Capítulo 46 | Vítimas do Destino

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O sol brilhava forte quando Prometheus galgava os últimos côvados da encosta do Monte Otrhys, o ponto mais alto da Cordilheira do Oeste que, naquele local, após descrever uma curva, delimitava o sul da Tessália pouco antes de morrer banhada pelo Golfo Volos, na margem oposta à Península da Magnésia.

Ao alcançar o cume da montanha, o Senhor do Pensamento Antes da Ação encontrou o Senhor do Tempo com os braços cruzados atrás das costas, contemplando o mundo estendido aos seus pés feito um monumento dedicado à resiliência, e sentiu um profundo respeito pela força de vontade do Titã. Pois, ao invés de escolher o outro monte, onde haviam deixado Phoebe e Helios, para ser sua morada, Chronos escolheu justo aquele, cuja localização era mais próxima ao lugar da morte de Gaia.

— Seja bem vindo irmão. — O Senhor do Tempo o saudou com alegria.

— Obrigado. — Prometheus agradeceu de maneira espontânea e, admirando a planície, parou ao lado de Chronos.

Quando viu o mundo de cima pela primeira vez, no topo do Monte Olimpo, o Senhor do Pensamento ficou maravilhado com a beleza e a amplitude proporcionadas por aquele ponto de vista. Mas ali, no alto do Monte Otrhys, uma segunda observação lhe permitiu enxergar além da estética e reparar que, por de trás daquela paisagem perfeita, parecia existir uma ordem precisa interligando os domínios físicos uns aos outros. Tudo aparenta ser exatamente o que deveria, como se não pudesse ser diferente, ele pensou curioso.

— Fico feliz que esteja recuperado. — Chronos disse olhando para o irmão.

— Graças a você. — Prometheus reconheceu.

— Isso é o mínimo que eu poderia fazer depois de vocês arriscarem suas vidas por mim. — Declarou, satisfeito. — Epimetheus ainda está refazendo os passos da luta contra Urano?

— Sim. É uma tarefa demorada.

— E vocês precisam da minha ajuda para diminuir esse tempo. — Deduziu colocando-se à disposição.

— Na verdade, vim aqui pedir para você me contar mais sobre Erebos.

— Me desculpe. — Disse sentindo-se negligente e também receoso. — Você perguntou isso antes e acabei esquecendo. Mas, por que você quer saber tanto sobre ele? — Questionou intrigado.

— Pretendo ir para o Tártaro descobrir como Erebos continuou existindo após a morte. Acredito que, só assim, podemos compreender por que nossa mãe não se tornou um espectro.

Assolado pelo medo dos Titãs descobrirem o que ele havia feito com seus próprios filhos, Chronos olhou na direção da Cordilheira do Leste e procurou pelo local próximo ao lago Voivis.

— Pensei muito sobre isso desde o dia em que ela morreu. — O Senhor do Tempo falou consternado. — E concluí que o ódio por Urano é o responsável por manter Erebos existindo. — Fez uma pausa. — Apesar de todo sofrimento, nossa mãe não demonstrou nenhuma vontade de vingança quando seu corpo se desfez em meus braços.

— Se você estiver certo. — Prometheus disse pensativo. — Isso levanta uma série de outras questões.

Incomodado, Chronos pôs a mão pesada sobre o ombro do irmão e investigou seus olhos. Talvez, Prometheus não tenha vindo aqui por vontade própria. Talvez, sem que ele saiba, as Moiras estejam puxando os fios de seu pensamento para produzir palavras tão obstinadas, ponderou.

— Prometheus, infelizmente, é impossível você ir para o Tártaro. — Disse em seguida.

— Como assim? — Quis saber, espantado.

— Não mencionei isso antes por que achei desnecessário. Mas agora é melhor você saber. — E retirou a mão do ombro do irmão. — Quando retornei para buscar vocês, Erebos me fez prometer que eu impediria qualquer um de entrar em seu domínio. Desde que se vingou, ele quer evitar qualquer coisa que lembre seu desejo por Gaia. — Fez outra pausa. — Você sabe que a ajuda de Erebos foi fundamental para eu derrotar Urano. Por isso, espero que aceite minha decisão de respeitar o pedido do Senhor do Tártaro.

— Claro que aceito. — Prometheus disse sereno e admirou a planície mais uma vez. — Obrigado por tudo que me contou. — Agradeceu depois de um tempo. — Devo voltar e avisar Epimetheus que não vamos mais para o Tártaro. — E começou a ir embora com pressa.

— Irmão. — O Senhor do Tempo o chamou com firmeza.

O Senhor do Pensamento Antes da Ação parou, mas não olhou para trás.

— Esqueça o passado e pense no futuro. — Chronos advertiu. — Nós somos o legado de Gaia. Nós somos os Senhores do Mundo.

— Fique tranquilo. Estou sempre pensando no futuro. — Prometheus finalizou a conversa e desceu pela encosta do Monte Otrhys.

Aflito, o Senhor do Tempo encarou o mundo com olhos preocupados. No fim, somos todos vítimas do Destino, ele pensou.

THEOGENESIS | Livro Um | Os Deuses e o MundoWhere stories live. Discover now