DEBILITADO - Livro 1 [COMPLETO] - Trilogia dos irmãos Amâncio

18 - SERIA MINHA VEZ? - Daniel

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Nos últimos tempos tudo estava estranho... Embora a minha rotina fosse a mesma desde... sempre, sair de casa já não era como outrora. Eu não entendia bem a causa dessa mudança toda. Tudo estava igual, mas... Acho que o problema estava em mim.

Eu, com 18 anos, esperei tanto por essa idade que pareceu chegar a passos de tartaruga, no entanto ao alcança-la, percebi que não sabia bem o que teria de fazer e a responsabilidade que abraçaria.

Minha mãe costumava acompanhar meus irmãos ao tratamento de Fisioterapia – que era mais frequente, consultas médicas e as atividades de piscina. Muitas vezes eu também os acompanhava, via e ajudava em tudo o que precisavam. Mas, após os 18 completos, minha mãe me outorgou toda a responsabilidade. Ela deixou de acompanhar em tudo o que se referia aos meus irmãos e passou a sair de casa com mais frequência nos deixando a mercê um dos outros.

Eu não estou reclamando de minha sorte, nem teria porquê. Eu não tinha o que meus irmãos tinham e por isso fui criado pensando mesmo que era minha obrigação para com eles auxiliar e o fazia de bom grado. Porém, algo em mim mudou...

Tudo começou quando Adriel, meu irmão mais velho, mudou de turma de piscina e precisei reajustar os horários, alterá-los no transporte da prefeitura e convencê-lo dessa mudança... Ah, como eu penava com esse meu irmão turrão.

- Eu não quero mais voltar àquele lugar – dizia Adriel emburrado, como sempre. – Eles não têm preparo algum para comigo.

Decidi chamar ajuda para convencê-lo disso e foi em um dia de Fisioterapia. Sabia que alguns dos estagiários frequentavam a academia do centro, então conversei com alguns até que um deles topou ajudar...

- Dando trabalho outra vez? – Zombou Jadir, um estagiário que já conhecia bem a figura de meu irmão. – Pode deixar que eu o convencerei.

Jadir fez gestos manuais como para representar um personagem macabro. Ele o torturaria, isso me pareceu bom e eu sorri...

Adriel não costumava dar ouvidos a muitos, somente a supervisora Fisioterapeuta da ala em que ele compartilhava com nosso irmão do meio Natiel – que também possui a doença, e ao Jadir – o estagiário que nos conhecia bem, pois já fazia um tempo considerável que ele os tratava.

Eu fiquei tranquilo e estava certo. Adriel saiu da sessão de tortura massageante convencido a voltar a academia, em horários e dias que poderia ter o auxílio do estagiário que lhe era quase um carrasco.

Mal sabia que minha vida mudaria após iniciar aquelas aulas de piscina...

Enquanto Natiel saía com amigos e tentava manter alguma vida fora daquela maratona de tratamento, pedi ajuda de Vando, nosso vizinho, e acompanhamos Adriel até as aulas. Minha presença era obrigatória em tudo que meu irmão fazia... Infelizmente ele estava em um período de risco e já havia tido alguns "surtos" nos últimos tempos que foram mais frequentes do que em épocas mais antigas.

Apesar de tanto, eu não costumava acompanhar meus irmãos enquanto se tratavam, então ao ajudá-lo a entrar no ambiente aquático eu me retirava e fazia alguma aula ou mesmo musculação. Porém, com a ida de Vando, não poderia fazer muito já que ele não estava inscrito na academia.

Conversávamos sobre motos, garotas, futebol – qualquer assunto que pudesse nos desviar de problemas até dar o horário de retirar Adriel.

Aproximamo-nos pouco antes da aula acabar naquele primeiro dia. Foi quando a vi e o meu mundo mudou. Sim, meu chão deixou de existir, meu coração eu ouvia nitidamente e estaquei por um tempo maior do que pretendera, até Vando me gritar por ajuda. Eu nunca me sentira assim...

Não pude ficar muito tempo, pois nosso transporte nos aguardava. Fomos com Adriel e o interpelei a respeito da aula:

- E aí? Como foi esse primeiro dia?

Adriel estava como sempre - focado em ser rabugento e assim me respondeu:

- Perda de tempo...

Abafei o riso, ele havia gostado da aula eu sabia, mas fui logo ao que me interessava:

- E os seus colegas de piscina? Já conhece todos? Os nomes?

Meu irmão podia ser o que fosse, ter debilidade no que fosse, mas ele tinha uma excelente memória e percepção. Ele fingia não prestar atenção, mas a tudo ele ouvia e sabia do que acontecia ao seu redor e, mais para meu azar do que sorte, ele pareceu se tocar do que eu falava...

- Esqueça Bruaco. Ela nunca se interessaria por você... – Falou me fitando e sorrindo de modo sarcástico. Eu o detestava!

***

Alguns dias se passaram e eu pude descobrir o que queria. Jadir era muito mais receptivo do que aquele carrancudo do meu irmão mais velho, mas eu não tinha coragem de tomar o primeiro passo, então liguei.

- Na academia... Encontre-me lá em meia hora, por favor – disse eu ao telefone de modo suplicante e afoito. Estela iria me encontrar, mas mal sabia que eu teria que adiá-lo e talvez, esquecê-lo.

- Daniel venha rápido – ouvi Natiel aos gritos. Estávamos em casa e quando Tôca falava daquele jeito, naquele ritmo, entonação, respiração entrecortada, amedrontado, enfim... Isso significava que Adriel não estava bem. E se foi outro "surto" eu sabia o que significaria. Eu precisava esquecer tudo o que eu queria para mim naqueles próximos tempos. Precisava chamar meus pais. O coração de meu irmão mais velho estava parando...

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Amor - Sabemos que Daniel já sabe o que é! Mas e agora? Como ter a própria vida? E Adriel? Será que sairá dessa? Fiquemos na torcida e até o próximo capítulo! 

Muito obrigada por todos os votos e comentários. <3