THEOGENESIS | Livro Um | Os Deuses e o Mundo

Capítulo 45 | Chama Interior

Quarto dia de vida de Zeus. Doze anos.

Deitado perto da margem sul do lago, Zeus abriu os olhos. Em seguida, ele mexeu as mãos lentamente, pois elas, assim como as demais partes de seu corpo, estavam doloridas. Depois, buscou apoio na parede para ficar de pé e, após alguns segundos, se soltou. Porém, mesmo tomando cuidado, suas pernas bambearam. Reagindo rápido, o Filho de Chronos estufou o peito e restabeleceu o equilíbrio.

— Hoje você não caiu. — Gaia disse aparecendo como espectro.

— Você sabe até quando vou crescer? — Zeus quis saber, incomodado.

— Não sei. Mas, você vai me pedir para aliviar a dor como fez ontem? — Ela perguntou pronta para avaliar a resposta.

— Não. — Ele falou esfregando os pulsos. — Acho que aguento. — E pôs as mãos na cachoeira, pegou um pouco de água e bebeu. Na sequência, apanhou um pouco mais e lavou o rosto.

— Ótimo. — Ela disse de maneira rígida. — Temos algo importante para fazer. — Anunciou intensificando o brilho castanho e, como um vulcão em erupção, expeliu seu plasma para todos os lados, revestindo o teto, as paredes e o chão até vedar a câmara totalmente.

Abismado, Zeus apenas contemplou aquele espetáculo luminoso.

— Como você sabe, a energia está presente em todas as coisas. — A Senhora da Terra prosseguiu. — Isso é possível por que ela se move pelo espaço em um fluxo constante, como se fosse um vento que nunca para de soprar. Dessa forma, a energia está sempre passando pelo seu corpo, preenchendo-o com a força necessária para que ele funcione.

— Você quer dizer que, para andar ou falar, eu uso a Energia do Universo? — O garoto perguntou, impressionado.

— Coloque a mão no peito e sinta a energia pulsando dentro de você. — Gaia ordenou.

Zeus seguiu a instrução e, ao confirmar o que ela estava dizendo, olhou boquiaberto para a Senhora da Terra.

— Se quiser fazer algo além das funções básicas do seu corpo, você precisa aumentar sua força, acelerando a pulsação. Quando isso acontece, a energia acumulada dentro de você emite uma luz que se propaga ao seu redor no formato de uma grande chama. A essa luz damos o nome de aura. — Gaia explicou se ajoelhando diante do garoto. — Zeus. — Disse olhando no fundo daqueles olhos curiosos e confiantes. — Chegou a hora de você acender sua aura.

— O que devo fazer? — Ele quis saber, ansioso.

— Feche os olhos.

Zeus obedeceu ao comando.

— Concentre-se em cada pulso dentro do seu peito.

O garoto franziu as sobrancelhas.

— Acompanhe os pulsos até que eles sejam a única coisa em seu pensamento.

Zeus apertou os lábios. Seus ouvidos passaram a latejar no ritmo da pulsação e a voz de Gaia ficou distante, como se tivesse sido abafada pela batida de um tambor.

— Sinta o próximo pulso antes mesmo dele acontecer.

O garoto esticou os braços para baixo, cerrou as mãos e juntou os pés.

— Acelere os pulsos. — Ela incentivou.

A batida do tambor aumentou a velocidade sem dar sinais de que iria diminuir ou parar. Zeus baixou a cabeça e chamas brancas arderam em seus punhos.

— Aumente a quantidade de energia que passa pelo seu corpo. — Gaia disse empolgada.

Com o peito pulsando cada vez mais rápido, as chamas subiram pelos braços do garoto, contornando-o por inteiro e acendendo uma aura bela e poderosa.

— Abra os olhos. — Gaia pediu serena.

Assim que Zeus afastou as pálpebras sua energia branca explodiu com violência, bateu contra o plasma da Senhora da Terra, que revestia a câmara, e foi absorvida. Assustado, o garoto quis dar um passo, mas caiu de costas no chão. Aflito, tentou levantar, porém o corpo não se moveu. Era como se uma força pressionasse seu peito, mantendo-o preso naquela posição. Desesperado, ele se esforçou para gritar pedindo ajuda, mas nenhuma palavra saiu de sua boca. Lágrimas escorreram pelos cantos dos olhos quando ele viu Gaia, com uma expressão fria no rosto, desaparecer, deixando-o sozinho no escuro. Sentindo-se vulnerável e abandonado, Zeus percebeu o cansaço querendo apagar seus pensamentos. Com medo, ele lutou para permanecer acordado, se perguntando por que Gaia fez aquilo. Contudo, o cansaço era forte demais e venceu o garoto.