desviando o disparo de Gaia para longe de sua cabeça. De imediato, a Terra contra-atacou, atirando uma rajada contínua com a outra mão. O Céu se defendeu, disparando o mesmo tipo de golpe, o que fez as energias espirrarem em todas as direções, bem ao lado de seus rostos, enquanto o solo tremia e rachava sob seus pés, devido à pressão causada pelo embate dos ataques.

— Me desculpe. — Urano disse encarando os olhos castanhos de Gaia, que refletiam o choque entre as torrentes energéticas. — Mas eu não posso permitir que Chronos me mate.

— O que você está dizendo? — A Terra questionou perplexa. — Chronos não quer te matar. Ele é seu filho. Nós somos uma família.

Família, ele repetiu em seu pensamento e se deu conta do significado de união, em prol da continuidade, carregado por aquela palavra.

Então, percebendo a estupidez que tinha acabado de cometer, o Céu jogou os olhos envergonhados de um canto ao outro das órbitas e, após se acalmar, cessou a rajada junto com a Terra.

Aliviada, Gaia respirou fundo e olhou para seu pulso ainda preso entre os dedos de Urano. Melancólico, o Céu admirou a beleza de sua escolhida, que tanto desejava, e lembrou como foi bom ver aquele rosto maravilhado quando ele criou a Cúpula Celeste, unindo seus domínios.

Contudo, sem aviso, Urano esmagou o pulso de Gaia.

Se eu morrer, jamais vou possuí-la de novo, o Senhor do Céu pensou ouvindo a Terra gritar de dor. Em seguida, disparou um pulsar no peito de Gaia, lançando-a ainda mais para o oeste. Se ela foi capaz de perdoar Helios, tem que me perdoar também, justificou para si mesmo.

THEOGENESIS | Livro Um | Os Deuses e o MundoWhere stories live. Discover now