Capítulo 57 | Nono dia - Implacável

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De baixo da rocha, Zeus olhou assustado para seu corpo, com medo de descobrir algum ferimento grave. Mas, graças à cavidade aberta pela rajada, que disparou no desespero do último instante, ele não foi espremido e sofreu apenas escoriações leves.

Aliviado, Zeus cravou os dedos na pedra e atirou outra rajada, desta vez longa, abrindo um grande rombo em seu esquife. Depois, em meio à densa nuvem de poeira que foi erguida, ele saltou para fora da rocha.

Na plataforma do pilar, Gaia esperava por Zeus, rodeada por inúmeras pedras de tamanho variado, que também haviam caído do teto durante o abalo da caverna, e agora flutuavam a sua volta, formando um cinturão ameaçador.

— Você escapou do primeiro ataque. — Ela disse séria. — Mas isso não é o bastante. Se quiser sobreviver ao Tártaro, deve ser capaz de chegar até mim. — E esticou o braço para frente, lançando três pedras enormes ao encalço do Filho de Chronos.

Antes que fosse atingido, Zeus pulou para trás e, uma após a outra, as rochas se espatifaram no chão. Ainda no ar, ele disparou dois pulsares, destruindo outras duas pedras que se aproximavam. Quando seus pés tocaram o solo, baixou a cabeça, desviando de mais um ataque. Nesse momento, uma rocha, da altura de Zeus, veio voando rente ao chão e o acertou pela esquerda, empurrando seu corpo para ser esmagado contra a parede. Enquanto era impelido por aquele projétil, ele percebeu outra pedra, ainda maior, chegando muito mais rápido. Sem poder pensar duas vezes, Zeus girou o corpo e passou para a parte de trás da rocha que o empurrava, usando-a como escudo. Em seguida, as duas pedras se chocaram ao mesmo tempo em que colidiram na parede, provocando um deslocamento de ar tão forte, que arremessou Zeus, e os destroços, a uma grande distância.

Aproveitando que o Filho de Chronos caiu estirado no solo, a Senhora da Terra atirou, de uma vez, todas as rochas ao seu redor.

Bastante machucado, Zeus ficou de pé, segurando o ombro dolorido, e sentiu um líquido quente e vermelho escorrendo de seus ferimentos. Em seguida, a onda de pedras, que se aproximava para soterrá-lo, atraiu sua atenção. Mas, naquele instante, Zeus conseguiu manter o desespero sob controle e vislumbrar uma pequena brecha no ataque de Gaia. Sem demora, ele disparou duas rajadas contínuas e moveu os braços para todos os lados, destruindo o máximo de pedras que podia. Então, quando a enxurrada de rochas estava sobre sua cabeça, Zeus encerrou os disparos e avançou correndo por de baixo do amontoado de pedras. Como uma chuva de meteoros, as rochas caíram atrás de seus passos e, assim que as últimas se despedaçaram no chão, ele deu um salto espetacular, descrevendo um grande arco ao encontro de Gaia.

Sorrindo, ela ergueu os braços devagar e mais pedras enormes surgiram flutuando de dentro do lago. Conectando-se umas as outras em pleno ar, as rochas montaram uma forma humanoide, com trinta côvados de tamanho, que se posicionou na frente da Senhora da Terra, soltando um soco para interceptar o Filho de Chronos.

THEOGENESIS | Livro Um | Os Deuses e o MundoWhere stories live. Discover now