26 - REFLEXO DA ALMA

3.3K 336 40
                                    

Adquira "Debilitado" na Amazon.com.br – com a versão estendida!

~~~~

Meus olhos estavam lacrimejantes devido ao acesso de tosse e, com a visão embaçada, observei quem se aproximava.

- Ah, oi Estela. Não sabia que estava aqui... – A voz, sem muito ânimo, era de Emerson.

- Olá. Eu já estava me retirando, minha tia deve estar me procurando. – Falei me levantando com certa euforia e pude observá-lo melhor.

Emerson não parecia estar muito bem. Os cabelos claros estavam desgrenhados, olheiras tomavam conta de seu orbicular, as roupas estavam um pouco amassadas e sua expressão estava baixa. Eu não precisava pensar muito para perceber o que lhe acontecia... Ele estava parecido comigo! Se eu o observasse atentamente, acredito que poderia me ver refletida nele naquele momento... Mas, como eu era covarde, preferi assim não fazer.

- Voltarei mais tarde – disse fitando seu nariz. Como resposta ele moveu a cabeça assentindo, mas sem se desviar de nossa amiga moribunda. – Em qualquer alteração de Mikaela me avise. Eu estarei perto.

A expressão de Emerson permaneceu. Ele parecia estar com a síndrome da estátua humana. Eu me preocuparia se não estivesse visível o esforço que seu peitoral fazia para elevar ao respirar.

Estava indo em direção a porta, mas, estaquei. Virei-me para observá-los novamente. Ora Emerson, ora Mikaela e meu coração apertou, como se alguém o estivesse comprimindo, esmagando... Senti um ímpeto de chorar.

Meu desafortunado amigo estava de costas para mim e eu coloquei a mão em seu ombro, sem muito pensar. Queria tentar lhe falar algo para o consolar, mas não consegui. Tudo o que consegui foi desprender de meus olhos grossas lágrimas de um choro silencioso...

***

Minha QUEriDA – Emerson

Tudo havia acontecido muito rápido.

Eu estava andando de bicicleta e a vi, mas não pude me aproximar porque eu estava em uma corrida com os cachorros da vizinhança que amavam perseguir minhas rodas. No início era algo que me incomodava, cheguei até a comentar com alguns dos donos daqueles cachorros que tentavam se desculpar, mas nunca conseguiam mantê-los presos. No entanto, por agora eu já estava adaptado a maratona com eles. Desconfio até mesmo que seus proprietários ficavam extasiados por não ter que correr com eles por aí... Eu já os cansava e animava bastante.

Porém, no dia em que vi Mikaela, de relance, me distraindo por alguns poucos instantes, me foi quase fatal. A velocidade com que eu pedalava era alta a fim de não ser alcançado pelos pets. Ao me distrair diminui o ritmo de pedaladas, mas sabemos que a correia, com os pedais, não cede ao nosso ritmo tão momentaneamente... Quando dei por mim, eu estava caído ao chão, com metade da bicicleta em cima e com meia dúzia de cachorros me lambendo como se eu fosse um sorvete de limão. Eu ri! Relaxei os braços e comecei a gargalhar.

Eu estava bem, e, embora minha bicicleta tenha sofrido alguns danos, acabei ganhando com aquela. Os donos dos cachorros pensaram que o acidente foi causado por eles e, então, me presentearam com uma nova e melhor do que a que eu tinha. Tentei dizer que não precisava, que não eram os culpados, mas eles insistiram. Confesso que acabei cedendo rapidamente também. Afinal, era uma Gonew endorphine 6.1 shimano de alumínio, com 21 marchas.

Eu estava contente pela nova bicicleta, claro, mas não conseguia esquecer o motivo de minha distração. Por sorte - com a minha loucura, do acidente eu não havia saído ileso. Próximo ao meu cotovelo direito havia um hematoma e toda vez que eu o olhava eu ria muito, sozinho, até me cansar e suspirar.

Logo voltei a pedalar pela mesma praça daquela vez esperando ver aquela garota passar, mas foi em vão.

Dias se passaram e, mal sabia eu que a encontraria em um dos lugares em que pouco imaginei que frequentaria – a academia dos boys. Eu vivia zombando dos caras que saíam de lá e foi num desses, quando eu decidi pedalar em linha reta e não em círculo, que eu a vi saindo de lá.

Entrei na academia a sua procura e percebi que estavam anunciando o início de novas aulas. Começaria na próxima semana aulas de boxe, dança do ventre, Yoga e natação. A vi e observei que ela se inscreveu em alguma dessas, pois estava em um folheto separado.

Eu, como todo ser humano ajuizado faria, me inscrevi em todas as aulas - atestando assim minha sanidade ou falta dela.

Logo descobri o grupo pela qual ela pertencia e deixei dos outros. Infelizmente, isso não foi suficiente para que deixassem de me gozar pelas aulas de dança... Mas, eu já não estava me importando.

Descobri seu nome e logo ficamos amigos. Compartilhamos, por um curto período de tempo, muitas coisas, mas eu não percebia a gravidade do que estava acontecendo...

Por que não percebi a tempo?

Para meu eterno sofrimento, um forte clarão me despertou. Foi o dia em que Mikaela foi atropelada – haviam tirado ela de mim.

Não consigo mais me encontrar. Tenho agido mecanicamente, como se eu não mais pertencesse a esse mundo. Fui envolvido de uma maneira que sinto que o ar tem me faltado. Nunca pensei que pudesse nutrir sentimentos tão profundos... A vida estava passando por mim como em vários flashes.

Eu estava voltando para o quarto no qual Mikaela estava hospitalizada. Era como se algo me chamasse, uma atração do tipo imã, quando percebi algo estranho. Levantei a cabeça e vi que havia alguém na porta do quarto olhando para dentro dele. Não se tratava de um profissional do hospital. Mas, por que não entrava? Por que estava parado ali? Por que... Ah, deixa pra lá! Nada importa e... Percebi que o semblante da pessoa havia mudado e fiquei observando, curioso. De repente uma das muletas que estava usando caiu. Percebi a dificuldade que tinha para conseguir pegá-la então me apressei em lhe ajudar. Dei-lhe a muleta e, assim que me viu, ao invés de agradecer, pareceu surpreso e logo apreensivo. Se retirou o mais rápido que conseguiu. Adriel era mesmo um sujeito estranho...

***

------------------------------------------------------------------------------------------------------

É muito difícil quando lidamos com a paixão - aquele sentimento que te toma por completo, te ascende, faz com que se sinta vivo como nunca. E aí pecamos! Com tamanho sentimento, pode ser que não consigamos ver com clareza tudo o que acontece ao nosso redor, mesmo quanto a pessoa que tanto estimamos. Será que é tarde para Emerson e Mikaela? E Para Estela e Adriel? 

Muito obrigada pela participação de todos os leitores. Desculpem a ausência na última semana. Acontece que iniciei um canal no Youtube referente ao escritor "Pedro Bandeira" (autor de "A Marca de Uma Lágrima", "A Droga da Obediência"...) e me tomou boa parte do tempo. Quem quiser conferir e se inscrever, deixarei o link no "link externo" e comentários. 

Até breve seus lindos! ;) <3

DEBILITADO - Livro 1 [COMPLETO] - Trilogia dos irmãos AmâncioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora