THEOGENESIS | Livro Um | Os Deuses e o Mundo

Capítulo 25 | O Preço da Vingança

— Do que você está falando? — Chronos questionou temendo o que Erebos iria pedir em troca de sua ajuda.

— Você irá voltar à superfície. Mas seus irmãos ficarão aqui. Para sempre. — O Senhor do Tártaro afirmou com um sorriso mordaz.

— Impossível. Eu não vou abandoná-los.

— Se essa é sua escolha. — Fez uma expressão de desdém. — Sofra as consequências. — E intensificou seu brilho rubro.

Logo em seguida, feito filamentos ondulados, as energias dos Titãs começaram a emanar de seus corpos em direção a Erebos, que as absorvia em grande quantidade, se extasiando como se elas fossem substâncias inebriantes.

— Pare com isso! — Chronos gritou acendendo a aura, tentando impedir, sem sucesso, que sua própria energia fosse sugada.

— Você não está em condições de resistir ao meu ataque. — O espectro disse com desprezo.

Então, não foram somente os ferimentos causados pelo ataque de Urano que nos deixaram tão fracos, o Senhor do Tempo pensou abismado. Erebos está absorvendo nossas energias desde que chegamos aqui, concluiu sentindo a aura se extinguir e a consciência vacilar.

— E a sua vingança? — Chronos perguntou contraindo os músculos das pernas para não cair. — Como irá consumá-la sem mim?

— Você não entendeu. — Erebos disse em tom de pena. — Se não fosse pelo desejo distorcido do Céu e da Terra, vocês seriam minha prole e nós viveríamos em um mundo completamente diferente. Portanto, para mim, ter os filhos de Gaia e Urano presos, ou mortos, em meu domínio é uma grande compensação. — Olhou para os Titãs de maneira ardilosa. — O seu erro, Senhor do Tempo, é achar que um morto tem algo a perder. — E aumentou ainda mais a potência da luz rubra, acelerando a absorção.

— Não! — Chronos gritou exaltado. — Por favor, deixe-os viver. — Suplicou. — Eu mudo minha escolha.

Erebos sorriu novamente e parou de sugar as energias.

Vocês colocaram suas vidas em risco para me salvar, Chronos pensou observando os Titãs inertes no chão. Ao mesmo tempo, seus sentimentos produziram um ódio por Erebos tão grande quanto o que ele sentia por Urano. Por isso, irmãos, eu prometo. Não importa o que eu precise fazer. Vou encontrar uma maneira de resgatar vocês das profundezas do Tártaro.

— Nesse exato momento, Urano está possuindo Gaia. — Erebos disse interrompendo o devaneio de Chronos. — Ao fim da posse, sua energia estará esgotada, deixando-o exausto e vulnerável.

Minha mãe está viva, o Tempo pensou aliviado no primeiro instante. Mas se ela está sendo possuída, conjecturou estarrecido, e, logo depois, disse com urgência:

— Me mande para a superfície agora!

Sem demora, o Senhor do Tártaro colocou as mãos ao lado das têmporas do Tempo, lhe devolvendo sua energia e transferindo um pouco do que absorveu dos Titãs. — Essa carga será suficiente para você recuperar seu corpo e disparar um único golpe fatal. — Esclareceu. Depois apontou para o fundo da câmara e parte de uma parede rochosa ruiu em pequenos pedaços, abrindo um novo túnel. — Aquela passagem termina em uma caverna. Você vai encontrar Urano assim que sair do monte. Destrua a cabeça do Céu e celebre nossa vingança.

Chronos saiu correndo em disparada pelo túnel. Ao menos estou levando um pouco de meus irmãos comigo, pensou acendendo uma aura multicolorida. De imediato, os ferimentos iniciaram a cicatrização e a subida ficou mais fácil. Em seguida, ele aumentou a estatura para vinte côvados, multiplicando sua velocidade por cinco. Então, quando enfim avistou a luz do dia feito um pequeno ponto brilhante na escuridão, seus ouvidos captaram os gritos aflitos de Gaia. Intercalados com o estrondo das trovoadas de Urano, eles perfuraram seus tímpanos como se fossem agulhas em brasa. Angustiado, o Senhor do Tempo apressou os passos o máximo que pôde, chegando ao fundo da caverna e atravessando-a direto para a entrada. Porém, assim que passou pela abertura no Monte Pélion, o ponto mais alto no sudeste da Tessália, e seus olhos se ajustaram à luminosidade, Chronos parou de maneira repentina.

A chuva torrencial tinha acabado de começar a cair sobre o solo da terra.