39 - EU VOU MORRER?

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Estela

Eu não estava enxergando visto a claridade que me cercava. Eu não precisava, porém, me perguntar onde estava, pois eu já havia estado ali e muito bem me lembrava.

Haviam vários tons de branco. Sim! Não existia apenas uma definição de "branco". Para muitos povos, como os esquimós, por exemplo; como para os índios que identificam vários tons de verde. Eu conseguia ver a diferença e naqueles sonhos eu me certificava desse fato.

Como não conseguia enxergar por além-luz fiz como me instrui da última vez. Vasculhei o meu redor com os olhos a fim de encontrar aquela junção de cores mais clara. Logo um feixe de luz branca "A" disparou indo em direção ao teto, o teto logo o devolveu e, ao atingir o solo, se direcionou para o meu oposto, assim foi redirecionado para a minha frente... Eu o segui.

Embora sempre ficava apreensiva, sabia que se eu estava tendo aqueles sonhos é porque havia algo que eu precisava saber; e ela me diria.

Chamei:

- Mikaela?

A impressão que eu tinha outrora era que o feixe de luz que me guiava partia rapidamente por diversas direções, mas, enquanto eu o seguia sua jornada era vagarosa, lenta, quase que caminhávamos juntos; como se fosse possível caminhar com algo tão intangível. Continuei chamando:

- Mikaela? Cadê você?

Após muito andar, o tempo nos sonhos funciona de modo diferente então não sei precisar, eu a avistei. Ela estava de costas, com um cabelo loiro claro que reluzia e seu comprimento atingia o solo; também usava um vestido de linho branco quase tão claro como o feixe de luz. Eu tinha a impressão que se muito olhasse ficaria cega... Será que minha retina seria danificada para valer? O feixe de luz tomou mais a dianteira, chegou até ela e lhe tocou a impulsionando um pouco para a frente como se alguém lhe tivesse empurrado; porém ela não se virou, nem se desequilibrou.

Tapei os olhos, a fim de protege-los, e chamei mais alto do que antes:

- Mikaela? Vire-se para que eu possa te ver!

Liberei alguns dedos de meu olho direito a fim de me certificar se ela me ouvira. Ela estava a cerca de cinco metros de mim, era perigoso eu me aproximar mais; na verdade, eu não conseguia passar dali. Não demorou muito para que eu percebesse uma movimentação, ela se virava lentamente.

- Que bom que você veio Estela – a ouvi dizer serenamente.

Liberei as mãos de meus olhos quando ela se virou totalmente. Sua aparência frontal não era tão ofuscante, sua face estava lânguida, algo a preocupava e eu fazia ideia do que era; isso me angustiava. Ela estava com os olhos fechados.

- Abra os olhos – pedi.

- Não sei se devo – ela pouco movia os lábios e sua voz saia baixa e harmoniosa.

- Por favor – insisti.

Ela abriu-os lentamente. Assim que o fez eu gritei e me prostrei. Gritei com muita força, mas não pude ouvir o som...

- Levante-se Estela – pediu mantendo a calma na fala.

Com um braço tocando o outro e me envolvendo, como um auto abraço e uma tentativa de me erguer utilizando das minhas próprias forças assim o fiz, mas mantive o semblante ao chão e os olhos fechados. Porém, por mais que os fechasse, não era a escuridão que eu via. Mesmo com a visão obstruída, tudo era branco... Vários tons de branco!

- Olhe para mim – solicitou.

Eu neguei com a cabeça, tremulando e em agonia que estava me consumindo de corpo e alma. Pensei que eu já estivesse mais forte para conseguir encará-la e saber o que ela tanto estava querendo me falar. Ela sempre fica em meias palavras, pois eu acabo não suportando todo aquele lugar e desperto atônita.

O primeiro sonho que tive com Mikaela foi logo na primeira noite da fazenda de meus pais. Embora o invólucro lembra a calmaria, a paz, eu me sentia completamente de forma oposta. Naquele sonho ouvi Mikaela me chamando, não chegando a vê-la e logo acordei.

Na noite seguinte sonhei novamente e pude suportar um pouco mais, porém só pude ouvi-la por pouco tempo. Ela parecia estar separada por uma parede de cristal transparente, mas ela logo desapareceu restando apenas a voz. Foi aí que ela me lembrou sobre Adriel, tudo o que ele passava e passaria... Eu não pude falar com ela nesta ocasião, não pude argumentar, questionar, o que ela queria afinal? Por que ela estava falando sobre Adriel para mim? O que ela estava tentando me dizer? Eu precisava saber mais. Mas, ao mesmo tempo, tinha medo... Muito medo! Ainda assim, tinha impressão que nunca mais dormiria em paz se não ouvisse tudo.

Era o terceiro sonho e eu já sentia minha energia sendo drenada. Eu não aguentaria por muito tempo... Ainda com a cabeça baixa, os olhos fechados, com vincos na testa, como se isso pudesse proteger minha cabeça de uma lancinante dor, voltei a falar:

- O que você quer me dizer Mikaela? Algo vai acontecer? – Minha voz saíra mais baixa.

- Olhe para mim – pediu novamente.

- Eu não posso! – Neguei quase aos prantos. Por certo choraria se tivesse mais energia. Eu estava quase me ajoelhando novamente.

- Olhe para mim. – Como um gravador ela solicitou outra vez.

Percebi que ela não me diria nada enquanto assim não o fizesse. Eu ainda não tinha conseguido ver o rosto dela nos sonhos e já havia demonstrado minha fraqueza. Mas, eu tinha medo. Temia olhar para ela e não conseguir voltar mais para a vida... A minha vida!

- Eu vou morrer? – Perguntei mantendo os olhos fechados, porém levantando um pouco a cabeça. Ainda me abraçava.

- Você não vai morrer Estela – a ouvi dizer em seu tom casual.

Por um momento me aliviei, deixei os braços caírem ao meu lado. Eu ainda estava de pé, embora com os joelhos um pouco flexionados; não conseguia estica-los totalmente, nem sair do lugar. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa mais, Mikaela prosseguiu sua premonição:

- Você vai passar por algo muito pior do que a morte.

Senti meu coração parar de bater e inchar. Uma dor imensa invadia meu peito e eu já não conseguia respirar. Ajoelhei-me e abri os olhos em desespero, mas não vi Mikaela. Um feixe negro estava me cercando. Tentei gritar, porém ele me envolveu mais e por completo até me sufocar. Era o meu fim...

Acordei de súbito. Estava transpirando tanto que parecia que eu havia corrido a maratona. Meu coração e respiração acelerados me faziam lembrar da adrenalina que acabara de passar. Peguei minha garrafa térmica com água, que eu deixava ao lado da cama, e a bebi. Fechei os olhos e contei lentamente, de forma crescente, a fim de fazer minha pulsação se acalmar. Assim que me abrandei, expressei-me:

- O que foi isso?!

Eu nunca tive um sonho desses.

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O que Mikaela quer informar a Estela? E o que seria pior que a morte? Acredito que a própria Mikaela já tenha respondido isso antes, mas será que a vida dela poderia se assemelhar de alguma forma a da Estela? Teria a ver com Adriel? 

Mais virá em breve. 

Obrigada pela leitura seus lindos!!! <3

DEBILITADO - Livro 1 [COMPLETO] - Trilogia dos irmãos AmâncioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora