Capítulo 26 | Revelação

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Mais à frente, depois do grande lago Voivis, Urano estava deitado ao lado de Gaia. Exausto, ele contemplava as nuvens carregadas, que cobriam a Cúpula Celeste, derramando sua água fecunda.

De bruços, a Terra não se movia. Apenas tremia.

Quando possuiu Gaia machucada daquela maneira, o Céu sabia como a exaustão consumiria a energia da Terra, interrompendo seu processo de cura e condenando-a morte. Mas, ele também sabia que se esperasse pela recuperação de Gaia, nunca mais iria satisfazer seu desejo, pois ela usaria todo o seu poder para tentar matá-lo novamente. Como a morte da Terra parecia inevitável em qualquer situação, o Céu decidiu saciar-se com ela pela última vez. Assim, antes de partir do mundo construído por eles, Gaia deixaria uma nova e bela prole, da qual ele poderia escolher uma filha para assumir o lugar dela ao seu lado.

O multicolorido desapareceu da aura de Chronos. Permitindo o ódio arrebentar dentro de si, ele desceu a encosta da montanha a toda velocidade e avançou sobre o terreno plano e enlameado, cujos limites eram demarcados pela base do Monte Pélion, que se abria como um arco até o lago.

Enquanto pensava como sempre poderia jogar os próximos filhos no Tártaro, caso algum deles ameaçasse sua vida, Urano se assustou ao sentir o solo vibrar sob as passadas de alguém chegando rápido e, quando conseguiu apoiar-se sobre os cotovelos para ver quem era, deparou com Chronos correndo enfurecido em meio à tempestade.

Apavorado, o Senhor do Céu tentou se arrastar para fugir dali e acabou esbarrando na Senhora da Terra, atraindo sua atenção.

Devastada, Gaia olhou para o lado e se emocionou ao ver o filho, que ela pensava ter morrido, passando o pé por cima do pai, cercando-o com as pernas, e armando o punho flamejante.

Em uma única expressão, Urano demonstrou raiva e arrependimento. Mas, desta vez, o remorso não era por ter atacado sua família e sim por ter desistido de matar o filho quando teve a chance.

Debaixo da chuva pesada, Chronos procurou consentimento nos olhos da mãe e recebeu deles cumplicidade total.

Sei que o Destino tensionou o fio de sua vida, jogando você contra mim, o Senhor do Tempo pensou voltando-se para o pai. Mas eu jamais perdoarei você por ter atacado minha mãe e meus irmãos, concluiu dando um soco no rosto de Urano e disparando uma rajada longa, que estraçalhou seu crânio.

O plasma do Senhor do Céu subiu relampejando de maneira feroz, atravessou as nuvens, eliminando a chuva, e se espatifou no topo da Cúpula Celeste, balançando toda sua estrutura.

Na entrada da caverna do Monte Pélion, o espectro de Erebos observava tudo com um sorriso vencedor em seu semblante. Em seguida, o Senhor do Tártaro pôs a mão na parede feita de rocha, a substância formadora de seu domínio e sobre a qual ele tinha controle absoluto. Depois, lembrou-se como isso o permitiu manipular a porção de rocha presente no corpo de Helios antes dele despertar e, assim, poder mantê-lo adormecido após o nascimento, provocando a explosão do sol.

Aquela havia sido a primeira tentativa de vingança de Erebos contra Urano e Gaia que, infelizmente, foi interrompida por Chronos, quando ele iniciou o primeiro dia, causando lhe uma grande frustração. Contudo, ao testemunhar o invólucro do Senhor do Céu ser decapitado da mesma maneira como o seu havia sido, a alegria estampada no rosto do espectro negro demonstrou toda a satisfação que ele estava sentindo consigo mesmo.

Afinal, Erebos havia aproveitado muito bem a oportunidade de usar Chronos para destruir Urano e ainda ficar com os Titãs como seus prisioneiros, cujas energias eram essenciais para o que ele pretendia fazer a seguir.

THEOGENESIS | Livro Um | Os Deuses e o MundoWhere stories live. Discover now