THEOGENESIS | Livro Um | Os Deuses e o Mundo

Capítulo 27 | O Fim de uma Geração

O corpo de Urano se desfez e Chronos ajoelhou, pegando Gaia em seus braços. Para desespero do Tempo, o plasma de sua mãe escorria em grande quantidade, tanto pelas fissuras abertas nos pulsos esmagados, quanto pelas lacerações no corpo.

— Filho, eu não vou sobreviver. — A Terra afirmou com a voz enfraquecida.

— Não diga isso mãe.

— Pelo menos. — Ela disse usando o dorso da mão para erguer o queixo de Chronos e alinhar seus olhares. — Você me vingou. — Concluiu extravasando o ódio por Urano.

Chorando, o Tempo apertou a Terra contra o peito e encostou sua testa na dela.

— Filho. — Ela disse e fez uma pausa. — Seus irmãos?

— Eles estão vivos. — Ele respondeu apreensivo.

— Eles saíram do Tártaro com você? — Quis saber, respirando fundo.

Com medo de ser cruel, Chronos ponderou se deveria contar a verdade naquele momento. 

— Por favor. — Ela fez outra pausa. Desta vez mais longa. — Me diga o que aconteceu com eles? — Pediu sussurrando.

— Eles estão presos no Tártaro. Subjugados a vontade de Erebos. — Revelou entristecido.

— Erebos? Vivo? Como pode ser? — Disse desiludida. Na sequência, tomada por uma grande ansiedade, prosseguiu. — Filho. — Os olhos piscaram devagar. — Agora... você... é... meu legado... — E fecharam para não abrirem mais.

O restante do plasma terminou de escorrer, entranhando-se no solo e, antes que o inconsolável Chronos proferisse qualquer palavra, o invólucro de sua mãe se desintegrou, deslizando como areia entre os dedos.

No Tártaro, em uma câmara subterrânea diferente da anterior, Erebos intensificou seu brilho rubro e voltou a absorver a energia dos Titãs. Preciso tomar cuidado, pensou cauteloso. Não posso me exceder. Tenho de mantê-los vivos até fazer um novo corpo. Só assim poderei andar além do meu domínio. Em seguida, um grande número de pequenas rochas começou a se desprender das paredes e do teto. Rolando, elas se juntaram diante do Senhor do Tártaro, erguendo-se do chão em um amontoado com o formato de uma cabeça gigante.

Sozinho na terra, Chronos encarou a Cúpula Celeste com fúria, pois a vingança sobre Urano apaziguou apenas uma parte de seu ódio.

Logo depois, percebendo sua força finalmente se restabelecer a ponto de conseguir comandar o tempo, ele acendeu a aura e concentrou todo o seu poder em uma pequena esfera de energia, que surgiu expandindo na sua frente.