Com vinte côvados de altura, Prometheus caminhava apressado rumo ao rio Pineios. Parando diante da margem, o Senhor do Pensamento diminuiu seu tamanho para quatro côvados, acendeu a aura, dobrou os joelhos e, com respeito, pôs a palma da mão na superfície da água. Em seguida, extinguiu a aura e removeu a mão, produzindo uma única onda circular, que se propagou pelo leito do rio. Pouco tempo depois, no centro do curso d'água, Tethys emergiu majestosa e seus pés pisaram na correnteza sem afundar.
— Seja bem vindo irmão. — Ela o saudou alegre.
— Obrigado. — Prometheus agradeceu de maneira formal.
— Em que posso ajudá-lo? — Questionou estranhando a apatia do irmão.
— Estou conhecendo melhor os domínios de nosso mundo. Por isso, peço permissão para usar suas águas até chegar ao mar.
A Senhora dos Rios olhou bem para o Senhor do Pensamento. Sinto uma agonia no fundo de sua voz. É como se algo ruim o incomodasse por dentro, ela pensou e, curiosa, disse:
— Eu lhe dou minha permissão.
Prometheus entrou no rio.
— Posso ir com você? — Ela quis saber, pronta para avaliar como o irmão iria reagir à sua pergunta.
— Claro. — Ele respondeu sereno.
Ainda desconfiada, Tethys submergiu.
Na sequência, o Senhor do Pensamento mergulhou e, para seu espanto, naquele local, o rio era raso e a correnteza tranquila, o que lhe permitiu admirar o modo como a água, verde e cristalina, envolvia os raios de sol em seu agito constante, fazendo-os desenharem linhas luminosas no chão de areia.
Logo depois, Tethys tocou o ombro do irmão, interrompendo seu deslumbramento. Após apontar para frente, ela posicionou o corpo na horizontal, esticou os braços e abriu as mãos, mantendo os dedos unidos. De imediato, Prometheus entendeu que deveria imitá-la e, quando se colocou ao lado dela, sentiu um forte empurrão.
Acelerados a uma velocidade altíssima, os dois começaram a percorrer várias curvas sinuosas e, para desviar das pedras que apareciam pelo caminho, assustando o Senhor do Pensamento, se movimentaram de maneira brusca em todas as direções. Mas, ao perceber como a irmã os conduzia cheia de confiança, Prometheus resistiu ao medo e passou a se divertir com o frenesi do perigo. Contudo, algum tempo depois, o percurso do rio se tornou mais retilíneo, e a viagem menos movimentada, transmitindo ao Senhor do Pensamento uma sensação agradável de conforto e liberdade.
Então, sem aviso, o impulso que os propelia foi encerrado e ambos desaceleraram aos poucos, indo parar no fundo do rio. Enquanto Prometheus tentava se localizar, olhando de um lado para o outro, Tethys tomou distância, acendeu a aura e deu um soco na água, produzindo uma ondulação circular que se propagou até sumir de vista.
Instantes depois, algo surgiu mais à frente, aproximando-se muito rápido e causando grande turbulência. Era Oceanos que, num piscar de olhos, parou diante dos irmãos, obrigando-os a inclinar seus corpos e cravar os pés na areia para resistir ao deslocamento de água.
Assim que a turbulência terminou, os Senhores das Águas seguraram as mãos do Senhor do Pensamento e emergiram com ele. De pé sobre o mar Egeu, os três se encontraram rodeados pelo Golfo Termaico. Com o sol brilhando sobre suas cabeças, Tethys e Oceanos soltaram as mãos de Prometheus, que olhou para baixo, impressionado por não afundar.
— Sejam bem vindos irmãos. — Oceanos os saudou alegre. — O que traz vocês ao meu domínio?
— Antes de responder. — Prometheus disse olhando para Tethys. — Devo pedir desculpas por ter mentido para você, irmã. Conhecer melhor os domínios de nosso mundo não é meu único objetivo.
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THEOGENESIS | Livro Um | Os Deuses e o Mundo
FantasyTestemunhe a incrível origem das Gerações Divinas e sua luta fatal pela soberania do mundo.