THEOGENESIS | Livro Um | Os Deuses e o Mundo

Capítulo 56 | Nono dia - Desconfiança

A Senhora da Terra tinha acabado de vedar a câmara com seu plasma quando, de repente, seus olhos reviraram para dentro das órbitas. Na mesma hora, Zeus ficou agitado por ver Gaia daquela maneira, pois, pelo o que a Senhora da Terra havia lhe mostrado nas chamas, essa era a forma como Réia se comunicou com ela no dia em que ele foi deixado na caverna.

Então, após alguns segundos, assim como havia começado, o transe de Gaia terminou e seus olhos voltaram ao normal.

— Aquele túnel vai levar você até sua família, quando seu treinamento acabar. — Gaia revelou apontando para uma das passagens atrás do pilar rochoso, na margem norte do lago.

— Ela disse mais alguma coisa?! Ela e meus irmãos estão bem?! — Zeus quis saber afobado, ao mesmo tempo em que se perguntava por que sua mãe não falou direto com ele.

— Não. Apenas sua localização. Provavelmente por causa de Erebos. — A Senhora da Terra respondeu.

Em seguida, o Filho de Chronos olhou para a passagem e ficou em silêncio, agoniado pelo fato de que, no fim daquele túnel, naquele exato momento, o Senhor do Tártaro fazia sua família sofrer.

— O que está pensando? — Gaia indagou impaciente.

Você tenta esconder, mas agora sei que tem absorvido minha energia, Zeus pensou virando-se com uma postura desafiadora para Gaia. O que pretende fazer com esse poder? Ponderou encarando os olhos da Senhora da Terra com desconfiança. Depois imaginou o espectro de Erebos sugando a energia de sua mãe e seus irmãos para algum objetivo escuso e, avaliando um confronto com Gaia naquele instante como uma atitude precipitada, afinal sua prioridade era completar o treinamento, o Filho de Chronos decidiu manter as dúvidas consigo por mais um tempo. Por isso, na sequência, ele disse sereno:

— Quantos dias?

— De caminhada ou de treinamento? — Ela inquiriu.

— Os dois.

— Com seu tamanho, você deve gastar um dia para chegar ao Tártaro. Quanto ao treinamento, só depende de você.

— Então, vamos começar logo.

O ímpeto inesperado do Filho de Chronos surpreendeu, e alegrou, a Senhora da Terra a ponto de fazê-la sorrir pela primeira vez após a morte de seu corpo. Por isso, logo que ele terminou de falar, um forte tremor sacudiu o solo sob seus pés, derrubando-o de costas no chão.

Antes de Zeus perceber o que estava acontecendo, o teto rachou, emitindo um estrondo digno de uma tempestade, e um pedaço gigantesco de rocha, repleto de colunas pontiagudas, se desprendeu, caindo com grande velocidade para esmagá-lo.

Num piscar de olhos, Gaia desapareceu dali e reapareceu sobre a plataforma do pilar no lago.

Apavorado, Zeus só teve tempo de disparar uma rajada curta contra a pedra enorme que, mesmo assim, o atingiu com seu peso imenso.

Logo depois, o som estridente do impacto reverberou pela câmara e, em seguida, deu lugar a um silêncio sepulcral.