44 - O AMOR ENROLADO / CERTEZA DA QUAL NÃO QUERO TER

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Estela

Não havia lados, não havia atrás, acima ou abaixo, só havia a minha frente!

Estava ventando demais, mas eu não permitiria que isso me atrasasse.

Sem me explicar, deixei minha tia para trás enquanto ela estacionava o carro próximo ao hospital. Não sei nem ao menos se ela proferiu algo, isso não me importava. Mais uma vez eu estava determinada! Mais uma vez eu estava com um único foco.

Diferente da outra vez em que eu não sabia onde Adriel estava, em que eu tentava argumentar com a recepção, com enfermeiros, com conhecidos, eu segui adiante no hospital. Passei pela recepção, mantendo-me concentrada, e como nos sonhos em que Mikaela me guiava por meio de suas luzes brancas, continuei. Não sabia como, apenas sabia, que tinha que virar à esquerda e subir para o andar de cima, antes de chegar ao final do corredor. Cheguei a pensar que estava indo para o quarto de Mikaela, mas, ao me aproximar, percebi que meu destino era o de frente ao quarto dela.

– Estela? – Daniel se levantou. Ele estava vermelho, olhos inchados, havia chorado muito...

Adriel estava com os olhos fechados, com um prong nasal para ajudá-lo a respirar, ligado a aparelhos que bipavam como os de Mikaela.

Eu me virei para Daniel percebendo sua aproximação e lhe pedi, com uma voz diferente da minha. Estava séria... estava decidida!

– Pode me deixar sozinha com ele?

O irmão me fitou curioso, mas não disse nada, apenas assentiu e saiu. Não era hora para explicações, o que eu acreditava que ele queria, mas havia algo mais forte, mais grave acontecendo.

Eu me aproximei devagar, não deixando de fita-lo. Ele não estava bem, mas eu sabia que estava consciente. Não sei como, mas sabia!

Sentei na poltrona ao seu lado direito e peguei em sua mão, sem nada dizer. Com minhas duas mãos, levei a dele até meu rosto e a beijei.

– Sua mão está fria... – Falei, por fim, enquanto mantinha a mão em meu rosto, olhos fechados, acariciando-me.

– Estela?

Levantei meus olhos de súbito e o observei sorrindo para mim. Nossos olhares se encontraram e ele mexeu os dedos da mão que eu ainda segurava, continuando a carícia voluntariamente. Sorri e abaixei os olhos. Lágrimas escorreram pelo meu rosto.

Após algum tempo Adriel levantou meu queixo, me forçando a vê-lo, e falou, mais sério:

– Preciso te mostrar uma coisa.

Ele estava com a voz fraca, mas eu ainda estava impressionada demais, feliz demais e, ao mesmo tempo, triste demais... O observei enquanto ele movia as duas mãos em busca de algo que parecia preso ao pescoço. Rapidamente me apressei para ajudá-lo. Era uma corrente que tinha um pingente de anel e... tinha algo mais ali! Algo envolvia o anel... Será que...? Enquanto eu observava o artefato, ainda confusa, ele falou:

– Natiel possui uma touca que diz que o protege, eu possuo esse anel.

– Mas... – comecei, mas ele me cortou:

– Você não percebeu, não é? – Adriel olhou para o teto, sorrindo, e continuou: – No dia em que tivemos aula de piscina, só nos dois, eu peguei um fio do seu cabelo.

Eu pisquei pela primeira vez que eu tenha tomado consciência. O que ele estava dizendo? Eu não podia acreditar... Não era outro sonho, era?

– Eu o enrolei nesse anel e não me separei mais dele – continuou. – É minha proteção, minha motivação e...

Ele não conseguiu continuar. A expressão de Adriel mudou, ele apoiou a mão no tórax, ele estava sentindo dor e eu comecei a sentir também.

– O que foi? Adriel? – Perguntei em pânico, mas ele não me respondeu. Os bips estavam muito altos. – Eu preciso de você Adriel! Por favor... Apertei a campainha de ajuda, gritei e segurei a mão dele novamente. Ele desfaleceu...

Freneticamente voltei a beijar-lhe a mão e repeti, por várias vezes, enquanto ainda segurava acorrente com anel na outra mão e os olhos bem fechados a fim de suprimir as muitas lágrimas: – Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo...

***

Emerson

Eu podia ouvir o agito no outro quarto, enquanto no de Mikaela nada mudava. Eu ainda não sabia se isso era bom ou ruim... Até chegarem os pais dela. Os dois, juntos! Era a primeira vez que os via juntos! Eles não pareciam muito bem...

– Olá senhores – cumprimentei, me levantando. – Aconteceu algo?

Eles não desviaram os olhos de Mikaela e começaram a chorar. Como se eu não estivesse ali eles passaram por mim e foram até ela. Um médico se aproximou e vi o olhar dele.

– O que está acontecendo doutor?

Ele já me conhecia e se compadecia de minha dor. Eu sabia que ele me responderia. Mas, ao invés disso, ele segurou em meu ombro e abaixou a cabeça, balançando-a em negativa. Empalideci!

Mikaela estava fazendo alguns exames nas últimas horas com muito mais frequência. Eu havia ouvido para que fim eles teriam, mas não acreditava em sua confirmação. Porém, naquele instante, eu pude ter a certeza da qual eu nunca quereria ter tido.

Mikaela havia tido morte encefálica. Ela não estava mais entre nós...

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Até breve, seus lindos. :'( 

<3

DEBILITADO - Livro 1 [COMPLETO] - Trilogia dos irmãos AmâncioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora